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Turismo da desgraça ainda persiste em Pedrógão Grande

17 dez, 2017 - 09:27

A primeira coisa que se pergunta quando há espaço para conversa com os locais é sobre os fogos. "Sinceramente, cansa", diz uma moradora da zona atingida.

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O chamado "turismo da desgraça" ainda persiste pela zona de Pedrógão Grande, mas com muito menos frequência do que nas primeiras semanas e meses após o incêndio de 17 de junho.

Na estrada 236-1, seis meses depois daqueles fogos que mataram 66 pessoas, já não há imagens de carros calcinados na estrada ou à beira dela, antes um tapete novo de alcatrão nos locais onde os veículos arderam. Apesar disso, nas bombas de gasolina de Castanheira de Pera, ainda se ouve a pergunta: 'Onde fica a estrada 236-1?'.

"Todas as semanas perguntam pela estrada", conta Francisco Calado, que trabalha no posto de abastecimento.

A uns bons quilómetros dali, já em Figueiró dos Vinhos, no café Retiro IC8, o movimento é pouco e as perguntas de pessoas de fora em torno da estrada e do incêndio já quase que não se ouvem, conta Manuela da Conceição.

No entanto, pelo café que as chamas rodearam, as conversas dos locais ainda giram em torno dos fogos. "Falam do que aconteceu e de como as coisas ficaram", disse Manuela à agência Lusa.

As perguntas em torno dos fogos ainda surgem, mas "de forma mais residual", explica Renato Antunes, gerente do restaurante da aldeia de xisto de Casal de São Simão.

Sempre que "há espaço para conversa", o primeiro assunto é em torno do fogo.

"Ainda temos gente que vem e é a primeira coisa que pergunta. Querem ouvir a história", afirma Renato, que admite que muitas vezes tenta "cortar a conversa e dizer que isso já passou, que agora é para ir para a frente".

Cansativo repetir a história

Para o gerente do restaurante, "é cansativo estar a repetir" a história e voltar a ver uma espécie de "minifilme" do que se passou.

"No verão, era mais frequente. Iam à praia e a outros locais e era mais comum passarem pela estrada", refere o ex-administrador da Praia das Rocas, em Castanheira de Pera, José Pais, sublinhando que a dimensão do que ardeu para quem entra no IC8 em direção a Pedrógão Grande "impressiona".

Também em Vila Facaia, num café ao lado da igreja, perguntas pela estrada 236-1 continuam a ser ouvidas, assim como indicações para Nodeirinho, uma das aldeias mais mediatizadas aquando do incêndio, onde várias pessoas se salvaram dentro de um tanque de água.

"Ainda hoje perguntam pela estrada e por Nodeirinho e Pobrais", conta à Lusa Vanessa Varejão, que trabalha no café.

Normalmente, explica, quem pergunta traz ajuda para as pessoas. Se no início, vinham carrinhas carregadas de bens materiais, hoje vêm oferecer a sua mão-de-obra para pequenas replantações ou reconstruções.

"Já não é com a mesma regularidade. Na primeira semana após o incêndio foi desgastante. Estavam constantemente a perguntar pela estrada", sublinha Vanessa.

Apesar de agora o ambiente ser mais calmo, também Vanessa diz que já chega de perguntas.

"Sinceramente, cansa. Isto nunca se vai esquecer, mas estão sempre a falar da mesma coisa, sempre a relembrar o que se passou e as pessoas não precisam de perguntas para se relembrarem. É impossível esquecer", sublinha a jovem de 27 anos.

Comentários
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  • António Valente
    17 dez, 2017 SINTRA 19:48
    Estou de acordo com o que escreveu o BURRO SOU EU
  • Ana
    17 dez, 2017 Lisboa 14:35
    Compreendo o q sentem os locais. Não vivi a situação, fui ver e ñ vou esquecer. Partilho a m/ experiencia nos fogos de Out. O passeio estava organizado semanas antes do incêndio. O passeio girava á volta de Caldas Felgueira. Um dos destinos era ver monumentos megalíticos da zona. Anulamos, interrogávamo-nos?E alguém decidiu. Vamos! Já está tudo dominado ñ atrapalhamos e fomos. Ñ me arrependo e penso que as pessoas q não têm contacto com o campo deveriam ver. Ñ consigo imaginar o q sentiram os locais. É de facto desolador e impensável o q vi e senti. É revoltante pensar q alguém provocou os acontecimentos e penso q é bom verem como ficou um bocado do n/ país e saber q muitas pessoas ficaram muito prejudicadas e sofredoras. Há situações q só valorizamos qd as sentimos. Eu só senti o bocadinho do q vi, e foi muito mau. Olhávamos em volta e tudo estava negro, as grandes pedras também.Ao longo da estrada as surpresas não acabavam. O silêncio magoava. Os acessos á cascata que tinha visto anos antes com vida animal e floral não existia.Ouvia-se a agua a correr mas chegar á queda de água não se conseguia Tudo ficou negro, as grandes árvores tombadas e a arder para dentro em direcção ás raízes. Tinham passado só 5 dias. Aqui e ali já se via ervas a renascer no negro do caminho. Curioso e surpreendente! Só visto! As pequenas pontes de madeira tinham desaparecido, atravessamos o riacho pelo leito para chegar ao Dólmen. Nem todos fizeram “turismo da desgraça” por prazer, ou
  • Rui
    17 dez, 2017 Castelo Branco 14:23
    É verdade... Como se diz no artigo, 'sinceramente, isto já cansa'. Eu diria que isto é um massacre dos pasquins que não se calam com o assunto. Como se isso ajudasse as famílias das vítimas... E o SAPO, sempre a bisbilhotar onde é que se fala disso para se fazer eco... grande informação!!!!
  • a RR
    17 dez, 2017 port 13:59
    Em nome do bom jornalismo e dos sentimentos daqueles que sofreram já deveria não ir na onda dos que gostam de chafurdar para silenciarem ou abafarem outras coisas importantes e boas para o país e para os portugueses sobre a economia que estamos a viver e que por isso também serve para dar ânimo a quem sofreu! Onde pára a filosofia de quem apenas pretende continuar a servir-se da desgraça dos outros?
  • continuam
    17 dez, 2017 lx 13:52
    Os media a chafurdar na desgraça!...já mete nojo esta obsessão mediatica e dos partidos da direita hipócrita!
  • Manuel Ribeiro
    17 dez, 2017 Porto 13:15
    Cansa estar sempre a ouvir estes jornalistas com historias verdadeiras e outras bem preparadas ao jeito de provocar a curiosidade. Cansa este filme preparado com musica de fundo aterrorizador. Cansa não haver autoridade que regule esta cambada que faz renascer um sofrimento ,muita dor e da forma que o fazem. O que não cansa é recordar os que partiram e orar pelas suas almas. Familiares e amigos de todos os que partiram e cá sofrem,cabe a vós exigir a esta cambada que vos tenham respeito e respeitem quem partiu. Renovo os meus sentidos pêsames
  • Alberto
    17 dez, 2017 FUNCHAL 12:02
    A moradora diz BEM : TAMBÉM JÁ CANSA OUVIR FALAR TANTO DE PEDRÓGÃO, é o PR, é a Comunicação Social, são os Partidos...parece que não há mais ninguém a precisar de ajuda neste País! Parece que mais ninguém perdeu nada, que não falta mais ninguém à mesa de Natal etc!!
  • Paulo
    17 dez, 2017 Lisboa 11:57
    Há quem faça o turismo da desgraça. Neste caso é o jornalismo da desgraça. Também cansa...
  • José Seco
    17 dez, 2017 Lisboa 11:55
    O povo continua à espera de saber os nomes das empresas e dos empresários que encomendaram os fogos. Necessitamos também de saber os nomes dos políticos que colaboram com o negócio dos fogos há muitos anos! Divulgar os nomes desta gente será resolver realmente o problema! Tudo o resto é música para entreter a tristeza e as orelhas!
  • Jose Magalhaes
    17 dez, 2017 Lisboa 11:36
    A moradora tem razão. Hoje, falar e ler sobre Pedrógão, com todo o respeito que o assunto mereceu e merece, ... já cansa, digamos mesmo que já farta,... enjoa! Mas parece que é assunto que os jornais persistem em vender, pelo menos aqueles que têm falta de repórteres criativos. ( que afinal são a maioria). Por favor, deixem de escrever no café para preencher o dia. Infelizmente, o jornalismo desta qualidade, ( que hoje não falta, ) já mete nojo. Pedrógão está evoluir, ( até positivamente mais depressa do que se imaginava) não precisa que se sirvam mais do acidente para preencher noticia. Até a Sra Cristas já compreendeu isso e já faz tempo que deixou de falar em Pedrógão.

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