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Educação: dos rankings às políticas

16 dez, 2015 - 06:40

Lamentavelmente, continua a existir no país uma cultura que vê no simples acto de examinar uma manifestação de autoritarismo a abolir. Ora os exames, para alunos e professores, não são instrumentos de “fascismo escolar”; são operações normais e regulares de aferição pedagógica e científica de conhecimentos e competências, que favorecem e estruturam uma cultura de avaliação e de mérito. Todos ganham com isto.

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Os resultados anuais dos rankings das escolas básicas e secundárias do país, agora vindos a público, continuam a revelar dois aspectos macro: primeiro, que os estabelecimentos privados ocupam as melhores posições; segundo, que o sucesso escolar – individual ou por turmas – é tanto maior quanto a escola, privada ou pública, fornece um ambiente estável, com corpo docente competente, coeso e motivado, leccionação de qualidade e exigência, apoios pedagógicos flexíveis e adaptados a cada necessidade, e em geral uma cultura de cultivo permanente (entre alunos e professores) do saber. Seria desejável, como todos os especialistas concordam, que a chamada “política educativa”...não tivesse política.

Ou seja, que houvesse sobre a escola e o muito que ela significa para o país um compromisso alargado e estável entre todos os partidos. Sobretudo, era importante que não se estragasse o que, apesar de muitas contrariedades, o sistema educativo vai fazendo bem. É por isso – e em face dos dois aspectos acima destacados – que tenho de criticar uma tendência (que vai talvez aumentar nos próximos tempos), e algumas medidas legislativas recentes.

A tendência, muito do agrado da esquerda, é a de diabolizar os privados, que na sua maioria educam bem quem está a seu cargo. Ora, em vez de combater a sua existência, em nome de uma noção errada de igualdade, melhor seria que o Estado reparasse no “serviço público” que eles prestam e que, na forma do “cheque-ensino” ou outra, permitisse a todos uma verdadeira liberdade e possibilidade de escolha por aquilo que é melhor.

Isto não significa financiar os privados e desistir da escola pública. Esta precisa de ser cuidada, e ninguém esquece o quanto, muitas vezes, as origens sociais dos alunos viciam as classificações dos rankings. Significa, tão só, não hostilizar quem produz boa obra educativa – que poderia (e poderá) até servir de estímulo e de modelo para experiências curriculares e políticas de investimento do Estado nas escolas que gere directamente.

Quanto às medidas legislativas, refiro-me à recente abolição, por iniciativa do bloco das esquerdas parlamentares, dos exames do 4.º ano para os alunos e da PACC (a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competência) para os professores. Lamentavelmente, continua a existir no país uma cultura que vê no simples acto de examinar uma manifestação de autoritarismo a abolir. Ora os exames, para alunos e professores, não são instrumentos de “fascismo escolar”; são operações normais e regulares de aferição pedagógica e científica de conhecimentos e competências, que favorecem e estruturam uma cultura de avaliação e de mérito. Todos ganham com isto.

Ganham os alunos sujeitos a exame, porque desde cedo começam a habituar-se a momentos de avaliação, com o que isso implica de responsabilidade, auto-exigência e treino emocional. Ganham os professores sujeitos a prova, porque a aferição de competências os obriga a rever e a actualizar conhecimentos, pedagogias e dedicações à profissão. E ganham as escolas e a sociedade, porque assim se aumenta a qualidade, a exigência e a publicidade dos resultados da educação. Repare-se que não discuto modelos técnicos, mas princípios. Talvez os exames dos vários níveis de ensino tenham de ser repensados, bem como os conteúdos e condições de realização da famosa PACC; mas usar o poder político para favorecer o facilitismo e a fuga à avaliação não me parece um caminho de futuro para uma área como a educação, sem a qual não haverá futuro.

Comentários
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  • Pedro
    10 fev, 2016 Ferreira 10:12
    Eu sou aluno há uma data de anos e pela minha experiência ao longo de todos eles é que não há um interesse do governo e das entidades competentes em saber e perceber quais são as opniões dos alunos face a este assunto. O governo apenas se preocupa com as boas aparências e os números que irá mostrar depois à Europa seja em que campo for, e venha quem vier as escolas privadas são usadas para manter esse jogo de falsidades, os bons resultados aí obtidos devem se apenas às condições económicas e financeiras dos pais desses alunos que permitem que estes tenham horas infindaveis com aulas de explicação para ficarem com as cabeças formatadas, para que cheguem aos exames e mostrei competências e uma intelegência que não têm. Quanto à outra prova que foi referida no artigo penso que essa sim devia continuar ser aplicada, de forma mais justa claro, não para docentes que acabaram de sair da universidade mas para professores já com alguns anos de carreira uma vez que existem docentes que podem até ter todas as competências mas ensinar e passar conhecimento de forma simples e correta não é certamente uma delas... Em conclusão e como aluno penso que os exames deviam ser repensados e tornarem-se mais justos e serem utilizados como instrumento de avaliação das escolas e não como forma de separar realidades de alunos, já que a educação é um direito e igual para todos, que seja mais que uma frase uma realidade neste país de aparências...
  • António Costa
    16 dez, 2015 Cacém 10:08
    Os exames nacionais, apenas criam uma referência. Um ponto de referência. Não se destinam a tornar as pessoas mais ou menos espertas. Com uma referência a nível nacional pode-se perceber melhor o que se passa, com o ensino em Portugal. Os exames Nacionais são apenas mais uma "ferramenta" para se perceberem melhor as diferenças entre as escolas, as regiões, os alunos.......
  • Antoniu Oliveira
    16 dez, 2015 Leiria 10:01
    Ainda bem que a opinião do autor fala de "exigência", "qualidade", "todos ganham", "liberdade de escolha do que é melhor", associado à inevitável realização de exames. Fala de rankings e do facto dos exames constituírem "operações normais e regulares de aferição pedagógica e científica". Referindo aferição e avaliação, no mesmo parágrafo, como sequência de ideias. Fiquei confuso!! Bom, por tudo isto, eu não chamaria a este texto, uma opinião. Eu chamaria antes: confusião. Sem formalismos lexicais ou semânticos. Sem enfases ou maniqueísmos: 1. Exame - é o produto final. Ponto!! Eerminou. E o resultado é... 2. Aferição - é comparar, verificar, apreciar, avaliar (no contexto)... 3. "Exigência"? Não é verdade que as escolas com resultados inferiores tenham menos exigência, compromisso, trabalho, ou empenho do que as escolas com melhores resultados. 4. Com exames, "todos ganham", diz o autor. - Claro que sim!!(irónico) Eu imagino o que fariam 20 alunos(as) de etnia cigana (com muito respeito, mas conhecendo a sua falta de motivação e expetativa face à escola) de uma escola pública, nos 80 alunos examinados de um colégio privado. Aí, todos nós daríamos: Vivas à exigência, à "liberdade do que é melhor" e ao "todos ganham". Mas o pluralismo é isto mesmo. É dar um microfone a quem não sabe do que está a falar ou dar um teclado a quem não conhece sobre o que é que está a escrever. A terminar eu diria que o melhor é mesmo continuarmos a aferir as opiniões, pois se as avaliássemos ...

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