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"Não se pode ser ecologista sem se defender a vida humana"

31 ago, 2016 - 16:40 • Ângela Roque

O secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa destaca a importância do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que se assinala na quinta-feira.

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Respeitar o meio ambiente implica respeitar a vida humana, diz o secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), padre Duarte da Cunha. Católicos, protestantes e ortodoxos assinalam esta quinta-feira o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação.

“É importante a maneira como a Igreja e os cristãos falam da salvaguarda da Criação, que é sempre a recordação que existe um Deus criador. Não é um ambientalismo puro, quase panteísta, mas é esta afirmação de que o Homem, o ser humano, não é mais do que o administrador, o mordomo, o guarda da Criação, e que há um Senhor Deus que é, de facto, Aquele a quem nós devemos responder pelos dons que nos confiou”, afirma à Renascença.

Para além da preocupação óbvia com o futuro – “O que é que a gente vai deixar às próximas gerações?” –, o dia põe em evidência que "a vida humana também é parte da ecologia". "Não se pode ser ecologista sem se defender a vida humana em todas as suas fases, em todas as suas dimensões. Não se pode defender as plantas e os animais sem se defender a pessoa humana, e uma coisa leva à outra. Por isso esta unidade é o modo cristão de falar da Criação, e que é específico de quem tem fé”, explica.

Lembra que a protecção da natureza foi sempre uma preocupação da Igreja e dos anteriores Papas, mas diz que Francisco veio lembrar que acabar com as desigualdades sociais e com a pobreza também passa por aqui.

“Aquilo que o Papa Francisco traz novo à reflexão, e que complementa o que já vinha de trás, é esta responsabilidade, mostrar que cuidar dos dons é também partilhar esses dons com os mais necessitados”, e que usar os bens da natureza sem critério provoca “uma separação entre ricos e pobres cada vez maior.

Para este responsável do CCEE, Francisco desafia os cristãos a assumirem as suas responsabilidades: “O Papa põe-nos sempre diante de Jesus Cristo, diante da relação com Deus. E é nessa relação que nós temos que ir, responsavelmente, até ao fim das consequências do que é que isso significa. Se eu estou diante de Deus eu não sou o senhor, eu não sou o centro, eu não sou a referência última. Então os outros, os necessitados, os pobres, são o lugar onde eu manifesto este sair de mim mesmo para ir ao encontro dos outros. Por isso, o cuidar do ambiente é também esta sensibilidade para com Deus Criador e para com os outros”.

O secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa foi um dos subscritores do comunicado sobre este dia mundial de oração emitido em conjunto com a Conferência das Igrejas Europeias e com a Rede Europeia Cristã pelo Ambiente.

Lembra que há muitos anos que unem esforços nesta causa: “As igrejas cristãs europeias – quer a Igreja Católica, representada pelo CCEE, quer as outras igrejas cristãs tradicionais, sobretudo igrejas protestantes, as ortodoxas, a igreja anglicana e outras – há muito que trabalham juntos para saber como fazer e o que fazer para manter esta preocupação com a responsabilidade sobre a Criação e sobre o Deus criador, vivo na vida dos cristãos”.

Desde a Assembleia Ecuménica de 2007, na Roménia, que foi decidido “considerar o tempo da Criação de 1 de Setembro a 4 de Outubro, com liberdade para cada Igreja saber o que fazer nesta altura”. Em várias dioceses, de vários países, a Igreja Católica já tinha começado a aderir, mas foram sobretudo os ortodoxos a insistir com o 1º de Setembro porque “é o início do seu ano litúrgico, o Dia da Criação, o dia que recorda o Criador”, explica.

Em 2015, o Papa Francisco decretou que também para a Igreja Católica o dia 1 de Setembro devia ser universalmente considerado o Dia de Oração.

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