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1.º Maio. CGTP marca protesto em junho e exige salário mínimo de 650 euros

01 mai, 2018 - 15:52

A baixa foi o palco escolhido pela CGTP. No Largo do Intendente juntaram-se manifestantes dos Precários Inflexíveis. UGT mobilizou-se para Figueiró dos Vinhos.

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Centenas de pessoas reuniram-se, esta terça-feira à tarde, na praça do Martim Moniz, em Lisboa, para assinalar o Dia do Trabalhador e ouviram Arménio Carlos a pedir o aumento do salário mínimo para 650 euros já em 2019 e a marcar uma grande manifestação em Lisboa para o dia 9 de junho. O tradicional desfile da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) voltou a desembocar junto à Alameda. Este ano a marcha foi bastante concorrida e já na Alameda viveu-se um ambiente de festa, com muitas famílias a aproveitar o bom tempo.

Sob o lema "Lutar pelos direitos, valorizar os trabalhadores", a intersindical liderada por Arménio Carlos tem previstas manifestações, concentrações, convívios e iniciativas culturais, desportivas e lúdicas em várias cidades do país.

No seu discurso, Arménio Carlos justificou o aumento do salário mínimo para 650 euros, dizendo que os aumentos já registados têm beneficiado a economia, com a generalidade dos setores a aumentar o volume de negócios e o lucro. Deu como exemplo os sindicatos da CGTP que conseguiram assegurar os 600 euros nos seus contratos coletivos, apesar de esse valor só entrar em vigor como salário mínimo no dia 1 de janeiro, segundo o Governo. O líder sindical exige ainda as 35 horas para todos os trabalhadores e a valorização das longas carreiras contributivas, fixando a iade legal de reforma aos 65 anos, sem penalizações para quem tiver 40 anos de descontos.

"Temos de intensificar a ação e a luta em todos os locais de trabalho e fazer de maio um mês quente, um mês de luta intensa. Uma luta para a qual estamos todos convocados e que irá convergir numa grande manifestação nacional, em Lisboa, no dia 9 de junho, do Marquês de Pombal para os Restauradores", disse o líder da CGTP, Arménio Carlos.

Durante a tradicional marcha até à Alameda, Arménio Carlos conversou com representantes do PS e do Bloco de Esquerda. De Ana Catarina Mendes, dos socialistas, recebeu a garantia de que vai haver aumento do salário mínimo em 2019, isto antes de no seu próprio discurso reivindicar que esse aumento seja para 650 euros. O Governo já manifestou a intenção de aumentar, mas apenas para 600 euros.

O líder sindical concordou com a representante socialista que muito tem sido feito, mas disse que falta ainda aumentar a função pública pela primeira vez numa década. "O que queremos fazer no próximo ano é continuar o caminho da melhoria de vida dos nossos trabalhadores. Se aumentámos os rendimentos, fomos capazes de aumentar as pensões e devolver a dignidade no trabalho nos últimos dois anos e meio, no próximo ano e meio é para continuar esse trabalho", disse a dirigente socialista aos jornalistas.

Já quando a marcha passava pela sede do Bloco de Esquerda foi Catarina Martins que abordou Arménio Carlos, manifestando a sua preocupação com a precariedade.

A marcha foi feita ao som de "maio está na rua, a luta continua".

UGT no interior

Já a União Geral de Trabalhadores (UGT) centra a celebração do Dia do Trabalhador em Figueiró dos Vinhos, uma das localidades mais afetadas pelos incêndios de 2017.

Carlos Silva, da UGT, quis com esta opção enfatizar a importância de apostar no interior, uma decisão bem acolhida pelo presidente da Câmara de Figueiró, Jorge Abreu. "É um gesto bonito, assim não deixamos que saia esta situação da agenda política. Muito já foi feito, mas há muito ainda a fazer. Continuamos a apoiar as vítimas. Se voltarmos a passar por isto daqui a 8 ou 10 anos, ninguém nos vai perdoar. Para isso é necessário criar empregabilidade e fixar pessoas. Este evento vem ao encontro disso, ontem num seminário patrocinado pela UGT sobre o emprego no interior. É um princípio. Muito foi feito, mas ainda muito há a fazer."

No seu discurso, Carlos Silva disse que viver no interior "não é uma fatalidade, mas uma mais valia", desde que o Estado cumpra o seu papel e invista. O líder sindical não deixou de fazer propostas, sugerindo a isenção de IRC para empresas que se fixem no interior, criando emprego que devia ser logo com contrato sem termo. De resto, a UGT exige ainda o aumento de salários para a função pública, que não é aumentada há 10 anos.

Carlos Silva afirmou ainda que chegou o momento de ir para a rua, mas recordou que "há sempre tempo" de conquistar a paz em vez do conflito.

"Quando a via do diálogo conduz a resultado zero, então chega o momento de ir para a rua. E é isso que irá acontecer nos próximos dias", disse Carlos Silva, que sublinhou que a UGT "nunca teve receio das lutas", apesar de ter nas mesas de negociação o seu "palco preferido".

Por isso mesmo, o secretário-geral apelou ao Governo para que, em tempo útil, "consiga estabelecer compromissos" que possam satisfazer as pretensões dos trabalhadores.

"Há sempre tempo de conquistar a paz em detrimento do conflito", concluiu.


Precários reivindicam “direitos que não têm”

A associação Precários Inflexíveis assinalou o Dia do Trabalhador com uma concentração no Largo do Intendente, para "reivindicar direitos" que profissionais como bolseiros, formadores e amas "não têm".

"Os precários associam-se a esta iniciativa porque o 1.º de Maio é o dia dos trabalhadores e os precários, apesar de o serem, também são trabalhadores, que reivindicam direitos que não têm", disse Nuno Mendes, responsável dos Precários Inflexíveis, à agência Lusa.

“Apesar de ser um dia de festa, é, à semelhança de todos os outros dias do ano, um dia de reivindicação, mais assertiva até, desses direitos que faltam”, acrescentou.

Na concentração, onde foram colocadas placas com várias frases de ordem para pôr fim à precariedade, estavam também outras organizações representativas, nomeadamente de profissões com precários.

Nuno Mendes explicou que a associação Precários Inflexíveis acaba "por ter contacto com outras realidades de precariedade, até porque a precariedade é muito criativa e inventiva".

"Bolseiros é uma forma dessa precariedade. Temos também outros grupos, como formadores, amas, há todo um universo de formas de explorar trabalhadores", apontou, aludindo aos que estavam presentes no Largo do Intendente.

De acordo com o responsável, "no mundo ideal deixaria de existir necessidade" de haver associações como esta.

Porém, "acredito que isso não irá acontecer", admitiu Nuno Mendes, assegurando que os Precários Inflexíveis irão continuar, nesta e outras ocasiões, a "reivindicar não só todas as promessas do Governo, como a integração dos precários no Estado, mas também uma implementação mais justa do novo regime de descontos dos recibos verdes para a Segurança Social e outras medidas".

As comemorações deste ano do 1.º de Maio lembram os 132 anos dos acontecimentos de Chicago, que levaram à criação do Dia do Trabalhador. Naquela data foi realizada uma ação de luta pela redução da jornada de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos, que causaram a morte a dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.

[Atualizado às 19h05]

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  • Anónimo
    01 mai, 2018 20:04
    O salário mínimo devia ter sido aumentado para 600€/mês logo em 2016. E esse valor nem sequer dá para pagar um quarto em Lisboa. A geringonça é lenta.

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