11 dez, 2017 - 23:03 • Dina Soares
Os governos europeus estão a ser cúmplices da tortura e dos abusos praticados sobre milhares de refugiados e migrantes detidos na Líbia em condições desumanas. A denúncia consta de um relatório da Amnistia Internacional (AI) sobre os migrantes na Líbia, divulgado esta segunda-feira.
Segundo esta organização de direitos humanos, centenas de milhares de refugidos e migrantes encontram-se encurralados na Líbia, à mercê de grupos armados e traficantes, muitas vezes a trabalhar sem receberem qualquer salário.
John Dalhuisen, director da AI para a Europa, afirma, em comunicado, que os governos europeus estão perfeitamente conscientes desta situação, mas apoiam o governo líbio de forma a evitar que os migrantes atravessem o mar e cheguem a Europa.
Tortura, extorsão e morte
A criminalização da entrada irregular na Líbia, em conjunto com a ausência de infra-estruturas e qualquer legislação que proteja quem procura asilo, resulta em detenções em massa, arbitrárias e por períodos indefinidos.
Cerca de 20 mil pessoas encontram-se actualmente nesses centros de detenção. Entrevistados pela Amnistia Internacional, descrevem abusos, torturas, trabalhos forçados, extorsão e até mortes às mãos das autoridades, dos traficantes e dos grupos armados.
A organização dá também como provada a colaboração entre a guarda costeira líbia e os traficantes e faz notar que o aumento de capacidade da guarda costeira se deve ao apoio dos estados membros da União Europeia.
Líbia interceptou 20 mil migrantes
Este ano, esta força já interceptou e levou de regresso à Líbia 19.452 pessoas que procuravam refúgio na Europa.
A Amnistia afirma que é por isso que os governo europeus continuam a apoiar as autoridades líbias e a fechar os olhos aos abusos, uma vez que a sua principal prioridade é encerrar a rota do Mediterrâneo.
John Dalhuisen apela aos governos da Europa que repensem a sua colaboração com a Líbia, exijam o fim dos abusos, estabeleçam rotas de entrada legal dos migrantes na Europa e permitam à Agência da ONU para os Refugiados actuar sem obstáculos dentro dos campos de detenção.