19 abr, 2024 - 08:53 • André Rodrigues
A retaliação de Israel contra o Irão “não é nada de novo” e "vai ser uma coisa pequena", admite à Renascença o presidente da Associação Luso-Persa para a Amizade e Desenvolvimento (ALPAD).
Radicado no Porto desde 2009, Mohammad Nikdel defende que os acontecimentos do último fim de semana, que estão a ser classificados como um ataque iraniano sem precedentes contra Israel, “não foram um ataque, foram uma resposta” ao ataque lançado por Israel a 1 de abril contra o consulado iraniano, em Damasco.
Apesar da retórica e do constante clima de mútua provocação entre Teerão e Telavive, Mohammad diz acreditar que um conflito de larga escala não será do interesse de nenhum dos atores envolvidos.
“É mais fogo de artifício do que outra coisa, há muito jogo em tudo isto, mas é claro que isto é muito preocupante para povo, que quer paz, quer estabilidade”, refere.
Atualmente, Mohammad é doutorando de Relações Internacionais e Ciência Política e dá aulas na Universidade do Minho. Até sair do Irão foi jornalista: “A política não nos deixa em paz. Em 2005 fecharam o meu jornal”.
Mas o assunto é imediatamente autocensurado: “acho que não precisamos muito de falar sobre isso”.
Para Mohammad Nikdel, este novo passo na escalada das tensões regionais é a consequência do facto do Irão ser um país capturado pela propaganda do regime e querer “cerrar os dentes”, dando a entender aos seus apoiantes “que pode enviar uma mensagem muito séria a Israel… só que eu acho que isto não é nada sério… é quase uma brincadeira”.
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Enquanto isso, este docente de Relações Internacionais admite que a tensão entre Israel e o Irão é uma boa notícia para Putin e Netanyahu: “estão muito felizes”, porque, segundo diz, os acontecimentos dos últimos dias desviaram as atenções do mundo das guerras na Ucrânia e, até, em Gaza.
Assistindo a todos estes acontecimentos à distância, o presidente da ALPAD diz sentir-se “exilado… o corpo está aqui a alma está lá”.
“Tenho lá o meu pai, a minha mãe. A minha família vive há 400 anos em Teerão. Mas depois da revolução islâmica, passamos a ter bastante família em todo o mundo… América, Londres. Somos bastantes exilados”, lamenta.
Resta a Mohammad Nikdel a esperança na persistência do povo iraniano que, não obstante a repressão, “quer uma mudança”. Mesmo que os sinais que chegam da vizinhança sejam muito pouco animadores.
“Quando olhamos para outros países da região, como o Iraque ou a Síria, percebemos que a situação é muito má, porque eles perderam a democracia e perderam a segurança”, acrescenta.
Ainda assim, este iraniano em Portugal gosta de usar esta imagem, como sinal de esperança: “o Irão é como uma mulher grávida que vai dar a nascer uma criança… que essa criança seja a democracia”, conclui.