01 mai, 2024 - 23:17 • Alexandre Abrantes Neves
Por mais anos que passem, há quem faça questão de sair sempre à rua. Laura Carvalho tem 57 anos e comemora o 1º de Maio desde que se lembra – “é uma tradição e, nos tempos que correm, não podemos adormecer”. Crítica do governo, Laura diz-se “desiludida desde já", nomeadamente com a “falta de estratégia” para fixar jovens no país.
“Precisamos de instrumentos para redistribuir riqueza, nomeadamente os lucros milionários da banca. Bem podemos escrever livros sobre a família se não damos condições para os jovens formarem família…”, lamenta.
A marcha organizada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN) avança e, na Avenida Almirante Reis, as vozes já estão afinadas em palavras de ordem como “25 abril sempre, fascismo nunca mais” ou “é urgente e necessário, o aumento dos salários”.
Diogo Machado segue a passo apressado para a Alameda Dom Afonso Henriques. Conta à Renascença que se sente “desproporcionalmente prejudicado” por ser jovem e entre todas as reivindicações destaca uma: a redução da jornada diária de trabalho.
“O que é desejável agora é reduzirmos para as 35 horas. Depois, logo vemos se faz sentido avançar para a semana de quatro dias, mas isso não pode implicar trabalhar mais duas horas por dia. A perspetiva tem sempre de ser reduzir a jornada diária”, defende.
Esta não seria a última vez que o veríamos, mas, por agora, não há tempo a perder. Os sindicatos dos professores, industriais, trabalhadores do comércio, todos começam a ver a Fonte Luminosa ao fundo. De frente para o palco da CGTP, e numa das muitas rulotes a vender bifanas, a reportagem da Renascença cruza-se com Ricardo Simões.
Sindicalizado, celebra o Dia do Trabalhador há várias décadas, mas este ano Ricardo destaca um tema diferente – a defesa da paz, nomeadamente no Médio Oriente.
“Temos de deixar um pouco essa lógica bacoca do nacionalismo e achar que darmos apoio aos trabalhadores da Palestina é uma coisa secundária. Nós temos uma ligação direta com o que se passa, principalmente no sul global. Temos de garantir que os outros também têm aquilo que nós temos”, sublinha.
A música segue e o relvado já está bem preenchido, com muitos a prepararem-se para jantar na habitual festa do 1.º de Maio. Entre as várias toalhas estendidas, voltamos a encontrar o Diogo, desta vez com a amiga Carolina ao lado. Diz-se “receosa” que o novo governo do PSD/CDS se aproxime do “mau legado” de Pedro Passos Coelho e, por isso, deixa um aviso: “não vale a pena baixar impostos se isso significar menos investimento na saúde, na habitação, nos serviços públicos”.
Uns passos ao lado e de punho no ar encontramos Luísa Silva. Pede-nos para esperar dois minutos – do palco, ouve-se “Liberdade” de Sérgio Godinho e Luísa quer cantar com os amigos. Tem 27 anos e tem ascendência brasileira e italiana.
Chegou a Portugal há cerca de uma década e atualmente faz parte de um grupo quase em “vias de extinção” em Portugal – é uma jovem professora. Por isso, sente na pele a dificuldade em arranjar casa e um trabalho estável.
“Os ordenados relação realmente são incompatíveis com um custo de vida que nos é exigido. Ficamos até muito tarde em casa dos pais. É muito custoso aceder a um trabalho digno, que não seja temporário ou precário”, remata, enquanto a festa continua e o sol já se começa a esconder atrás da Fonte Luminosa.