12 mar, 2016 - 13:55
O líder do CDS-PP apelou hoje aos eleitores que preferem o CDS, mas que costumam votar útil no PSD, que deixem de ter medo de votar "na sua primeira escolha" porque o sistema partidário mudou desde as últimas legislativas.
Depois de ter deixado um agradecimento ao líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e ex-parceiro da coligação, Paulo Portas não hesitou no seu discurso perante o 26.º Congresso do CDS-PP que decorre em Gondomar, e que marcará a sua saída do partido, em apelar ao voto dos que tradicionalmente escolhem o PSD nas urnas.
"Aos eleitores de centro-direita (...) que se reconhecem mais nas ideias do CDS, mas nos últimos dias [antes das eleições] deixam a sua primeira escolha e migram para a segunda escolha, com medo, digamos francamente, que o PS ganhe ao PSD, esse medo deixou de ter razão de ser", afirmou.
Avisos à "Geringonça"
Paulo Portas recordou que o actual primeiro-ministro, o socialista António Costa, não venceu as eleições legislativas de 4 de Outubro.
"O que conta não é o partido que fica em primeiro lugar o que conta a partir de agora é quantos deputados somam os partidos que podem formar maioria, ou seja, os deputados que o CDS conseguir eleger são absolutamente determinantes, escolham à vontade a vossa primeira opção", apelou.
Para Paulo Portas, "não é de excluir que a `geringonça` venha a ser vítima da sua própria medicina".
"É a vida, o sistema partidário mudou para sempre com esta inédita experiência, da era do voto útil no PSD, à era do CDS como o partido cujo voto conta e muito, eis uma grande e assinalável diferença", defendeu.
Ataque aos "syrizinhas de cá"
Na hora da despedida, o líder do CDS-PP acusa o Bloco de Esquerda, que chamou de "syrizinhas de cá", de falharem o apoio à Grécia, perante a possibilidade de o Parlamento português não conseguir aprovar os compromissos internacionais inscritos no Orçamento.
De acordo com a manchete de hoje do jornal "Público", o parlamento português está em risco de chumbar as ajudas à Grécia e à Turquia, inscritas no Orçamento, e noticia que o PSD já anunciou que vota contra.
"Mas então nós perguntamos, não nos andaram a azucrinar com o lindo que era o Syriza, não andaram a intrujar o povo com a ideia de que o Syriza era o fim da longa noite da austeridade da Europa?", questionou Paulo Portas, no seu discurso perante o 26.º Congresso do partido, que decorre em Gondomar (Porto) até domingo.
Cristas é "um par de mãos seguras"
Paulo Portas agradeceu a todos no partido e até à oposição e manifestou esperança na nova geração e na nova liderança do CDS, que será protagonizada por Assunção Cristas.
Na passagem da pasta, Portas elogiou a sua sucessora. "Querida Cristas. Há uma expressão dos ingleses que define muito bem aquilo que representas: 'A safe pair of hands'. É exactamente aquilo que muitos portugueses esperam de ti, que sejas um par de mãos seguras para tratar bem Portugal".
Portas contra "judicialização da relação entre Portugal e Angola"
Neste discurso de quase uma hora apelou aos órgãos de soberania para evitarem "a tendência para a judicialização da relação entre Portugal e Angola", considerando-a "um caminho sem retorno" e procurarem "em todas as frentes o compromisso".
"É um apelo dirigido aos órgãos de soberania, porque é deles a atribuição, para terem isto presente, para se lembrarem destes factos, e para, dentro do que a Constituição dispõe e a lei impõe, evitarem a tendência para a judicialização da relação entre Portugal e Angola - esse seria um caminho sem retorno -,e procurarem em todas as frentes o compromisso", apelou Paulo Portas.
Também criticou o Banco de Portugal por não tem conseguido adquirir competências que o habilitem a vender bancos e continua a ter "falhas significativas" na supervisão.
"Eu acho que a resolução é melhor para os contribuintes do que a nacionalização, mas dito isto, é preciso acrescentar, com a naturalidade de quem está a expor o problema, que o Banco de Portugal não tem conseguido instalar competências e capacidades transaccionais, que o habilitem a vender bancos, que é uma das suas tarefas recentes, e continua a ter falhas significativas na área da supervisão", afirmou.
Portas disse estar "à vontade" para aquelas considerações, já que aceitou a recondução do governador, Carlos Costa, "apenas e só" porque se estava "em plena venda do Novo Banco": "Essa venda ainda não aconteceu. Eu acho que é importante que cada um saiba perguntar-se a si próprio se é parte da solução ou parte do problema".
O que vai fazer Portas, agora?
Sobre o seu futuro, o líder cessante do CDS não abriu o jogo e deixou tudo em aberto.
“Não se preocupem com a pergunta o que ele vai fazer daqui a dez anos”, começou por dizer, numa alusão ao calendário das eleições presidenciais.
“Qualquer especulação superior a seis meses é no mínimo um atrevimento”, rematou Paulo Portas no 26.º congresso do CDS-PP.