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Como é que os Skripal sobreviveram a uma das mais poderosas armas químicas?

06 abr, 2018 - 15:02

Especialista em toxicologia diz que chegada "muito rápida" de uma equipa médica ao local do incidente foi o que ajudou a salvar as vidas de Sergei Skripal e da sua filha Yulia. Ex-espião duplo russo já não se encontra em estado crítico.

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Sergei Skripal, o ex-espião duplo russo que foi alvo de um ataque com arma química em Salisbury, no sul de Inglaterra, está a dar mostras de melhorias. Esta sexta-feira, um dia depois de a sua filha, Yulia, ter garantido em comunicado que está a "recuperar bem", Sergei saiu do estado crítico em que se encontrava desde 4 de março, o dia em que foi exposto, com Yulia, ao agente químico Novichok.

Os especialistas chegaram a antecipar o pior, com pai e filha à beira da morte ao longo de quase um mês. Contactado pelo canal britânico Sky News, Alastair Hay, professor de toxicologia ambiental na Universidade de Leeds, diz que hoje os Skripal estão vivos e a recuperar de forma "milagrosa" muito graças à intervenção rápida dos serviços de emergência.

"Eles sobreviveram porque receberam extraordinários cuidados médicos", sublinha o especialista. "Tenho a certeza de que não teriam sobrevivido se os paramédicos não tivessem chegado ao local tão rápido quanto chegaram, o que lhes permitiu garantir que os Skripal continuavam a respirar."

Quais eram as probabilidades de sobrevivência?

Segundo Hay, se os transeuntes que viram os Skripal desmaiados num centro comercial de Salisbury não tivessem telefonado para o 112 britânico imediatamente, era possível que nem pai nem filha tivessem sobrevivido.

Apesar de persistirem questões sobre o agente químico usado no ataque, que o Reino Unido continua a atribuir à Rússia, sabe-se que ele funciona como outras armas químicas, no sentido em que está desenhado para bloquear enzimas que atuam no nosso sistema nervoso, neste caso a acetilcolinesterase. Sem intervenção rápida dos médicos, esse bloqueio provoca a contração involuntária dos músculos, levando em última instância à morte por asfixia e/ou paragem cardíaca.

"Os agentes nervosos são fatais, é por isso que são escolhidos para serem usados como armas químicas", explica Hay. "Se se estiver exposto a um determinado número de doses letais, tornam-se invariavelmente fatais. De certa forma [a recuperação do ex-espião russo e da filha] é um milagre. Um milagre e também um testemunho da qualidade do NHS [Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido]."

No rescaldo do envenenamento dos Skripal, um dos cientistas que desenvolveu o Novichok e que vive exilado nos EUA há mais de 20 anos já tinha explicado a ação do agente químico no corpo humano. "Serve para paralisar pessoas, causa convulsões e impede a respiração e depois causa a morte, se se for exposto a uma dose suficiente", declarou Vil Mirzayanov ao "Daily Mail". "É verdadeira tortura, impossível de imaginar. Mesmo em doses pequenas pode causar dores durante semanas a fio. É impossível imaginar o horror."

Na mesma entrevista, o químico russo, que chegou a ser julgado por revelar a existência deste agente nervoso após a queda da União Soviética, garantiu que "só a Rússia pode estar por trás deste ataque". Moscovo continua a rejeitar essas acusações.

O que é o Novichok?

Sabe-se que este agente tóxico foi produzido exclusivamente pela União Soviética nos anos 1970 e suspeita-se que será dez vezes mais potente que o agente nervoso VX, uma das mais letais armas químicas catalogadas pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

Craig Murray, antigo embaixador do Reino Unido no Usbequistão, diz que acompanhou a destruição de todo o Novichok armazenado pelos soviéticos após o fim da URSS. A juntar a isso, e a alimentar as dúvidas sobre como é que esta arma química entrou no Reino Unido, está o facto de, no final de 2017, a OPAQ ter comemorado a destruição de todo o arsenal químico da Rússia.

Este caso já levou à maior expulsão de diplomatas russos do Ocidente desde a Guerra Fria. Esta semana, o diretor-geral da OPAQ anunciou que os resultados dos testes às amostras de Novichok recolhidas

em Salisbury, que estão a ser analisadas a pedido do Reino Unido, deverão ser apresentados na próxima semana. "Uma vez recebidos os resultados das análises, vai ser elaborado um relatório com base nesses resultados e será enviada uma cópia do relatório aos Estados-membros" da OPAQ, informou Ahmet Üzümcü.

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