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Telescópio James Webb revela novos dados sobre o sistema solar e o surgimento de vida

04 mai, 2024 - 08:43 • Marisa Gonçalves

Astrónoma Sílvia Vicente diz à Renascença que vai ser possível perceber melhor os compostos químicos que habitam o espaço.

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As mais recentes e inéditas imagens captadas pelo Telescópio James Webb trazem novidades da nebulosa “Cabeça de Cavalo”, uma nuvem de gás frio localizada a cerca de 1.300 anos-luz da Terra.

Aos olhos da astrónoma Sílvia Vicente, investigadora no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, as imagens são surpreendentes.

“Conseguimos ver a estrela maciça, que é aquela estrela muito brilhante que está no fim da imagem. Como essa estrela dissipou todo o gás, então nós conseguimos ver uma imensidão de galáxias, que estão por detrás dessa nuvem de gás. Dado que o James Webb trabalha com infravermelhos, conseguimos ver através da poeira e para além dela. Vemos todo este gás a brilhar”, adianta à Renascença.

Para além dos detalhes preciosos das novas imagens, a investigadora diz que este é um contributo essencial para perceber como se formou o sistema solar.

“O nosso sol também se formou num ambiente destes. É muito importante perceber a composição química destas nuvens. Com o James Webb conseguimos ver gás mais frio, a formação de estrelas, as galáxias distantes e, neste caso, conseguimos determinar a composição química e a estrutura destes ambientes onde se formam estrelas como o nosso sol. É uma descoberta muito importante para a Humanidade, para sabermos como se formam os planetas, como é que a Terra tem vida e como é que adquiriu água, por exemplo”, acrescenta.

A astrónoma conta ainda que a nebulosa se situa numa região na qual a luz ultravioleta de estrelas jovens (que terão entre um e três milhões de anos) cria uma zona quente e neutra de gás e poeira.

“Todas as estrelas se formam por um processo de colapso de uma nuvem interestelar de gás e poeira. As estrelas grandes emitem muita radiação ultravioleta que vai aquecer e dissipar o gás, evaporá-lo e mudar a sua composição química”, explica.

Desta forma, vai então ser possível também saber mais sobre a composição química e as moléculas de carbono que integram as nuvens de gás desta nebulosa “Cabeça de Cavalo”.

“Já foram encontrados compostos que nunca tínhamos visto antes. Por exemplo, os compostos CH3+ ou CH+. A descoberta do CH3+ está a despoletar investigação em laboratório. Este composto tinha sido previsto, mas não se sabia que existia. É uma descoberta que está a revolucionar toda a vertente associada à química e vai ajudar a perceber a formação da vida. Estamos verdadeiramente extasiados”, confessa.

A astrónoma Sílvia Vicente vai acompanhar as próximas revelações trazidas pelo Telescópio James Webb para orientar projetos de investigação a seu cargo, no âmbito do estudo dos discos protoplanetários, onde podem formar-se planetas.

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