Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

​Belmiro de Azevedo e a independência

29 nov, 2017 - 16:54

Francisco Sarsfield Cabral, jornalista da Renascença e ex-director do "Público", destaca a "nula interferência editorial" de Belmiro de Azevedo no jornal de que era proprietário.

A+ / A-
Belmiro de Azevedo. O capitalista que citava Marx
Belmiro de Azevedo. O capitalista que citava Marx

Morreu um dos grandes empresários portugueses do Portugal democrático, posterior ao 25 de Abril. De origem humilde, tornou-se um dos homens mais ricos do país.

Nesta terra onde secularmente predomina a dependência em relação ao Estado, nomeadamente da parte de empresários e gestores, Belmiro era um homem ferozmente independente, que quase tinha gosto em colocar o Estado em tribunal. O seu “império” empresarial, que criou milhares de empregos, nada ficou a dever a favores de políticos, bem pelo contrário – basta pensar na OPA lançada em 2006 por Belmiro sobre a PT, frustrada pelo poder político (primeiro-ministro Sócrates). Tivesse ele ganho e a PT não teria chegado à desgraça presente.

Em 1990 surgiu, por iniciativa de destacados jornalistas, um diário que iria dar um impulso decisivo à melhoria da qualidade da Imprensa nacional: o “Público”. Mas esse grupo de jornalistas precisava de apoio empresarial – por isso recorreu a Belmiro de Azevedo, que aceitou.

Ao contrário do que tantas vezes se vê, em Portugal e no mundo, o proprietário do “Público” jamais interferiu na linha editorial do seu jornal. Posso testemunhá-lo pessoalmente, não apenas como leitor do “Público” desde o primeiro número, mas também como director que fui daquele jornal durante breves meses – mas que chegaram para confirmar a nula interferência editorial do seu proprietário.

Creio que esta era uma atitude inteligente de Belmiro de Azevedo. Percebeu que, para o seu jornal ter prestígio e autoridade – como aconteceu –, precisava de o livrar de quaisquer suspeitas de ser um instrumento para os fins empresariais, ou outros, do seu proprietário. Portugal deve a Belmiro de Azevedo ter tantos anos financiado um jornal como o “Público”, sem dele se servir para os seus negócios.

O primeiro trabalho de Belmiro na Sonae. "Destruir para recriar"
O primeiro trabalho de Belmiro na Sonae. "Destruir para recriar"
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Amora
    30 nov, 2017 Fig Foz 13:30
    Cortaram o meu testemunho sobre uma faceta pouco conhecida, porque sistematicamente abafada, do Belmiro Azevedo..., o que é lamentável e revela a censura de uma rádio que se diz católica..., faz-me lembrar o PRAVDA.
  • Alexandre
    30 nov, 2017 Lisboa 07:21
    Francisco Sarsfield Cabral, comentador «de serviço» da Renascença.
  • Pedro Silva
    29 nov, 2017 Lisboa 19:31
    Nula interferência editorial? Essa é muito boa.

Destaques V+