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Casos de tráfico mais registados em Portugal são de exploração laboral

29 jul, 2016 - 07:23

Recrutamento é feito por anúncios, através de familiares ou pelo método "passa a palavra", utilizado para fins de exploração laboral, em que a vítima involuntariamente acaba por recrutar outras vítimas.

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Os casos de tráfico de seres humanos mais registados em Portugal estão relacionados com a exploração laboral, nomeadamente no sector agrícola, revelou a directora do Observatório do Tráfico de Seres Humanos (OTSH).

"Em Portugal, como noutros países, o que tem sido mais registado e também mais identificado é o tráfico para fins de exploração laboral, nomeadamente no sector agrícola", disse Rita Penedo, em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional contra o Tráfico de Pessoas, que se assinala no sábado.

A directora do OTSH, Rita Penedo, explicou que, pelo próprio 'modus operandis' deste tipo de exploração laboral, o número de vítimas é "quantitativamente maior", comparativamente a outras formas de exploração.

O relatório do OTSH, relativo a 2015, refere que 65% das situações de exploração laboral ocorrem sobretudos em áreas rurais, e que a maior parte das vítimas portuguesas no estrangeiro são exploradas na agricultura (48 casos em 2015).

No ano passado, foram sinalizados, em Portugal, 193 casos suspeitos de vítimas de tráfico de seres humanos (menos quatro face a 2014), 135 dos quais relativos a situações detectadas em Portugal e 58 a portugueses no estrangeiro, informa o documento.

Sobre o modo de recrutamento utilizado pelos traficantes, Rita Penedo explicou que são de vários tipos, desde anúncios, através de familiares ou pelo método "passa a palavra", utilizado para fins de exploração laboral, em que a vítima involuntariamente acaba por recrutar outras vítimas.

Estruturas familiares também fazem recrutamento

"Em regiões mais carenciadas ou com situações de exclusão social e taxas desemprego mais elevadas, a vítima pode conhecer familiares, amigos, vizinhos e involuntariamente" recrutá-los para situações de tráfico, explicou.

Em Portugal e noutros países, como Espanha e Roménia, são, por vezes, estruturas mais familiares a fazer o recrutamento "e não propriamente redes de crime organizado transnacional", observou.

Para Rita Penedo, a prevenção "é muito importante" para prevenir estes casos e evitar que as vítimas, depois de resgatadas, voltem a cair nestas redes, quando regressam aos seus locais ou países de origem.

"O retorno assistido" tem de ser "ainda mais consolidado e robustecido", porque as "situações de desespero levam, às vezes, que a pessoa tente novamente a sorte".

Para a responsável, a formação contínua dos profissionais que estão no terreno é essencial para saber reconhecer o crime e lidar com as vítimas.

Mas a sociedade também tem de "estar alerta" e denunciar este crime público, como já acontece com as situações de violência doméstica.

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