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​A “conversão ecológica” não é uma utopia

15 mar, 2018 - 19:35 • Ângela Roque

Responsável pela CIDSE, a rede Internacional das organizações católicas para o desenvolvimento, veio a Lisboa falar da mudança que está nas mãos de todos. E elogiou a encíclica ‘Laudato Si’, por ter ajudado a perceber que a crise ecológica não está desligada da crise social e humana.

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É urgente repensar o modelo de desenvolvimento que ainda sustenta as principais sociedades ocidentais, porque está ultrapassado e só serve os interesses de uma minoria. Foi o que defendeu, em Lisboa, a secretária-geral da CIDSE, rede internacional que congrega organizações católicas que atuam nesta área.

“Temos que desconstruir este modelo que temos, que cria sofrimento e conflitos, e que está a esticar ao extremo os limites da Terra. Mas, primeiro temos de reconhecer que há um problema, que este modelo não está a funcionar”, afirmou Josianne Gauthier durante a conferência que proferiu na sede da Fundação Fé e Cooperação (FEC).

Para esta responsável, é errado pensar que “os poucos que decidem” no mundo representam a maioria. “Não é verdade”, disse. “As pessoas estão ansiosas pela mudança, estão cansadas deste estado de coisas, dos males sociais e do sofrimento de que padecemos na maioria dos países ocidentais. Temos de reagir, saber que a crise humana, social e ambiental estão ligadas, reconhecer que o sofrimento, a solidão dos mais velhos, que são colocados em lares longe das famílias, todas as gerações separadas, isolados uns dos outros, isto não é natural. Temos de voltar ao que é natural, que é estar juntos e precisar uns dos outros”, afirmou.

A experiência no seu próprio país, o Canadá, mostra-lhe que há ainda muitas ideias feitas para combater. E deu o exemplo do que se passou com a campanha que lançaram a favor dos produtos alimentares biológicos, quando uma jornalista lhe perguntou se aquilo era “só para a elite”.

“Na realidade, o modo natural de produzir alimentos é o biológico, e a maioria das pessoas na Terra que não têm acesso aos métodos mais sofisticados produzem biológico. Por isso temos de desconstruir esta ideia de que nós somos os ‘estranhos’, porque na realidade este é o modo natural de fazer as coisas”, disse ainda Josianne, que acredita que a “conversão ecológica” a que o Papa Francisco convida na ‘Laudato Si’ não é uma utopia.

Para a secretária-geral da CIDSE, que escolheu Portugal e a FEC para dar início ao ciclo de visitas que vai fazer às 18 organizações que integram esta rede, a encíclica do Papa sobre a ecologia humana contribuiu decisivamente para mudar a forma como hoje já se olha para estes problemas. “A ‘Laudato Si’ diz-nos que há uma crise humana e uma crise ecológica, e que as duas estão ligadas. E se os problemas estão ligados, então as soluções também têm de estar ligadas, não podem estar isoladas ou separadas. Isto é muito inspirador para nós”, sublinhou, reconhecendo que o documento também ajudou a mudar a forma como muitos olhavam para o que estas organizações fazem. “Há novas parcerias a ser feitas que não seriam possíveis há alguns anos”.

O trabalho das organizações católicas para o desenvolvimento vai dando frutos, mas é preciso que quem alerta para estes problemas também assuma essa luta na sua própria vida. “Temos de ser coerentes nas nossas vidas pessoais, nas nossas comunidades e países, se de facto queremos ser credíveis quando propomos um modelo diferente de desenvolvimento. Temos de começar a questionar-nos a nós próprios, e isso é difícil, mesmo para as nossas instituições - como é que aquecemos os nossos edifícios, com que tipo de energia? Incentivamos o uso de transportes públicos? Qual é a pegada ecológica das nossas instituições? Quais são as nossas medidas sociais? Somos pró-família? Isto tudo interligado”, lembrou Josianne Gauthier.

Mas, os bons exemplos existem, são cada vez mais, e alguns vão ser partilhados em abril, na Suíça, no Fórum que a CIDSE está a organizar e que vai juntar representantes de 20 organizações parceiras. “Foi difícil limitar o número de participantes por organização, porque todos querem participar nesta reflexão e ouvir os exemplos que vêm de todo o lado”, revelou esta responsável, sublinhado a importância de “ouvir as verdadeiras histórias de mudança, como estão a acontecer. Porque temos esta ideia errada de que todas as soluções surgem de decisões políticas, mas elas de facto acontecem na prática, na vida real e em sítios inesperados”.

Exemplos concretos de quem já mudou a vida por causa das suas preocupações ambientais é o que mostra o documentário ‘Histórias de Mudança’, da realizadora portuguesa Patrícia Pedrosa, lançado em 2017, e que vai ser apresentado no Fórum Social Mundial, que começou esta quinta-feira no Brasil.

O documentário e o manifesto ‘Mudar pelo Planeta, Cuidando das Pessoas – histórias de vidas sustentáveis’ foram realizados no âmbito do projeto ‘Juntos pela Mudança – ação conjunta por estilos de vida sustentáveis’, promovido pela FEC, com o apoio do Instituto Camões, em parceria com a Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade e a Rede CIDSE.

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