13 jan, 2016 - 18:54 • João Carlos Malta
Na última terça-feira, numa acção de campanha em Portalegre, Marcelo Rebelo de Sousa quis pôr um ponto final na capacidade de a campanha poder alterar as intenções de voto (que lhe são favoráveis). Marcelo valorizou o contacto com o povo ("É muito importante esta proximidade") para a seguir dizer que "em rigor não caça votos nenhuns". Porquê? "As pessoas já têm na cabeça o voto ou não voto".
"À distância de dez, nove, oito dias já ninguém muda de voto”, disse Marcelo. A Renascença quis saber se é mesmo assim. Será que a partir de agora os portugueses já não mudam a intenção de voto ou não voto?
Dois especialistas ouvidos pela Renascença, Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e João António, responsável pelas sondagens políticas da Universidade Católica, desmentem a tese do candidato Marcelo Rebelo de Sousa.
“As várias indicações que temos vão no sentido contrário”, avança Pedro Magalhães.
“O que as sondagens mostram é como as intenções vão mudando. Temos várias histórias de eleições em que as intenções de voto variam bastante nos últimos dez a 15 dias. Quantos dias exactamente, não sei”, argumenta João António.
Pedro Magalhães sublinha que sobre as presidenciais não há estudos concretos sobre o momento em que se consuma a opção definitiva de voto, mas há pelo menos as várias sondagens publicadas durante o tempo e que ajudam a perceber as flutuações. Por isso, reporta-se primeiro às conclusões de estudos sobre as legislativas.
“Quando perguntamos às pessoas quando é que tomaram a decisão de votar ou não votar, nós temos um número muito relevante de pessoas que dizem ter tomado a decisão final na última semana”, revela.
Decisão nos últimos dias
O universo que deixa para os últimos dias a decisão, garante o especialista em sondagens, em algumas eleições já chegou a 25%. “Há inclusivamente quem decida no próprio dia”, defende.
“Há pessoas que mudam a opção de voto até bem perto das eleições”, corrobora João António.
Magalhães alerta que o material disponível para análise são relatos que as pessoas fazem do próprio comportamento e não há forma de verificar. “Mas temos a indicação que há uma percentagem significativa de pessoas que escolhe perto do final da campanha”, adverte.
No entanto, tal não significa, que “isto altere o resultado”. “Se estas pessoas que decidem no final se distribuírem da mesma maneira do que os que o fizeram antes não se notará diferença nenhuma. Mas nem sempre é assim”.
O factor "muitos candidatos"
O especialista do Centro de Sondagens da Universidade Católica argumenta que é difícil comparar estas eleições com outras no passado porque “nunca tivemos tantos candidatos”. E “muitos destes candidatos não eram conhecidos, pelo que usam a campanha para se tornarem visíveis”.
“Isso pode fazer com que pessoas que achavam que não iam votar e passam a simpatizar com um candidato passam a votar. E isso mexe com as percentagens dos outros candidatos”, diz. Ou seja, é um factor adicional que pode aumentar a imprevisibilidade da distribuição de votos e uma variável que se acrescenta à possibilidade de os eleitores deixarem para o fim da campanha a decisão final.
“Há ainda uma outra maneira de olhar para isto”, defende Pedro Magalhães. É um olhar sobre as sondagens. As do passado.
“Verificamos que ao olhar para quase todas elas, a dez dias das eleições tendem a mudar, não só nessa semana como até em relação ao resultado eleitoral final. Nas eleições de 2006, em que Cavaco ganhou pela primeira começou com 70% e acabou quase com 50%”, relembra.
Os exemplos sucedem-se como pode ser visto e analisado nos gráficos da tese de mestrado realizada no Instituto de Ciências Sociais, Miguel Maria Pereira, em 2011 ( “As eleições presidenciais através das sondagens”).
Pedro Magalhães conclui que as campanhas “fazem diferença até bastante tarde”.
Em conclusão, este especialista acrescenta que nestas eleições as mudanças de opinião em relação ao candidato preferido “podem fazer a diferença para haver ou não uma segunda volta”.