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Apoio às artes

“Os atores também são gente”. Companhia de Évora pode parar ao fim de 43 anos

04 abr, 2018 - 15:58 • Rosário Silva

Em Évora, há três companhias excluídas dos apoios estatais para o teatro, entre as quais CENDREV com 43 anos de história.

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O Centro Dramático de Évora (CENDREV) comemorou este ano 43 anos de trabalho, um percurso longo que corre o risco de ser interrompido depois de ter ficado de fora do programa de apoio da Direção Geral das Artes.

A criação artística e a formação teatral têm sido prioridades, acompanhadas pela gestão do centenário Teatro Garcia de Resende, um espaço que tem acolhido centenas de espetáculos de teatro, musica e dança produzidos por outras estruturas artísticas nacionais e estrangeiras.

À Renascença, o diretor do CENDREV não esconde a angústia perante a possibilidade de a companhia fechar as portas. “É o que está à nossa frente, é ir ali ao centro de emprego pedir o meu subsidio de desemprego, eu e os meus colegas”, diz José Russo.

No total são 13 trabalhadores que vivem um momento de incerteza face ao futuro já que o espectro do desemprego acena insistentemente à companhia que é também símbolo da cidade de Évora. “Neste momento estamos com meio salário”, refere José Russo admitindo que já “não há dinheiro para pagar o salário do próximo mês”.

Uma situação “preocupante”, sublinha, acrescida de “um empréstimo à Caixa Geral de Depósitos”, contraído, entretanto, “para darmos de comer às pessoas e às suas famílias pois os atores também são gente”.

Por estes dias os contactos desdobram-se entre agentes culturais, município e deputados. Em comum, a insatisfação com o resultado dos concursos ao programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021.

“É uma medida extremamente radical, surpreendente, incompreensiva”, acentua José Russo que pede a intervenção do primeiro-ministro para colocar um termo nesta situação.

“O Governo e o senhor primeiro-ministro tem de dedicar um pouco de atenção a esta situação e a esta medida que vem ao arrepio de tudo o que era suposto acontecer”, com consequências para “o publico que vai ser muito afetado com tudo isto”.

CENDREV não é caso único na cidade. Autarca de Évora indignado

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá (CDU), manifestou indignação pela exclusão das companhias de teatro da cidade do programa de apoio às artes, defendendo "mais de dinheiro" para o setor.

"Vimos com enorme indignação os resultados" dos concursos ao Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021, que "são provisórios, mas não indicam nada de bom", afirmou o autarca comunista.

O Centro Dramático de Évora (CENDREV), É Neste País - Associação Cultural e A Bruxa Teatro são as três companhias da cidade que foram excluídas dos apoios estatais na área do teatro.

Pinto de Sá assinalou que a ausência de apoios do Estado a estas três companhias mostra que "não há um olhar para o trabalho que tem sido feito ao nível do teatro em Évora, que é reconhecido nacional e internacionalmente".

O autarca notou também que ficou sem apoio "um conjunto vasto de companhia de teatro e projetos que estão firmados no país", considerando o cenário "muito preocupante do ponto de vista da dimensão cultural".

Nesse sentido, o presidente da Câmara de Évora manifestou a sua solidariedade às companhias e a disponibilidade do município para sensibilizar o Governo para "a necessidade se alargar o apoio às artes".

"Não queremos que sejam retirados apoios a outros agentes, mas sim que estes possam ser apoiados e isso significa dar um pouco mais de dinheiro às artes e não é muito, é um pouco mais apenas", referiu.

"Esperamos que o Governo possa retificar rapidamente a situação e encontrar a solução que passa por disponibilizar mais recursos para apoiar a cultura em Portugal e garantir a continuidade destas companhias", acrescentou.

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  • Cláudia Santos
    05 abr, 2018 Évora 18:15
    É incrível quando nos deparamos com situações emergentes como as vividas ao longo dos últimos anos pelas companhias de teatro, estás sim, que lutam de forma incessante para trazer ao público uma proximidade de história, de cultura, de convívio... Emociono-me porque sei a vivência e a lita, encimada com o caráter de quem as dirige!!! Enquanto o governo não olhar para a cultura como alicerce da sociedade...estamos mal...muito mal...
  • João Lopes
    04 abr, 2018 Viseu 20:48
    Uma cultura que não se impõe por si mesma, isto é que não atrai o povo, que é elitista, que só existe para si própria e que depende do subsídio do contribuinte, talvez não mereça existir… Diz-se que a maior parte desses artistas são membros ou simpatizantes dos partidos comunistas BE e PC.

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