02 mai, 2024 - 16:00 • Alexandre Abrantes Neves
Dois dias depois de anunciar que março ia fechar com um défice orçamental, o ministro das Finanças reforçou esta quinta-feira que “as contas públicas estão numa situação muito pior do que o anunciado” – e, em grande parte, devido “ao eleitoralismo do último Governo”.
Na conferência de imprensa após o conselho de ministros desta quinta-feira, Joaquim Miranda Sarmento veio clarificar os números e explicar concretamente o que eram “as situações muito preocupantes detetadas nas contas públicas”.
A execução orçamental divulgada pelo Ministério das Finanças na última terça-feira falava de um resultado negativo em março de cerca de 300 milhões de euros – valor que Miranda Sarmento veio agora esclarecer que, afinal, pode ficar em cerca de 600 milhões de euros.
A razão para este ajuste no cálculo é simples: estima-se que ainda haja mais 300 milhões de euros, mas desta feita em dívidas contraídas pelo Estado a fornecedores – portanto, dinheiro que ainda está nos cofres públicos, mas que vai ter de sair em breve.
Quanto às razões para este desequilíbrio, o Governo é rápido a arranjar o culpado – o último executivo liderado por António Costa.
O Governo põe as culpas em cima do último executivo socialista por deixar uma situação nas contas públicas mais difícil do que o esperado – transformando um excedente de cerca de 1,2 milhões de euros num "buraco" nos cofres estatais.
Explicador Renascença
No início do ano foi anunciado um excedente de mai(...)
Segundo o ministro das Finanças, grande parte deste desequilíbrio deve-se à despesa excecional de mais de 1.080 milhões de euros aprovada nos primeiros três meses do ano – a esmagadora maioria já depois das eleições de 10 de março.
Por isto, o ministro das Finanças acusa o anterior Governo de “eleitoralismo” por aprovar medidas já depois das legislativas “sem acautelar a correspondente verba financeira” e pondo, assim, a saúde financeira do país em risco.
Quanto a estas medidas, ainda nem todas estão identificadas, mas Joaquim Miranda Sarmento sublinhou que o governo está a fazer um levantamento "exaustivo" de todas as decisões que foram feitas “sem cabimento orçamental”.
Terão a ver com vários ministérios - de acordo com o ministro das Finanças, só entre a demissão de António Costa em novembro do ano passado e a saída do poder, o anterior Governo terá aprovado 108 resoluções do Conselho de Ministros. Ainda assim, a equipa de Luís Montenegro já identificou três decisões que tiveram um impacto significativo nas contas públicas.
"O país não tem nenhum problema de natureza orçame(...)
Em causa, estão, desde logo, os apoios aos agricultores do Algarve e Alentejo aprovados em março e que significaram um gasto para o Estado de 100 milhões de euros. Na saúde, também uma verba de 100 milhões de euros para vacinas contra a Covid-19 terá sido aprovada sem “acautelar o impacto nas contas públicas”. Por fim, o titular da pasta das Finanças destacou ainda um pacote de 200 milhões de euros destinado à recuperação do parque escolar.
Estes são apenas três exemplos do que o governo diz serem várias medidas cujo levantamento ainda está a ser feito, mas que o executivo diz já terem levado a mais de mil milhões de euros de despesa excecional. Segundo Miranda Sarmento, este aumento levou até que já se tenha gastado parte da reserva provisional do Ministério das Finança – uma almofada financeira que, habitualmente, só é utilizada a partir do verão.
O Governo garante que “mantém o compromisso” do programa eleitoral, mas não esclarece se vai haver alterações ao que estava inicialmente previsto para resolver os problemas de várias classes profissionais, nomeadamente a recuperação do tempo de serviço dos professores e o subsídio de risco para a PSP e GNR.
Outro tema trazido pela alteração nas contas públicas foi a possível apresentação de um Orçamento Retificativo - que tem de ser submetido ao parlamento sempre que se quer mudar o orçamento em vigor e, eventualmente, adicionar despesas não previstas. Joaquim Miranda Sarmento remeteu a decisão para “os próximos meses”, consoante a informação que se venha a conhecer “nos próximos tempos”.