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​“Aqui também não!”. Voz aos refugiados que procuram o “El dorado” europeu

23 fev, 2018 - 08:19 • Rosário Silva

Monólogo vai estar em cena no Teatro Garcia Resende, em Évora, e conta história de Nujeen, uma jovem síria que foge da guerra.

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A peça “Aqui também não!” é um relato oscila entre a felicidade da expectativa na concretização de um sonho – chegar à Europa - e o confronto com uma realidade muito diferente. O desafio partiu da biblioteca da Escola Secundária André de Gouveia, em Évora, e a ocasião não podia ser mais oportuna, quando o mundo assiste, chocado, a mais uma escalada de violência no já tão degradado país como a Síria.

A proposta era a criação de um projeto para jovens sobre um tema da atualidade e que despertasse consciências. A associação cultural “Do Imaginário” aceitou o repto e desenvolveu uma peça/documentário.

“Decidimos colocar uma jovem, que vem fazer um percurso até à nossa Europa onde acha que vai ser feliz e explicar um pouco a realidade destas pessoas que não têm nada por causa da guerra”, conta à Renascença Susana Russo, da associação cultural eborense.

Antropóloga de formação, Susana vai dar vida e voz a Nujeen, uma jovem síria que foge da guerra que assola a sua cidade natal, Alepo. A personagem, fictícia, é fruto de um profundo trabalho de recolha com base em testemunhos reais de refugiados.

“Recolhemos vários testemunhos de pessoas que decidem fugir em barcos insufláveis, a sua ida até à Grécia e todo o terror por que passam neste itinerário atribulado”, conta-nos.

Durante uma hora, num monólogo, Susana Russo, encarna a jovem de 16 anos, Nujeen, que viaja com a irmã. Ambas vão juntar-se à família que já está na Alemanha. “Aqui também não!” dá mote a um relato que oscila entre a felicidade da expectativa na concretização de um sonho – chegar à Europa, e o confronto com uma realidade muito diferente.

“Afinal, chegar à Europa não é um sonho dourado”, revela Susana Russo. “É verdade que não vivem num contexto de guerra, mas a procura de um emprego, a aceitação da sua cultura ou a língua, são obstáculos a uma bem-sucedida integração”, alude.

A responsável pela associação “Do Imaginário”, que também conduz o monólogo, defensora dos direitos humanos, diz-se “chocada” com a violência dos últimos dias no enclave de Ghouta e a aparente passividade com que o mundo assiste a tudo.

“Temos, definitivamente, de acordar e ajudar a que o mundo encontre outros caminhos. Esta é também a mensagem que queremos fazer passar com esta peça”, refere a antropóloga.

A banda sonora, acompanhada de imagens projetadas, ajudam a interiorizar um testemunho que retrata na perfeição a situação de milhares de refugiados. Um desafio à interpelação que Susana Russo também sentiu: “O que leva pessoas a ir para um barco, com os seus filhos, sem condições, com um colete salva-vidas? Interrogo-me e concluo que só pode ser um pânico, incompreensível para nós”.

“Aqui também não!” vai ser apresentado durante dois dias (1 e 2 de março), em quatro sessões, em Évora. O Teatro Garcia de Resende abre as portas para receber Nujeen, a jovem síria que quer colocar a comunidade a refletir sobre o estado das civilizações.

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