16 fev, 2018 - 16:20 • João Carlos Malta
O presidente do Fórum da Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, afirma, esta sexta-feira, em entrevista ao diário "i" que "as pessoas não querem trabalhar", declaração que ao longo dia dia tem sido difundida e replicada em quase todos os órgãos de comunicação social portugueses.
"Há falta de mão-de-obra em muitos sectores há bastante tempo. Qualquer empresa que queira contratar pessoas não consegue. [Porquê?] Porque não querem trabalhar", diz Ferraz da Costa.
Há vários anos na presidência do Fórum da Competitividade, associação sem fins lucrativos que pretende promover a competitividade em Portugal, depois de ter passado duas décadas como líder da CIP, que lhe dava o titulo de "patrão dos patrões", Ferraz da Costa, empresário da área farmacêutica, é uma das figuras de proa do patronato português. Já pensou em constituir um novo partido de direita e tem um vasto lastro de entrevistas em que fala dos temas laborais.
Noutras declarações públicas, já demonstrou ser contra a existência de um salário mínimo, desfavorável ao pagamento de indemnizações e chamou à devolução de rendimentos deste Governo “uma mentira”.
Ferraz da Costa pensa ainda que os contratos permanentes são constrangedores e que uma legislação que defenda os subqualificados “é com certeza o contrário do que precisávamos para a mudança.”
Em nove frases, conheça parte do pensamento sobre os trabalhadores e sobre o trabalho deste homem de 71 anos que, em 2005, disse que, se o país continuasse a viver como então, em dez anos estaria falido, e que o jornal económico ECO descreve como o empresário que “faz avisos quando ninguém ainda os quer ouvir”, mas que hoje pode já dizer: “Eu bem avisei”.
Os trabalhadores
Há falta de mão-de-obra em muitos sectores há bastante tempo. Qualquer empresa que queira contratar pessoas não consegue", salienta. Porquê? "Porque não querem trabalhar...
Jornal i, fevereiro de 2018
As indeminizações
Os países escandinavos – e esta informação é recente porque houve há pouco tempo uma conferência na Gulbenkian em que foram analisados os modelos sociais dos países escandinavos – não pagam indemnizações. As pessoas têm [apenas] direito a subsídios de desemprego.
Antena 1, dezembro de 2012
Salário Mínimo I
É indiscutível, mesmo que o tema não seja agradável, que se aumentarmos o SMN vamos criar mais problemas para recuperar a taxa de desemprego.
Lusa, abril de 2014
Salário Mínimo II
Um dos inconvenientes conhecidos da fixação demasiado elevada do Salário Mínimo é que isso discrimina contra os menos qualificados.
Mas admitindo que por razões políticas, e não económicas, a sociedade portuguesa ambiciona ter um Salário Mínimo. Um dos argumentos é: todos têm, também queremos ter. (É mentira. A Alemanha só tem desde 2015, a Itália não tem. Há vários países dos melhores em termos de rendimento que não têm.) Mas nessa altura dizemos: vamos discutir o salário mínimo. Quais são as condições que temos que dar a essa discussão?
Eco, fevereiro de 2017
Devolução de rendimentos
Gostava de dizer, em primeiro lugar, que a devolução de rendimentos, em boa parte, é uma mentira bem contada. Porque quem perdeu mais rendimentos em Portugal foram as centenas de milhares de pessoas que foram para o desemprego. Numa primeira fase, mantiveram uma proporção do seu rendimento anterior através do seu subsídio de desemprego, mas isso estava garantido durante um determinado período e, a partir daí, em muitos casos, tiveram de aceitar empregos com salários mais baixos do que aqueles que tinham (….)
DN, novembro de 2016
Contratos sem prazo
Os contratos permanentes são tão constrangedores na sua rigidez face a alterações de conjuntura ou do ciclo de vida dos produtos que, mesmo com incentivos para os contratos permanentes sob a forma de redução de contribuições para a Segurança Social, a realidade que vemos é a percentagem crescente de contratos temporários. E isso é mau para os trabalhadores e para as empresas. Deveríamos ter um novo contrato permanente mais flexível, cuja cessação fosse desjudicializada e portanto mais previsível quanto à decisão e mais barata em termos processuais.
Os contratos permanentes são tão constrangedores na sua rigidez face a alterações de conjuntura ou do ciclo de vida dos produtos que, mesmo com incentivos para os contratos permanentes sob a forma de redução de contribuições para a Segurança Social, a realidade que vemos é a percentagem crescente de contratos temporários. E isso é mau para os trabalhadores e para as empresas. Deveríamos ter um novo contrato permanente mais flexível, cuja cessação fosse desjudicializada e portanto mais previsível quanto à decisão e mais barata em termos processuais.
Expresso, abril de 2017
As pessoas e a verdade
As pessoas [em Portugal] têm medo do futuro e da verdade (….) se lhes dissermos que, a vivermos assim, estamos falidos dentro de 10 anos, respondem que pode ser que não e esquecem rapidamente", justifica.
Público, maio de 2005
A legislação laboral
Se fizemos uma legislação do trabalho essencialmente para defender os subqualificados em sectores em decréscimo com atiutudes defensivas isso é com certeza o contrário do que precisávamos para a mudança.
É infernal viver com esta legislação em Portugal. Todos temos responsabilidades empresariais e às vezes chegamos ao fim do dia e a nossa vontade é vender tudo e libertarmo-nos desta chatice. Dá vontade de desisitr. Está tudo organizado para ser difícil. Há investidores estrangeiros que não sei por que razão foram convidados a vir para cá.
Público, maio de 2005
A crise como justificação para os despedimentos
Nunca percebo essas acusações. Partem do princípio de que alguma empresa está interessada em ter menos pessoas do que aquelas que precisa. Não consigo perceber isso quando, na minha experiência, vejo que é tão difícil termos pessoas capazes de desempenhar as funções com qualidade. Não estamos nada interessadas que pessoas que sabem fazer bem as suas funções, saiam. É uma afirmação sem pés nem cabeça.
Isso faz parte de uma estratégia dos trabalhadores e dos sindicatos que é compreensível como forma de levantar dificuldades para chegarem a um acordo com indemnizações mais elevadas. Em Portugal, o que vai ser mais complicado é que este Governo, muito imprudentemente, restringiu a possibilidade de concessão de subsídio de desemprego a pessoas que saíssem por rescisões amigáveis.
Público, março de 2009