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Reino Unido. Sai David, entra Theresa

13 jul, 2016 - 11:05 • José Bastos

“Brexit é Brexit”, garante a nova primeira-ministra do Reino Unido. “História não vai ser meiga para Cameron”, defende Bernardo Pires de Lima.

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“Ao final da manhã, chefiarei o meu último conselho de ministros. Depois irei à Câmara dos Comuns responder às perguntas da oposição. Mais tarde, ao final do dia, espero ir ao palácio de Buckingham apresentar a minha demissão para que na quarta-feira à noite o Reino Unido já tenha um novo primeiro-ministro”.

A agenda do dia foi apresentada pelo próprio David Cameron, logo após a desistência de Andrea Leadsom na corrida à liderança do Partido Conservador. Leadsom fora equivaleu a Theresa May sem oposição. A ministra do interior que apoiou Cameron na campanha pela permanência confessou-se “honrada” por conduzir o Brexit na nova fase da vida do país - longe da União Europeia.

“Não haverá novo referendo”, garante May. “Brexit significa Brexit. Não haverá tentativas de ficar dentro ou voltar pela porta das traseiras. O país votou pela saída e, como primeira-ministra, vou garantir que o Reino Unido sai da União Europeia”, certifica Theresa May.

Apesar dos apelos à reversibilidade do Brexit, “a mulher muito difícil”, na sua auto-avaliação em entrevista ao Daily Telegraph, deixa com este discurso “Brexit é Brexit” escassa margem de manobra para inverter a decisão do referendo.

Ao Telegraph, May defendeu ainda assim que a cláusula de saída só deve ser accionada em 2017. Mas tem Theresa May o CV ideal para negociar os termos do divórcio com a Europa?

Bernardo Pires de Lima. “Não tenho grandes expectativas em May”

“Espero que haja na senhora May um certo bom senso nas negociações com Bruxelas, porque é esse processo que vai determinar o futuro do Reino Unido no mundo. Mas não tenho grandes expectativas quanto às negociações e ao perfil para o cargo”, defende Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI).

“O referendo não é vinculativo. Legalmente não é vinculativo. Theresa May validou essa situação com a afirmação ‘Brexit é Brexit’, mas também é verdade que Westminster vai discutir a petição que pede um segundo referendo em Setembro”, prossegue.

“May vai à Convenção do Partido Conservador, em Outubro. É a personalidade que tem as melhores condições para fazer a ponte entre as várias sensibilidades em causa. A minha dúvida é saber se Theresa May é quem tem melhores condições para inverter a tendência de saída do Reino Unido e de negociar um bom acordo com Bruxelas”, indica Pires de Lima.

E do governo May será de esperar surpresas? Sim e muitas. O The Independent antecipa alguns cenários que, a confirmarem-se, não deixam de causar algum registo de ironia política. Michael Gove (traíu Cameron e Johnson) continua na justiça. Andrea Leadsom assume o ambiente. George Osborne, sempre fiel a Cameron, passa para os negócios estrangeiros e Phillip Hammond fica com as finanças. Já Boris Johnson passa da condição de ex-futuro primeiro-ministro a ministro da cultura, media e desporto.

“A História não vai ser meiga com Cameron”

David Cameron, 49 anos, primeiro-ministro desde 2010, terá lugar destacado nos manuais de história e de ciência política? Cameron cede o posto antes ainda do final de mandato como Thatcher a John Major em Novembro de 1990, mas as tentativas de comparar Theresa May com a dama de ferro esgotam-se neste elemento histórico.

“A História vai julgar Cameron como o líder que abriu a porta à retirada do Reino Unido da União Europeia por promessa eleitoral consequência do medo ao UKIP. Se essa porta será fechada ou não, não sei”, diz Bernardo Pires de Lima.

“Era preciso ter tido muito mais coragem e um discurso pelas vantagens da permanência, e não do medo, para termos encontrado em David Cameron um político à altura do momento – no Reino Unido e Europa - que se atravessa”, defende o autor do livro “Blair e o poder”.

“A História não vai ser propriamente meiga para com Cameron, embora muito esteja por contar, porque não sabemos ainda os termos do desenlace desta relação entre Londres e Bruxelas”, ressalva Bernardo Pires de Lima.

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