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​Uma bengala que vibra e uma voz para ajudar quem não vê

21 fev, 2018 - 12:00 • Olímpia Mairos

Projecto da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro junta uma bengala, um smartphone e um sistema de visão artificial para ajudar as pessoas cegas ou com visão reduzida. A tecnologia está em fase de testes.

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Uma bengala eletrónica, um smartphone e um sistema de visão artificial querem proporcionar uma maior autonomia aos seus utilizadores. Estes objectos fazem parte de um projeto que está a ser desenvolvido por investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e promete revolucionar a vida dos invisuais.

O primeiro a experimentar o equipamento foi Diogo dos Santos, com apenas 10 anos. Gosta muito das novas tecnologias e não esconde o entusiasmo na hora em que se prepara para a aventura. De tablet ao pescoço e bengala na mão, Diogo percorre o trajeto previamente definido seguindo as indicações que lhe são dadas pelo equipamento. No final da experiência, manifesta contentamento e começa por realçar as diferenças entre a bengala branca e a eletrónica.

“A diferença desta para a normal é que esta, com os pontos que tem aqui marcados, já não bato tantas vezes nas paredes. Com a outra, tenho que ir para a frente e para trás e, às vezes, perco-me sozinho”, conta à Renascença.

A nova bengala está instrumentada com um punho (impressão 3D) que incorpora toda a eletrónica, um leitor de etiquetas de radiofrequência (RFID) e uma antena na ponta (componente que ajuda a estimar a localização do utilizador), um joystick de cinco direções para fazer o interface com a aplicação móvel, um emissor de sinais sonoros (beep), um atuador háptico (emissão de vibrações com várias durações e frequências), um transmissor Bluetooth (para comunicação com o smartphone) e uma bateria.

Para a bengala funcionar, é preciso que esta interaja com a aplicação móvel de navegação.

“O interface do utilizador é feito por voz, frases que estão na nossa base de dados, e também usa o interface áptico, por vibração. A bengala vibra para indicar que ali há alguma coisa e ele pode ouvir”, explica o investigador Hugo Fernandes.

“No futuro, espera-se que qualquer utilizador consiga configurar o nível de informação que pretende obter através do sistema, sendo que a qualidade e a quantidade são fatores de extrema relevância. Não chega dizer se existem ou não escadas num determinado edifício, é preciso informar a pessoa quantos degraus tem a escada, se existe ou não um corrimão, entre outros”, acrescenta o coordenador do projeto, o investigador João Barroso.

Isabel Claro, 35 anos, também experimentou na Universidade de Trás-os-Montes a nova ferramenta para cegos ou pessoas com visão reduzida. Ficou encantada com as potencialidades do “equipamento, que é muito bom porque dá ótimas referências para os locais”.

Em relação à outra bengala é “completamente diferente, por ter um suporte áudio e uma pessoa não se perde tanto. Diz a distância, os metros, e se é à esquerda, à direita ou em frente”, exemplifica.

Isabel Claro, que é tesoureira na delegação de Vila Real da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), considera o equipamento “um bom protótipo”, no entanto, refere que há aspetos a acertar, indicando que “falta a esquerda e a direita e o local de destino”.

Isabel, que fez a experiência nos corredores da Escola de Ciência e Tecnologia, com um tablet ao pescoço, deixa a sugestão: “Se fosse possível adaptar estas aplicações num smartphone, para andar num bolso, seria mais seguro, porque, andar na rua com um tablet ao pescoço é inseguro para nós, que não temos visão”.

Mais-valia para museus, centros comerciais ou centros históricos

O sistema contempla precisamente uma bengala, um smartphone e um sistema de visão artificial e não demorará muito a estar no mercado. “A app está pronta e é gratuita. A bengala também está pronta. Falta ajustar pequenas coisas”, garante Hugo Fernandes.

Os custos da bengala deverão “rondar os 350 euros”, estima o investigador, notando que “idealmente será adquirida pelos sítios que considerem a existência de um sistema destes uma mais-valia como museus, centros comerciais ou centros históricos”. Os edifícios a serem utilizados terão de estar previamente mapeados. Ao ar livre, o sistema funcionará como um GPS normal.

E, apesar de a nova tecnologia ainda estar em fase de testes, já há interessados na sua comercialização.

“Temos já uma empresa interessada em trabalhar connosco, candidatamos já com um município a instalação de um demonstrador destes e o nosso grande objetivo é colocar estas ferramentas ao dispor dos utilizadores e a um preço que seja acessível”, revela João Barroso.

Se tudo correr como o projetado, a nova tecnologia para invisuais deverá estar disponível dentro de quatro a cinco meses.

A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) reconheceu este projeto com o Prémio Inclusão e Literacia Digital 2015, no valor de 29 mil euros.

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