27 set, 2016 - 10:01
Bruce Springsteen lança a autobiografia "Born to run". O músico norte-americano descreve-a como "uma longa e ruidosa oração" sobre música, família, ambição, egocentrismo, persistência e depressão.
"Born to run" sai esta terça-feira em vários países, incluindo Portugal, e nas quase 600 páginas Bruce Springsteen, 67 anos, recorda, de forma cronológica, a vida privada e pública até à actualidade. O músico decidiu escrevê-la depois de ter atuado em 2009 com a E Street Band na Superbowl, a final do campeonato norte-americano de futebol.
No livro, Bruce fala sobre a educação católica em Freehold, Nova Jérsia, onde cresceu com uma família de ascendência italiana e irlandesa, e revela a relação tumultuosa com o pai, a quem foi diagnosticada esquizofrenia paranóica.
O músico faz um exercício de memória detalhado sobre os tempos em que decidiu, entre a infância e a adolescência, seguir caminho pela música, formando os Castiles, "épica escola primária do rock", e os Steel Mill, que tocavam "música pesada para a classe trabalhadora".
Uma ditadura benevolente
Só mais tarde formaria e lidera até hoje a E Street Band, onde reina uma "ditadura benevolente", à frente de músicos como o saxofonista Clarence Clemons, que morreu em 2011, o guitarrista Steve Van Zandt, o "principal conspirador do rock'n'roll", e a cantora Patti Scialfa, mulher e mãe dos três filhos do músico.
Bruce Springsteen recorda que a primeira canção que tocou numa guitarra foi "Twist & Shout", que ainda hoje inclui nos concertos, que "Born in the USA" é uma das melhores e mais incompreendidas canções do repertório e que foi com o álbum "Darkness on the edge of town" (1978) que encontrou a "voz adulta".
Bob Dylan, Rolling Stones, Van Morrison, Roy Orbinson, Elvis Presley são alguns dos "heróis" citados no livro e por várias vezes o autor diz que sempre quis ser uma voz que reflectisse a experiência e o mundo em que vivia.
"Cresci nos anos 60, pelo que a consciência social e o interesse pela política estão gravados no meu ADN cultural. Mas na verdade foram as questões de identidade que se tornaram proeminentes após o meu sucesso".
Uma voz que jamais ganharia prémios
Reconhece defeitos - é egocêntrico e controlador - e também limitações: "A minha voz jamais ganharia prémios. O meu acompanhamento com guitarra era rudimentar, por isso restavam-me as canções. As canções teriam de dar nas vistas".
"A minha escrita estava centrada nas questões de identidade - quem sou, quem somos, o quê e onde é a nossa casa, de que é feita a masculinidade ou a idade adulta, quais são as nossas liberdade e as nossas responsabilidades", relata em "Born to run".
Bruce Springsteen diz que escrever esta biografia foi "uma questão de honra" para com as várias gerações de fãs que o acompanham desde os anos 1960, e expõe o lado mais íntimo e pessoal, sobretudo a luta contra uma depressão crónica, descrita como "um derrame de petróleo", um "vulcão adormecido".
Para ele, que considera a sobriedade é uma "espécie de religião", a música funciona como o 'Santo Graal' da existência: Escrever, compor, cantar, gravar, planear e estar em palco.
A edição portuguesa do livro é da Elsinore e teve tradução de Maria do Carmo Figueira e João Reis.