18 jun, 2018 - 23:44 • Sérgio Costa
“Das war eines Weltmeisters absolut nicht würdig”. O título do “Frankfurter Allgemeine Zeitung” é uma tremenda mentira, um erro absoluto, mas compreensível porque os alemães também desesperam no jogo dos 11 contra 11 onde, afinal, nem sempre ganha a Alemanha. Note-se as reações de frustração do selecionador Joachim Low, o tal que, para além de publicamente pôr a mão onde não deve, já pôs a mão na taça.
A Alemanha, seleção campeã do mundo em título, perdeu com o México no jogo de estreia no Mundial de futebol 2018. “Surpresa”, “espanto”, “inesperado”. Não faltaram palavras para descrever o choque com a falta de resposta alemã ao golo do mexicano Lozano, o tal que, num toque subtil, deixou o cerebral Ozil sem reação para facilmente balançar as redes de Neuer. Surpreendido? Não devia. Nem deveriam ser normais as eufóricas reações, banhadas a lágrimas, dos jogadores mexicanos.
Meus caros mexicanos, não alcançaram qualquer feito excecional. É verdade. Impedir a vitória do campeão do mundo é algo absolutamente banal quando se trata do jogo de estreia no Mundial de futebol. Maradona ou Zinedine Zidane estão aí para o confirmar.
O golo de Lozano, o veloz extremo mexicano do PSV Eindhoven, não é, ainda, digno de integrar o quadro dos mais memoráveis momentos das fases finais de campeonatos do mundo, longe disso.
Lozano está ao nível de Vandenbergh, Sirakov, Omam-Biyik, Bouba Diop ou Alcaraz. Sabe quem são? Pois não saberá. São jogadores pouco acima do patamar da vulgaridade que, com pés e cabeça, escreveram um pouco da história do futebol, mas deles não se lembra a história de imediato.
Vandenbergh e Omam-Biyik têm em comum provocar, ainda hoje, pesadelos aos guarda-redes argentinos, após os jogos de abertura de 82 e 90 (Bélgica 1 - 0 Argentina e Camarões 1 - 0 Argentina). Sirakov, em 86, expôs as fragilidades de uma Itália distante da frieza de 82 (Bulgária 1 - 1 Itália).
Diop arrumou a França que, tal como Portugal, não se deu bem com a atmosfera oriental em 2002 (Senegal 1 - 0 França). Alcaraz pôs em sentido a Itália de Buffon em 2010 (Paraguai 1 - Itália 1). E ainda podemos lembrar os nulos de 1974 e 78 (Brasil 0 - 0Jugoslávia e Alemanha 0 – 0 Polónia) e o desastre da armada espanhola em 2014 que sofreu horrores com a aparição dos holandeses voadores (Holanda 5 – 1 Espanha).
A tradição mantém-se, e desde os primórdios do futebol moderno "e a cores" (ou seja, desde a década de 70) a regra é o campeão em título não ganhar no jogo de estreia. Uma regra só quebrada pelo Brasil (1998 e 2006) e pela... Alemanha (1994).
À tradição, maldita tradição dos campeões, respondeu Diego Armando Maradona em 1990. Virou costas aos festejos camaroneses e desprezou a gargalhada universal para chegar a uma final perdida... para os alemães.
"Das ist absolut eines Weltmeisters würdig", seria este o título mais acertado do “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. Já utilizou o tradutor do Google? É que no futebol são 11 contra 11 e no final ainda pode ganhar a Alemanha.