22 jul, 2016 - 01:17 • André Rodrigues
O atletismo russo está oficialmente banido dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A poucos dias do arranque da competição, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) rejeita o recurso de atletas russos e apoia suspensão que já tinha sido decidida pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
O caso foi desencadeado após as revelações contidas num relatório independente da Agência Mundial Antidoping que alega que o governo russo patrocinou - em sintonia com os serviços secretos - um esquema de dopagem de atletas em várias competições.
O Kremlin reagiu de imediato. Moscovo diz lamentar profundamente uma decisão "de contornos políticos" e que afecta todos os atletas do país. O porta-voz do Kremlin sublinha que "o princípio da responsabilidade colectiva não é de todo aceitável".
A tese é partilhada por Gustavo Pires. Em declarações à Renascença, o especialista da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa considera que a decisão de afastar o atletismo russo dos Jogos Olímpicos é “uma perseguição ao desporto sem qualquer sentido”.
“A ter alguma lógica, tinha que se avançar pelos mais diversos países, inclusivamente os Estados Unidos, na medida em que nada me diz que a tradição da dopagem norte-americana também não continue com produtos desconhecidos", afirma o perito português.
Gustavo Pires fala de "hipocrisia, não só por parte do Comité Olímpico Internacional", e lembra que as decisões da IAAF e do TAD já eram esperadas por alguns "países, sobretudo aqueles que têm tradição nas modalidades onde os russos ganham medalhas".
Esses adversários, sublinha, "já estão a fazer contas, porque na perspectiva neomercantilista que hoje envolve a política desportiva dos vários regimes, a luta pelas medalhas é uma questão fundamental da afirmação dos países sob o ponto de vista do regime político e da dimensão económica no mundo. E isso não tem nada a ver com desporto, mas sim com outros interesses que os dirigentes dos comités olímpicos, internacional e nacionais, não têm capacidade de gerir".
Bem diferente é a leitura do presidente do Comité Olímpico Português (COP). Em declarações à Renascença, José Manuel Constantino defende que "as decisões, tanto da Federação Internacional como do Tribunal Arbitral, são iminentemente desportivas".
Neste caso, José Manuel Constantino fala de uma decisão que "faz todo o sentido" e repõe a transparência competitiva, porque assegura que "os atletas que estão a participar estão limpos".
Mundial 2018 pode estar em risco
Enquanto isso, há alguns órgãos de comunicação sociais russos que admitem que este caso pode levar à perda do Mundial de Futebol de 2018.
Em declarações à Renascença, Rinat Valiulin, jornalista da Rádio Ecos de Moscovo, explica que o envolvimento do ministro russo do Desporto, Vitalyi Mutko, que é também o presidente da comissão organizadora da prova, pode, no limite, pôr em causa a organização russa.
"É pelo menos isso que avança a Rádio Fala Moscovo: a Rússia é capaz de não participar no Campeonato Mundial de Futebol de 2018, porque o comité de ética da FIFA iniciou o processo em relação ao ministro do Desporto da Federação Russa" que, de acordo com o relatório McLaren, apresentado a 18 de Julho, "apoiou e patrocinou o uso de doping na selecção nacional".
Caso o órgão máximo do futebol mundial confirme estas acusações, "a Rádio Fala Moscovo admite que a perda da organização do Mundial pode mesmo vir a acontecer", reconhece Rinat Valiulin.