09 jan, 2018 - 13:22 • Olímpia Mairos
Um estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em colaboração com o Instituto da Criança na Cidade, alerta para os perigos que as crianças enfrentam no percurso casa-escola, porque os espaços das cidades não foram pensados para a sua mobilidade.
Os investigadores consideram que “nos processos de planeamento das cidades e políticas de promoção da vida saudável, há uma absoluta desconsideração pelas crianças, que estão cada vez mais sujeitas a grandes perigos nos espaços urbanos”.
“As nossas ruas e avenidas são, por norma, desenhadas para o automóvel e raramente permitem um acesso atractivo e seguro entre casa e escola”, acrescenta a arquitecta paisagista Andreia Ramos.
No que concerne à mobilidade e interacção social das crianças na cidade, a UTAD concluiu que o grau de independência das crianças “é inexistente”, e que a sua vivência é “constantemente mediada pelos adultos, gerando “receios relativamente à sua segurança pessoal e inibindo oportunidades para a descoberta e para a experiência”.
Segundo Andreia Ramos, autora do estudo, feito no âmbito do curso de mestrado em Arquitectura Paisagista, “as crianças parecem conceber a rua como o espaço do automóvel, e por isso, considera-se urgente recentrar a rua nos peões e especificamente nas crianças, para os casos dos percursos casa-escola”.
No estudo recomenda-se “maior atenção ao conceito de zonas de coexistência, o que pressupõe a partilha dos espaços urbanos por diferentes utilizadores e tipos de meios de transporte”, devendo ser dada “prioridade ao peão e outros modos de deslocação suave”, nos percursos casa-escola.
Recomenda também o estudo que haja “maior empenho na educação e sensibilização da população para a importância da mobilidade das crianças na cidade”, até porque se prova que “a grande maioria das crianças, se tivesse voz no momento da tomada de decisão sobre o seu modo de deslocação, optaria pelos modos suaves, uma escolha justificada pelo apreço pela liberdade”.
Para o arquitecto paisagista Frederico Meireles, director do mestrado, “o desenho do espaço exterior inclusivo das crianças deve ser ecologicamente correcto, esteticamente atractivo e reforçar o sentido de comunidade, o que de resto constitui o sistema de valores da arquitectura paisagista”.
O Instituto a Criança na Cidade é uma associação sem fins lucrativos, criada em 2015, que junta arquitectos, arquitectos paisagistas, educadores, professores, psicólogos, médicos, enfermeiros e advogados e quer contribuir para a construção dos alicerces que erguem o desenvolvimento integral da criança.