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Comandante da NATO. "A Rússia ainda é uma ameaça"

27 fev, 2018 - 23:23 • Ana Rodrigues

Em entrevista à Renascença, o Comandante Supremo da NATO para a Transformação, o general Denis Mercier, fala da necessidade de uma adaptação flexível e rápida das estruturas militares da Aliança Atlântica às novas ameaças e o que espera a Nato de Portugal.

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A reunião do comité militar decorre até quarta-feira no Centro de Análise Conjunta e Lições Aprendidas em Monsanto, Lisboa. Este é um comando da NATO que não é muito conhecido, mas onde se procura reunir informação de todos os aliados com missões em teatros de guerra.

Em entrevista à Renascença, o Comandante Supremo da NATO para a Transformação, o general Denis Mercier, fala do papel de Potrugal, das ameaças externas e da reorganização em curso.

Qual o motivo da escolha de Lisboa para esta visita?

Nós recebemos a visita do comité militar pelo menos uma vez por ano. Normalmente vão a Norfolk, nos EUA, que é onde está localizado o meu comando principal.

Mas eu queria fazer a visita em Lisboa desta vez, no Centro de Comando Conjunto para as Lições Aprendidas, por causa da importância deste centro. Nós estamos a recentrar a sua missão na forma como identificamos as lições dos exercícios, das operações, de toda a nossa atividade, e como aprendemos com isso.

O centro tem feito um grande trabalho, e nós temos um roteiro para implementar. Foi importante que o Comité Militar tenha podido apresentar este roteiro. Nunca tinha estado em Monsanto, por isso foi importante para mim tornar este centro visível.

Quais foram os assuntos discutidos nesta reunião?

Primeiro a apresentação do Centro de Comando Conjunto para as Lições Aprendidas, como mencionei, em segundo discutimos a adaptação do Comando Aliado de Transformação, e em terceiro discutimos alguns documentos que estamos a desenvolver para antecipar quais vão ser os desafios futuros.

E depois discutimos como estes documentos vão moldar as orientações futuras, que serão dadas aos territórios militares pelas autoridades políticas no próximo ano.

Finalmente, outro tópico importante que discutimos foi a inovação. Como podemos desenvolver uma cultura de inovação, por que motivo isso é tão importante para a NATO e qual a parte de capital humano neste projecto.

Estes foram os principais tópicos que discutimos que foram seguidos de outros temas, como a cibersegurança hoje em dia.

Diz que a NATO precisa de se adaptar. Quais são as principais ameaças de hoje?

As ameaças são imensas. Se olharmos para a história da NATO, no passado o foco inicial era a União Soviética. Tivemos de olhar para a abertura da NATO, depois para a gestão de crise de operações externas, e agora as interrogações são maiores do que antes.

Este é o maior desafio, estar preparado para lidar com uma enorme variedade de ameaças. Por isso, adaptámos a estrutura para fazer face ao ambiente atual, já complexo, mas a certeza que temos é que este ambiente vai continuar a ser desafiado.

É por esse motivo que precisamos, tal como todas as grandes organizações, incluindo as empresas que são muito bem-sucedidas, dedicar um grande esforço às operações, mas também canalizar recursos para se adaptarem a essas necessidades. É sobre isso que estamos aqui a falar.

A Rússia é uma ameaça?

Sim, não é um adversário, mas ainda é uma ameaça [a Rússia]. Porquê? Porque violou leis internacionais, e precisamos de ter isso em conta.

Mas, repito, não há só uma ameaça: temos o terrorismo, temos o uso de tecnologias por diferentes grupos de pessoas, e temos vários perigos que podem ameaçar a NATO, especialmente nas nossas fronteiras.

Por isso, precisamos de desenvolver capacidade de resposta no processo de decisão, mas também das nossas ações, de forma a garantir que podemos estancar rapidamente qualquer tipo de crise.

O que podemos esperar da transformação das estruturas de comando da NATO?

Nós não mexemos propriamente nas estruturas que existem, nós olhámos para as funcionalidades, especialmente para aquelas que são essenciais para enfrentar os desafios de hoje. A prioridade está, como eu disse, em como garantir que podemos operar e sermos adaptáveis ao mesmo tempo.

Aperfeiçoámos as responsabilidades dos dois comandos estratégicos, o Comando Aliado de Operações e o Comando Aliado de Transformação.

Segundo, alguns dos exemplos de adaptação têm a ver com a forma de garantir que, caso tenhamos múltiplas ou grandes operações, conseguimos organizar o “Movimento de Chegada, Implementação e Operacionalização (RSOI)” em todos os territórios.

Depois temos de perceber como proteger as linhas de comunicação marítimas no Atlântico, como lidar com as muito sérias ameaças cibernéticas, e como garantir que desenvolvemos uma estratégia permanente numa base 24 horas e sete dias por semana.

Coisas como estas requerem adaptação. Isso não significa que não tivéssemos nada, nós tínhamos uma estrutura de comando da NATO, que é muito relevante hoje, mas nós tínhamos que o adaptar, e, repito, ser flexíveis o suficiente para que uma adaptação rápida aos desafios do futuro.

Nesta adaptação há uma ênfase na relação entre a estrutura de comando da NATO, que é gerida pela NATO, e a estrutura de força da NATO, que são as nações.

Há que garantir uma ligação forte entre as nações, as instalações nacionais, e a estrutura de comando da NATO. Porque todos juntos conseguiremos construir arquiteturas flexíveis para fazer face a estes desafios.

Por que precisam de um comando no Atlântico?

Nós já temos um comando marítimo na NATO, que continua a ser relevante e que tem como missão monitorizar e conduzir toda as operações no espaço marítimo da NATO.

Mas no caso de termos uma crise que escale em conflito, precisaríamos de nos fortalecer com estruturas, maioritariamente vindas do continente americano, para proteger as linhas de comunicação marítimas.

Portanto, este novo comando será sediado numa ‘nação-modelo’, com alguns elementos da estrutura da NATO incluídos, e vai assumir o controlo do comando marítimo no caso de termos uma escalada de crise. Por isso precisamos de abranger não só as águas que estão no nosso território, mas também as de todo o Atlântico.

Pensa mudar a STRIKFORNATO?

As Forças de Ataque e Apoio da NATO (STRIKFORNATO) servem para facilitar a integração de forças norte-americanas nas operações da NATO. O que diria é que não vamos mudar a STRIKFORNATO, mas reforçar toda a STRIKFORNATO.

Portugal está neste momento no Afeganistão e em outros países. O que espera do país?

Portugal é um aliado que participa em todos os compromissos da NATO. O que esperamos de Portugal é o mesmo que esperamos de outras nações. Primeiro que contribua para o reforço da aliança; segundo tenha capacidades que ajudem a mitigar outras ameaças, como por exemplo, na mobilidade aérea. Sei que Portugal está a trabalhar na aquisição de aeronaves, e isso é muito importante.

Comentários
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  • Anónimo
    28 fev, 2018 21:37
    A NATO é uma ameaça maior que a Rússia e a pertença de Portugal à NATO é inconstitucional pois vai contra o artigo 7º da constituição portuguesa.
  • António Costa
    28 fev, 2018 Cacém 10:21
    Hoje na NATO (hoje!) é mais aquilo que nos divide do que aquilo que nos une. E esse é que é, o verdadeiro problema. Hoje o pacto de Varsóvia já não existe, mas as maiores ameaças reais ao "modo de vida" que conhecemos, no ocidente vem do "cavalo de Troia" chamado Turquia.

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