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Leia excertos do novo livro do Papa, "O Nome de Deus é Misericórdia"

10 jan, 2016 - 09:00

Quando está diante de reclusos Francisco sente que ele próprio também merecia estar preso. Uma das revelações do novo livro do Papa, que é editado na terça-feira.

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Na terça-feira é lançado em todo o mundo o mais recente livro do Papa Francisco, "O Nome de Deus é Misericórdia", resultante de uma longa entrevista com o jornalista Andrea Tornielli.

Ao longo de vários capítulos, Francisco analisa o conceito de misericórdia, tema central do seu pontificado e a que recentemente decidiu dedicar um jubileu extraordinário, que começou a 8 de Dezembro, prolongando-se até Novembro deste ano.

No livro, do qual a Renascença publica aqui alguns excertos, Francisco escreve que o sentimento de vergonha diante da misericórdia de Deus é uma graça, compara os conceitos de pecado e de corrupção, dizendo que não são sinónimos, e confessa que quando está diante de reclusos sente que ele próprio também merecia estar preso.

Pode ler aqui alguns excertos do livro, que é lançado mundialmente na terça-feira, em simultâneo em 86 países. Em Portugal, a edição está a cargo da Planeta.


A vergonha é uma graça

“Posso ler a minha vida através do capítulo 16 do livro do profeta Ezequiel. Leio aquelas páginas e digo: mas tudo isto parece escrito por mim. O profeta fala da vergonha, e a vergonha é uma graça: quando alguém sente a misericórdia de Deus, tem uma grande vergonha de si próprio, do seu pecado.

(…)

Aquele texto de Ezequiel ensina a sentires-te envergonhado, faz que te possas envergonhar: com toda a tua história de miséria e de pecado, Deus permanece fiel a ti e ajuda-te a levantar. Sinto isso.

(…)

Penso no padre Carlos Duarte Ibarra, o confessor que encontrei na minha paróquia a 21 de Setembro de 1953, no dia em que a Igreja celebra o São Mateus apóstolo e evangelista. Tinha dezassete anos. Senti-me recebido pela misericórdia de Deus quando me confessei com ele. (…) Morreu no ano seguinte. Ainda me lembro que depois do seu funeral, quando regressava a casa, me senti como se tivesse sido abandonado. E chorei muito naquela noite no meu quarto. Porquê? Porque perdera uma pessoa que me fazia sentir a misericórdia de Deus.”

- do capítulo I


Merecia estar preso

O Papa é um homem que precisa da misericórdia de Deus. Disse-o sinceramente, inclusive perante os prisioneiros de Palmasola, na Bolívia, perante aqueles homens e aquelas mulheres que me receberam com tanto afecto. Relembrei-os de que também São Pedro e São Paulo estiveram presos. Tenho um especial carinho pelos que vivem na prisão, privados da liberdade. Fiquei muito ligado a eles, por esta consciência do meu ser pecador. De cada vez que entro numa prisão para celebrar uma missa ou para uma visita, tenho sempre este pensamento: porquê eles e não eu? Devia estar aqui, merecia estar aqui. A sua queda poderia ser a minha, não me sinto melhor do que os que tenho perante mim. Por isso repito e rezo: porquê ele e não eu? Poderá impressionar, mas consolo-me com Pedro: renegara Jesus e apesar disso foi escolhido.

- do capítulo IV


A Igreja como hospital de campanha

Porque existe o pecado no mundo, porque a nossa natureza humana está ferida pelo pecado original, Deus que nos doou o seu Filho, só se pode revelar como misericórdia.

Deus é um pai zeloso, atento, pronto para acolher qualquer pessoa que dê um passo ou que tenha o desejo de dar um passo na direcção de casa. Ele está ali a observar o horizonte, espera-nos, está já à nossa espera. Nenhum pecado humano por muito grave que seja pode prevalecer sobre a misericórdia ou limitá-la.

Acompanhando o Senhor, a Igreja é chamada a transmitir a sua misericórdia a todos os que se reconhecem pecadores, responsáveis pelo mal praticado, que se sentem necessitados de perdão. A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus. Para que isso aconteça, repito-o muitas vezes, é necessário sair. Sair das igrejas e das paróquias, sair e ir procurar as pessoas onde elas vivem, sofrem, esperam. O hospital de campanha, a imagem com a qual gosto de descrever esta situação “Igreja em saída”, tem a característica de estar onde se combate: não é a estrutura sólida, dotada de tudo, onde se vai curar as pequenas e grandes doenças. É uma estrutura móvel, de primeiros socorros, de intervenção imediata, para evitar que os combatentes morram. Pratica-se a medicina de urgência, não se fazem check-up especializados. Espero que o Jubileu Extraordinário faça emergir cada vez mais o rosto de uma Igreja que redescobre as entranhas maternas da misericórdia e que vai ao encontro de muitos “feridos” necessitados de compreensão, perdão, amor e de serem ouvidos.

- do capítulo V


Pecado v. Corrupção

A corrupção é o pecado que em vez de ser reconhecido como tal e de nos tornar humildes, se ­tornou sistema, torna-se um hábito mental, uma forma de vida. Não sentimos necessidade de perdão e de misericórdia, mas justificamo-nos e aos nossos comportamentos. (…) O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado por motivo da sua fraqueza, encontra novamente perdão quando reconhece que necessita de misericórdia. O corrupto, por sua vez, é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua dupla vida provoca escândalo.

(…)

Embora muitas vezes se identifique a corrupção com o pecado, na realidade trata-se de duas realidades diferentes, apesar de interligadas. O pecado, sobretudo se reiterado, pode levar à corrupção, mas não quantitativamente – no sentido que um determinado número de pecados não fazem um corrupto –, quando muito qualitativamente: criam-se hábitos que limitam a capacidade de amar e levam à auto-suficiência. O corrupto cansa-se de pedir perdão e acaba por acreditar que não deve pedir mais. (…) Uma pessoa pode ser uma grande pecadora e no entanto pode não ter caído na corrupção. Aludindo ao Evangelho, penso no exemplo das figuras de Zaqueu, de São Mateus, da samaritana, de Nicodemo, do bom ladrão: nos seus corações pecadores todos tinham alguma coisa que os salvava da corrupção. Estavam abertos ao perdão, o seu coração pressentia a sua fraqueza, e isto foi a abertura que permitiu entrar a força de Deus. O pecador, ao reconhecer-se como tal, de alguma forma admite que aquilo a que aderiu, ou adere, é falso. Por sua vez, o corrupto esconde aquilo que considera o seu verdadeiro tesouro, aquilo que o torna escravo, e disfarça o seu vício com a boa educação, arranjando sempre uma forma de salvar as aparências.

- do capítulo VII

Comentários
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  • Celso
    15 abr, 2016 Portugal 19:15
    O Papa Francisco é o que Jesus Cristo quer que seja, nestes tempos conturbados do mundo e da igreja. Não foi por acaso que foi eleito, ele que ninguém tinha pensado eleger - mas é o Espírito Santo quem conduz o rebanho, apesar de os humanos pensarem que esta eleição é como coisa política. Não foi por acaso que Bento XVI resignou – ele próprio confessou que foi Jesus quem lho sugeriu! O erro dos humanos de hoje, é que só querem ver tudo pelo lado racional, por isso apanham com tantas surpresas pela frente! Toda a doutrina que o Papa insiste em colocar nos nossos ouvidos diariamente, não é nada de novo, só que estava toda esquecida; e Jesus Cristo quer que nos coloquemos em dia com Ele – é tudo muito claro – basta acompanhar e ler as Mensagens de Jesus ditadas à Vassula, ou as mensagens de Nossa Senhora aos videntes de Garabandal… "Para aqueles que crêem, nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que não crêem, nenhuma explicação é possível."(S. Inácio de Loiola). Dêmos graças a Deus pelo Papa, e por todos os Papas do séc XX, que bem conhecemos.
  • LIDIA LACEIRAS ARGEN
    21 jan, 2016 BUENOS AIRES CAP 19:47
    ME ENCANTAN ESTAS LECTURAS------PASO EL DIA LEYENDO
  • lino lia traveira
    18 jan, 2016 cidade de quelimane 18:29
    gostei de ouvir a mensagem que o papa deixa porque as veses confundia que o corrupto fosse mesmo que o pecador.
  • Maria José Alves daS
    14 jan, 2016 Montes Claros Mg 16:26
    Com certeza vou ler este livro,vejo o papa Francisco não só como um der humano admirável.Mas ele é a luz que Deus enviou nesse momento para acalentar os corações dos feridos. Que o senhor possa enviar mais luz como essa para esse mundo sofrido.Obrigada Deus por mais esse presente para a humanidade,Continue senhor iluminando e fortalecendo esse seu filho chamado por nos de papa Francisco.
  • Nuno
    13 jan, 2016 Guarda 22:38
    Para quem tem duvidas este livro é mais uma prova da apostasia de Francisco, que é um falso. Em vez de esclarecer só vem confundir a cabeça das pessoas. Chegar ao ponto de dizer por outras palavras que a corrupção é mais grave do que o pecado, sendo que a corrupção é um pecado, mas não será dos mais graves. Como disse Nossa Senhora a Jacinta, que o pecado da carne é o que mais leva as almas para o inferno!! Em La Salette disse Nossa Senhora que Roma perderia a fé e se tornaria na sede do anticristo! A Igreja não muda, o que era à 2000 anos é igual nos dias de hoje, porque Deus também não muda! São Francisco de Assis: "...um homem não canonicamente eleito será elevado ao Pontificado, que, com sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte. “Então escândalos se multiplicarão, a nossa Ordem será dividida, e muitas outras serão totalmente destruídas, porque consentirão o erro em vez de o combater." "...pois naqueles dias Nosso Senhor Jesus Cristo lhes mandará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor.” Ana Catarina Emmerich: "Formou-se um corpo, uma comunidade fora do Corpo de Jesus que é a Igreja: uma falsa Igreja sem Redentor, na qual o mistério é não ter mistério." "Eles construíam uma grande igreja, estranha e extravagante; todo o mundo tinha que entrar nela para unir-se e possuir os mesmos direitos; evangélicos, católicos, seitas de todo o tipo: o que devia ser uma verdadeira comunhão dos profanos onde não haveria mais que um pastor e um rebanho..."
  • Admir Cristiano Barr
    13 jan, 2016 Bissau: Guiné-Bissau 09:34
    Papa Francisco é um inspirador; todas as vezes que lança uma mensagem mexe comigo. espero que os fieis cristãos aproveitem das mensagens desse santo Homem de Deus que está fazendo muitas interpelações a cada... que suas mensagens sirvam de remédios para as nossas almas feridas pelas desgraças do pecado... que o todo Poderoso lhe ilumine sempre com o seu espirito. bem haja!!!
  • Filipe Janota
    12 jan, 2016 Luanda Angola 11:14
    O meu comentário, refere-se particularmente a este pequeno resumo do livro. Acredito que o papa Francisvo, como um servo e primeiro resentante da igreja católica como qualquer resentante de outra religiões, teve ou tem a missão de posicionar-se como um ser humano que diante dele está o pecado que as vezes não conseguindo evitá-lo pelo feito outros, sente-se a cometer por isso, estando na posição dele assume-se como primeiro para que possa salvar o dos outros. Da mesma forma Jesus aceitou morrer na cruz para salvar a humanidade. Obrigado.

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