17 mar, 2018 - 09:00 • Liliana Carona
Diz que é o único no país a trabalhar diariamente num tear com mais de 100 anos. O tecelão João Ferreira exerce, em Gouveia, uma profissão considerada em vias de extinção. Difícil é encontrar quem queira aprender a arte, mesmo quando se tenta inovar.
Aos 69 anos, não precisa de ir ao ginásio, com os pés nos pedais do tear e força nos braços suficiente para continuar uma arte que aprendeu ainda criança. João Ferreira é tecelão.
“Aguento bem seis horas diárias de trabalho”, revela o artesão que vive unicamente deste ofício.
“Nunca fiz mais nada na vida, o meu pai montou este tear quando nasceu a minha irmã para lhe fazer as mantas para o berço, e eu quando saía da escola primária já vinha encher canelas para ele tecer”, recorda com emoção.
O trabalho manual feito num tear com mais de cem anos faz de João Ferreira artesão único no país.
“Há muito tear, há muita gente a tecer, mas este tipo de artigo feito num tear manual, em tafetá, não vi em lado nenhum. Vendo a 30 euros o metro, faço atoalhados, panos de cozinha, sacos do pão, ainda vai dando para os copos”, conta com um sorriso no rosto.
João gostava de ensinar a arte da tecelagem. Mas ninguém quer aprender. “A primeira coisa a fazer é urdir a teia, segundo passo enrolar a teia, terceiro passo atar a teia, meter cada fio em cada malha destas, para mim não é difícil”, conta à Renascença.
O artesão natural de Gouveia, na Serra da Estrela, não esquece os ensinamentos do pai, com quem aprendeu a tratar o tear por tu, mas também procura inovar.
“Arranjei um motor de uma máquina de lavar, mandei fazer um fuso, e numa hora encho canelas para todo o dia”, conclui.
Mesmo com esta facilidade em encher canelas, não há quem queira seguir os passos a João Ferreira, que tem medo de fechar a porta de vez. “Não vejo seguidores, hoje gostam mais de computadores e telemóveis, quando fechar a porta é para ficar fechada”, lamenta o último tecelão do país.