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Medicamento essencial para tratamento de cancros em rutura desde abril

10 mai, 2024 - 06:00 • Anabela Góis , João Malheiro

Medicamento em causa é o Fluorouracilo. O Hospital de Guimarães e a Unidade Local de Saúde do Alto Ave já tiveram de ajustar os esquemas terapêuticos a alguns doentes e ativar planos de contingência.

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Um medicamento essencial para o tratamento de cancros está em rutura desde os meados de abril e as reposições de stock podem só começar em junho.

O Hospital de Guimarães e a Unidade Local de Saúde do Alto Ave, como confirmou a Renascença, já tiveram de ajustar os esquemas terapêuticos a alguns doentes e ativar planos de contingências.

Já foram concedidas pelo menos 11 autorizações de utilização especial deste medicamento em rotulagem em língua estrangeira, ou seja, há muitos hospitais a tentar obter novos abastecimentos de stock.

Abastecimentos que só serão repostos a 11 de junho pelo laboratório Accord e, talvez, só a 1 de julho pela Hikma.

À Renascença, o oncologista Paulo Cortes explica que o medicamento em causa é o Fluorouracilo, uma solução injetável de 50 mg/ml, e entra "muitas vezes em vários esquemas de combinação de quimioterapia".

"É um medicamento que realmente é parte integrante de muitos esquemas terapêuticos. Por exemplo, para o cancro do cólon e do reto, quer em fases iniciais quer, sobretudo, em fases mais avançadas. É um medicamento importante em alguns casos de cancro de mama. Enfim, é transversal a vários esquemas de tratamento", esclarece.

O também presidente do Conselho Científico da Sociedade Portuguesa de Oncologia diz que a rutura deste fármaco, "barato e que é eficaz", é grave. Há algumas alternativas, como o medicamento oral Capecitabina, mas não em todos os casos.

E, como refere, há esquemas de tratamento feitos a contar com o Fluorouracilo e, portanto, não o podem substituir. "É a mesma coisa que nós estarmos a fazer uma determinada receita, e não termos um ingrediente fundamental para essa mesma receita", acrescenta.

Paulo Cortes aponta o preço acessível como um dos motivos das constantes ruturas, porque já perderam a patente e são produzidos em países terceiros. E o problema não afeta só Portugal, mas igualmente o resto da Europa e do mundo.

"Aquilo que nós queríamos era que houvesse produção, é importante que se diga que não é um medicamento tecnologicamente difícil de produzir e que justificava que fosse tomada uma posição conjunta a nível Europeu para poder obviar a esta situação de falha destes medicamentos que ocorrem para este e para outros fármacos que são produzidos fora do espaço europeu, muitas vezes em países terceiros . Nós não podemos estar dependentes de fornecedores que podem deixar de fornecer estes fármacos. Enfim, não acho que seja admissível. Acho que devia haver aqui uma estratégia pensada a nível global", defende.

E enquanto não há stock? O oncologista diz que a solução passa por ajustes, mas nunca adiamentos de tratamentos.

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