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Investigadores provam ligação entre o Zika e a microcefalia

11 fev, 2016 - 20:39

Já no Brasil acredita-se que pode haver vacina contra o vírus em menos de um ano.

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Um grupo de investigadores eslovenos diz ter conseguido provar a relação entre o vírus Zika e a microcefalia ao investigar o caso de uma grávida eslovena que foi infectada durante uma estada no Brasil.

Mara Popovic, do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Liubliana, anunciou em conferência de imprensa na capital eslovena que o vírus foi encontrado nos neurónios do cérebro do embrião da mulher, contagiada no início da gestação.

Fica assim demonstrado que o Zika ataca sobretudo as células nervosas do feto, segundo Popovic, e confirmam-se as fortes suspeitas dos especialistas sobre a relação da microcefalia com o vírus.

Os últimos dados das autoridades sanitárias do Brasil, o país mais afectado, com entre 440.000 e 1,3 milhões de infecções pelo Zika, apontam para um assinalável aumento do número de recém-nascidos com microcefalia na região nordeste do país.

O Governo brasileiro declarou mesmo, no ano passado, um alerta sanitário perante o aumento de casos de microcefalia em bebés recém-nascidos, devido à suspeita de poderem estar associados ao vírus, o que agora se comprovou.

Tatjana Avsic Zupanc, do Instituto de Microbiologia e Imunologia, indicou que o feto pode ser contagiado com o vírus em qualquer fase da gestação, mas que os danos mais graves ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, noticiou a agência eslovena STA.

Os investigadores eslovenos garantem ter comprovado que os danos no sistema nervoso central, relacionados com o contágio durante a gestação, são consequência da reprodução do vírus no cérebro do feto.

A investigação que prova que o vírus pode passar da mãe infectada para o cérebro do feto e causar microcefalia foi publicada na revista médica The New England Journal of Medicine.

Como explicou a directora da Maternidade de Liubliana, Natasa Tul Mandic, a prova fez-se com uma grávida eslovena que esteve no Brasil durante o primeiro trimestre de gestação e regressou em seguida à Eslovénia.

No último trimestre da gravidez, em Outubro passado, foram detectadas por ecografia muitas irregularidades no desenvolvimento do feto e da placenta, pelo que se iniciaram as investigações, embora então não houvesse ainda qualquer suspeita de que se tratasse do Zika.

Devido aos maus prognósticos e aos graves danos no cérebro do feto, a mulher decidiu interromper a gravidez.

A autópsia e as investigações posteriores confirmaram que os problemas no desenvolvimento do cérebro do feto se deviam à infecção pelo vírus, com o qual a grávida tinha sido contagiada e que tinha transmitido ao embrião através da placenta.

Na investigação, participaram vários investigadores -- dirigidos por Tatjana Avsic Zupanc -- da Faculdade de Medicina de Liubliana, da Clínica de Ginecologia e dos Institutos de Patologia e Microbiologia.

Um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Liubliana, Marijan Ivanusa, confirmou hoje que a investigação representa "uma peça excepcionalmente importante no 'puzzle' para provar que o vírus Zika realmente pode causar microcefalia".

Contudo, segundo o responsável da OMS, a investigação não representa algo "dramaticamente novo", já que não existem medicamentos nem vacinas contra o Zika e a única coisa que resta é recomendar a protecção contra os mosquitos.

"A dificuldade é que é impossível recomendar a milhões de mulheres nas regiões em que o Zika está mais presente que não engravidem. É importante que as mulheres dessas regiões se defendam dos mosquitos e se protejam das suas picadelas, e que os médicos controlem as mulheres em gestação e se os fetos se estão a desenvolver normalmente", frisou.

Vacina dentro de um ano

Entretanto, o ministro da Saúde do Brasil acredita que a vacina contra o Zika pode ser desenvolvida dentro de um ano. Segundo Marcelo Castro, o prazo diz respeito ao projecto que será desenvolvido por uma parceria entre o Instituto Evandro Chagas, no Estado do Pará, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

"Poderemos desenvolver a vacina num tempo menor do que o que estava previsto. Em aproximadamente um ano poderemos ter a vacina desenvolvida", disse o ministro.

O ministro brasileiro acrescentou que o Brasil investirá, nos próximos cinco anos, 1,9 milhões de dólares (1,67 milhões de euros) no projecto.

Marcelo Castro recordou ainda que a experiência das duas instituições em pesquisas relacionadas com doenças causadas por vírus semelhantes como a Dengue, Chikungunya e Febre Amarela, deve ajudar a reduzir o tempo para a formulação de uma vacina contra o Zika.

O início dos testes não significa que a vacina será usada para imunizar a população naquele período, porque antes precisa de ser testada e aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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