24 set, 2016 - 12:03
Os médicos devem resistir à pressão dos pais que pedem fármacos para os filhos, diz o pediatra Mário Cordeiro, que recorda que nem todas as crianças que se mexem são hiperactivas.
Reagindo aos dados de um estudo do Conselho Nacional de Educação, que conclui que os alunos portugueses estão a consumir cada vez mais medicamentos específicos para a hiperactividade e défice de atenção, Mário Cordeiro começa por desdramatizar.
“Mais do que se aumentou ou diminuiu, é saber se realmente os que precisam estão a tomar e os que não precisam não estão a tomar”, diz.
Mas alerta também que “não podemos classificar todas as crianças que se mexem como hiperactivas.”
“O critério é não ir atrás das correntes da moda, não ir atrás da pressão que os pais fazem – antigamente era com as vitaminas, agora é com estes medicamentos. Mas sobretudo, se é mau uma criança precisar de estes medicamentos e não os ter, também será mau não precisar e estar a tê-lo porque os pais pensam que com aquela pílula mágica terá melhores notas ou conseguirá entrar na universidade”.
Por seu lado, o presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais, Jorge Ascensão, considera que as famílias devem estar atentas e ter mais informação sobre este tema, mas também fala de responsabilidade dos professores que sugerem medicamentos para controlar indisciplina na escola.
“Muitas vezes aquilo que vamos ouvindo sobre a indisciplina, leva-nos a pensar, então somos um país assim tão indisciplinado? Às vezes empola-se um bocado o que é uma situação perfeitamente normal de um grupo, e sabemos que às vezes as famílias são induzidas, aconselhadas, que os meninos são hiperactivos e que deveriam tomar alguma coisa, e procura-se uma solução para algo que não é problema. É normal, é assim”, conclui.
Mas esta é uma interpretação que Filinto Lima, presidente Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, rejeita.
“Nego porque o professor não é médico, mas reconheço que o professor pode indicar ao pai, até porque também é educador, que será bom para o aluno ser consultado pelo médico, não só por causa da hiperactividade, quando acha que pode haver, como em relação a outro problema de saúde, como a audição ou a visão.”
“Quantas vezes os professores reparam que o aluno vê mal e então pressionam – no bom sentido – os pais, para que ele consulte um oftalmologista”, afirma ainda Filinto Lima.