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Mãe de aluno morto em praxe começou a ser julgada por difamação

23 mai, 2016 - 21:38

Arguida explica que nomeou suspeitos baseada no inquérito. O objectivo era não "deixar cair no esquecimento" a história do filho.

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A mãe de um aluno morto numa praxe da tuna da Universidade Lusíada de Famalicão, que começou esta segunda-feira a ser julgada por nomear, em órgãos de comunicação, os suspeitos da morte do filho, disse que nunca quis "difamar" ninguém.

"O meu objectivo não era difamar ninguém, nem ofender a honra fosse de quem fosse, falei naqueles nomes porque eram os que constavam do processo-crime [que foi arquivado] e o que pretendia ao dar as entrevistas era não deixar cair o assunto no esquecimento e saber quem matou o meu filho", explicou à magistrada do Tribunal da Maia, no distrito do Porto.

A arguida, de 62 anos, está acusada de quatro crimes de difamação, tendo o assistente - que foi arguido no processo-crime do homicídio do filho - pedido uma indemnização de 120 mil euros por, numa das entrevistas, o apelidar de "assassino".

Em 2001, o filho da arguida, aluno da Universidade Lusíada de Famalicão, morreu na sequência de uma praxe, tendo o tribunal considerado provado, apenas em 2009, que a causa da morte foi uma pancada na nuca com uma revista e condenado a universidade a pagar à mãe uma indemnização de 90 mil euros.

Contudo, os culpados directos nunca foram encontrados e o processo-crime foi arquivado por falta de provas em 2004.

A arguida explicou que deu as entrevistas em 2014, na sequência da Tragédia do Meco, onde faleceram seis estudantes alegadamente vítimas de praxes violentas, e a pedido dos diferentes órgãos de comunicação com o objectivo de não "deixar cair no esquecimento" a história do filho.

"Tive acesso ao processo-crime onde constavam os nomes de dois tunos [membros da tuna] como suspeitos da morte do meu filho, por isso, o que disse foi com base no que li", explicou.

E realçou: "o meu filho, sempre que ia em digressões com a tuna, os outros roubavam-lhe boxers, meias e camisas e eu sei disso porque era eu que lhe fazia e desfazia a mala".

Além disto, a arguida acrescentou que, mais do que uma vez, deixaram o filho nu e seminu longe de casa, tendo confidenciado à irmã que era "muito humilhado".

Na noite do crime, a arguida explicou que o filho estava a jantar quando recebeu uma chamada telefónica e, antes de sair de casa, disse ao pai que "ia só resolver" a vida dele na tuna, voltando já.

O assistente no processo, tuno de 39 anos, explicou que decidiu avançar com uma queixa por estar "saturado" de o seu nome ser "sistematicamente" falado na comunicação social sempre que acontecem episódios trágicos nas praxes académicas.

"Nos dias da primeira reportagem, em 2004, onde eu testemunhei, estive semanas e meses sem sair de casa por era apontado na rua", frisou.

Acrescentando ter tido "problemas académicos, pessoais e profissionais" por a arguido o ter chamado de "assassino", em entrevistas em 2014.

"Sou acusado de coisas que não fiz, agora até uso barba e cabelo mais curto para não ser reconhecido", vincou.

Confirmando a existência de praxes, nomeadamente a realização de flexões, o tuno ressalvou que ele também havia passado por isso enquanto caloiro.

A advogada de defesa, Sónia Carneiro, salientou que a mulher, como mãe, continua à procura da verdade e da justiça, não sendo a sua intenção de lesar a honra das pessoas em concreto, mas descobrir os culpados pela morte do filho.

Já o advogado do tuno, Eduardo Magalhães, ressalvou que a vida dele tem sido um "inferno" porque tem sido perseguido por algo que nunca fez.

Comentários
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  • Rodrigo
    24 mai, 2016 porto 12:16
    Algum dos suspeitos é filho de um juiz?
  • jose ferreira
    24 mai, 2016 paraíso dos criminosos 10:43
    Este país é mesmo uma miséria de valores. Os criminosos ficam impunes e os familiares das vitimas ainda têm que ser castigados. Este país me mete nojo.
  • Antunes
    24 mai, 2016 Portugal 01:41
    120 mil euros, já agora quais foram os nº do euro milhões que dá isso. Isso é puro exagero. A vida dele tem sido um inferno, coitado, a vida de todos os portugueses também, e nunca ninguém pediu 120 mil. E a mãe que perdeu um filho, como é. Será correto estar a haver lamentações de um lado, e o outro. pois é. Srs advogados e não só, tenham mais consciência. Difamações, etc... 120 mil euros, para fazer o quê, deixar de trabalhar, se calhar é para dar todo a instituições de caridade. Haja bom senso.
  • EU
    24 mai, 2016 00:37
    Acho que nem se deveria fazer comentários a uma situação destas... Apenas vou dizer que já era tempo de se acabar com esse resquício de Idade Média.
  • AP
    24 mai, 2016 00:01
    Isto pode parecer um bocado salazarista, mas penso que há uma boa solução para estes problemas, criar uma estrutura de comando como na tropa. Aí quando há abusos ou problemas, sabe-se quem é responsável. As praxes no inicio eram uma maneira de integrar as pessoas, em Coimbra funcionava (e penso que ainda funciona), tens um padrinho/madrinha de praxe que te explica como as coisas funcionam, e ajuda quando é preciso. Agora é diferente, vais para uma universidade ao lado do liceu onde andaste, normalmente privada, sem grande tradição, aparece sempre o «sargento» mandão...
  • Luis
    23 mai, 2016 FARO 23:10
    Na verdade , a justiça Portuguesa está contaminada de gente que a utiliza para encher as barrigas de euros , parasitas da sociedade que pegam em tudo para a bem ou a mal ( veja-se o caso de Braga ) extorquirem euros de qualquer maneira e feitio . Em 90 % dos ARQUIVAMENTOS de processos existe realmente CRIMES e CULPADOS , só que por vezes , uma virgula ou um erro fora do Código Processo Penal , permite aos CRIMINOSOS safarem-se com os ARQUIVAMENTOS da moda , antes eram as AMNISTIAS do Papa ou PRESCRIÇÔES ... ARQUIVAR não quer dizer : NÂO EXISTE CRIME OU CULPADOS , quer dizer : TIVERAM SORTE EM NÃO SEREM PRESOS !
  • Sobrevivente
    23 mai, 2016 lisboa 22:49
    Proíbam-se as praxes!
  • Antonio Ribeiro
    23 mai, 2016 Paredes 22:18
    O filho morre e ainda é processada, - só mesmo neste país, tenham vergonha

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