24 ago, 2016 - 06:50
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O padrasto do jovem agredido em Ponte de Sor por dois iraquianos admitiu que pode haver uma "terceira pessoa" envolvida na agressão, que terá sido "já interrogada" pelas autoridades.
"Há quem diga que estava um a gravar tudo [agressão], porque eles são três. Sei que já foi interrogado e ouvi dizer que já esteve na Polícia Judiciária (PJ), agora quem é não sei", disse à agência Lusa Marco Silva.
Na última quarta-feira, Rúben Cavaco, 15 anos, foi agredido em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, alegadamente pelos filhos do embaixador do Iraque em Portugal, gémeos de 17 anos.
O jovem alentejano sofreu múltiplas fracturas, tendo sido transferido no mesmo dia do centro de saúde local para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Santana-Maia Leonardo, advogado de Rúben Cavaco, disse à agência Lusa que o jovem saiu na manhã de terça-feira dos cuidados intensivos e que terá agora de ser submetido a uma "avaliação neurológica".
Os dois rapazes suspeitos da agressão são filhos do embaixador iraquiano, Saad Mohammed Ali, e têm imunidade diplomática. Perante esta situação, o padrasto de Rúben Cavaco disse hoje à Lusa que espera que "o Estado intervenha" no caso, mostrando-se "confiante" de que vai ser feita justiça.
"Eu espero que o Estado intervenha, porque desde que tenham imunidade parece que se pode andar por aí a matar pessoas. Eu estou confiante que isto vai avante e eles têm de ser punidos pelo crime que cometeram", defendeu.
Irmãos não estão arrependidos
Os gémeos iraquianos afirmaram na segunda-feira, em entrevista à SIC, que colaboraram com a polícia sem terem invocado imunidade diplomática e que permanecerão em Portugal até à resolução da questão.
Sobre a entrevista, Marco Silva afirmou que os dois irmãos "não estão arrependidos" do suposto ato que cometeram e que as suas declarações são uma forma de prepararem a sua defesa.
"Eles ao não ligarem para a família [do Rúben] é porque não estão arrependidos do que fizeram. Eles [na entrevista à SIC] estão é a defender-se, a preparar a defesa deles, que é absurda. Ninguém por levar quatro ou cinco murros vai saltar a pés juntos para a cabeça de outro, com intenção de o matar", afirmou.
Marco Silva acrescentou que os supostos agressores "dizem que estão à espera que o Ruben recupere, mas ainda nenhum deles, nem do nosso Governo", ligou para a família.
"É isto que eu não percebo, com tanto aparato e não houve ninguém, nem de embaixadas, nem do Governo, que ligasse. O único foi o Presidente da República, que ligou para o hospital", lamentou.
Justiça “mais lenta” que a comunicação social
O advogado de Rúben Cavaco disse que já pediu a consulta do processo e manifestou a intenção de colaborar com o Ministério Público (MP).
O advogado afastou para já a possibilidade de apresentar qualquer acusação particular contra os autores, por considerar que se trata de um "crime público" e, como tal, compete ao MP avançar com o caso.
Todavia, manifestou a intenção de colaborar com o MP, na descoberta da verdade dos factos.
"Já pedi a consulta do processo", sublinhou Santana-Maia Leonardo à agência Lusa, precisando que aquele "não está parado", mas observando que a "justiça é mais lenta do que a comunicação social".
Os menores foram detidos poucas horas depois do espancamento, mas depois de mostrarem o passaporte diplomático acabaram por ser libertados.
A Embaixada do Iraque em Portugal já apresentou a sua versão para o caso das agressões em Ponte de Sor. Alega que osfilhos do embaixador foram atacados, alvo de insultos racistas e responderam a agressões, sugerindo que agiram em legítima defesa.