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Bastonário dos Médicos lamenta arquivamento dos casos de mortes nas urgências

07 out, 2015 - 10:49

Os médicos estavam a "trabalhar além dos seus limites e em circunstâncias difíceis". Foram abertos oito inquéritos após a morte de doentes que, no último Inverno, aguardaram muitas horas nos serviços.

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O bastonário da Ordem dos Médicos lamenta que a Inspecção-geral das Actividades em Saúde não tenha instituído processos disciplinares aos conselhos de administração dos hospitais na sequência das mortes nas urgências no Inverno passado.

José Manuel Silva comentava, em declarações à agência Lusa, as notícias do arquivamento dos oito inquéritos abertos após a morte de doentes que, no último Inverno, aguardaram muitas horas nos serviços de urgência hospitalares, avançadas dois jornais matutinos.

Os jornais adiantam que a Inspecção-geral das Actividades em Saúde (IGAS) arquivou os inquéritos, por "não haver matéria para processos disciplinares", e propôs "mudanças de natureza administrativa".

O bastonário da Ordem dos Médicos lamentou que a IGAS não tenha instituído processos disciplinares aos conselhos de administração dos hospitais e aos directores clínicos das instituições em causa, para avaliar responsabilidades.

"A IGAS deveria ter avaliado as suas responsabilidades, que são objectivas nestas situações, porque os conselhos de administração dos hospitais e as direcções clínicas não prepararam adequadamente os seus serviços de urgência para uma situação que em todos os invernos é previsível: o aumento da procura dos serviços de urgência e da necessidade de internamento", explicou.

Plano de contingência e os cortes excessivos

José Manuel Silva considerou também que o Ministério da Saúde deveria apresentar já um plano de contingência para o próximo Inverno.

"O MS deveria apresentar já um plano de contingência para o próximo Inverno. Um plano para o aumento do número de camas hospitalares, de contratação de profissionais para os serviços de urgência e de flexibilização de horários nos cuidados de saúde primários, que no passado inverno foi feito tarde por causa dos cortes excessivos impostos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS)", adiantou.

Na opinião do Bastonário, este arquivamento dos inquéritos "era previsível, pois os hospitais não estavam preparados adequadamente devido aos cortes excessivos".

"Contudo, queria também sublinhar a estranha coincidência de, só três dias depois das eleições, ser divulgado o relatório do programa nacional de vigilância da gripe 2014/15. Certamente, não será só uma coincidência, e veio demonstrar o enorme excesso de mortalidade que houve este inverno, essencialmente devido à gripe e ao frio como acontece em todos os invernos, mas que este ano atingiu um pico tremendo", disse.

Segundo o responsável, a Ordem já esperava que não houvesse responsabilização dos profissionais directos. "Coitados. Estavam a trabalhar para além dos seus limites e em circunstâncias difíceis. Agora, deveriam ter sido instituídos processos disciplinares aos conselhos de administração e às direcções clínicas", concluiu.

As mortes ocorreram entre o final de Dezembro de 2014 e as três primeiras semanas de Janeiro nos hospitais de S. José (Lisboa), Santa Maria da Feira, Setúbal, Peniche, Santarém, Aveiro e Garcia de Horta (Almada) numa altura em que [em plena epidemia de gripe e vaga de frio] muitas urgências viviam uma situação caótica devido ao pico de procura.

Comentários
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  • Alberto Martins
    07 out, 2015 Lisboa 14:36
    Claro. A abertura dos inquéritos foi apenas para servir de alibi e dar a ideia de que se teria tratado de falhas dos profissionais de saude. Quando toda a gente sabe e sabia que o problema foram os cortes cegos na saúde muito para além do que a troyka tinha exigido. Estar a acusar as administrações seria o mesmo que acusar o ministro macedo e o governo de passos/portas por negligência criminosa. Mas aparentemente ainda há muitos votantes que gostaram dos cortes do governo que provocaram a desgraça das pessoas para tapar buracos dos roubos de colarinho branco...continuem.

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