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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tentar perceber

A revolução soviética

21 out, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Entre 1917 e 1989, o comunismo soviético teve grande influência política e cultural no mundo.

A revolução comunista de 1917 marcou o século XX. Ter a revolução acontecido na Rússia surpreendeu, então, muitos marxistas. Esperava-se que a revolução comunista rebentasse num país capitalista desenvolvido – na Alemanha, por exemplo.

Mas o comunismo soviético nasceu na Rússia, um país atrasado, onde a maioria da população vivia na miséria e sob a opressão dos senhores da terra.

Só em 1861 os camponeses russos foram libertados do regime de servidão. Mas tal libertação foi mais teórica do que prática. E o regime político continuou a ser autocrático, uma monarquia absoluta personalizada no todo-poderoso Czar.

Em 1917, começou por haver uma revolução liberal. Mas pouco durou. Kerensky ainda liderou durante alguns meses um executivo democrático, mas a 7 de Novembro (pelo calendário ocidental) a ala revolucionária dos socialistas russos, os bolcheviques, tomou o poder sob a orientação de Lenine.

Lenine estava refugiado na Suíça. Ora, em plena I Guerra Mundial, a Alemanha ajudou Lenine a fugir numa carruagem de comboio blindada para a Finlândia, de onde passou para a Rússia.

Os alemães esperavam que, com os bolcheviques no poder, a Rússia deixasse de fazer a guerra contra a Alemanha. E, de facto, a Rússia comunista celebrou um acordo de paz com a Alemanha em Março de 1918.

O acordo era muito desfavorável para os russos e beneficiava os alemães. Estes, porém, no final de 1918 perderam a guerra. Guerra que era extremamente impopular entre os russos, que morriam em grande número na frente de batalha. Por isso, a paz agradou aos russos e favoreceu a imagem dos bolcheviques no país.

Uma ditadura feroz

Seguiu-se na Rússia uma sangrenta guerra civil, que os bolcheviques acabaram por vencer. Essa guerra contribuiu para reforçar a ditadura soviética, que se tornaria assassina com Estaline. Mas é uma ilusão pensar que a ditadura soviética seria muito mais branda com Lenine (que morreu em 1924) ou com Trotsky, que fugiu da repressão de Estaline, acabando assassinado a mando deste no México em 1940. A chamada ditadura do proletariado era feroz e não era do proletariado.

É certo que Estaline revelou uma particular crueldade, desde logo em relação aos seus camaradas de partido, muitos dos quais prendeu, torturou e matou. Chegou mesmo a eliminar os melhores generais do seu exército pouco antes da II Guerra Mundial.

Estaline mandou matar, ou deixar morrer à fome, por doença, por trabalhos forçados, etc., muitos milhões de pessoas. Mas os campos de concentração

na URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) começaram antes dele e continuaram após a sua morte, em 1953. Não eram campos destinados a matar pessoas. Mas, na prática, acabaram por matar muita gente, dadas as horríveis condições em que se realizava o trabalho escravo dos presos.

Depois da morte de Estaline a dureza do regime soviético abrandou um pouco. E começaram a conhecer-se sucessivos factos tenebrosos do tempo do ditador.

A atracção soviética

Demorou longo tempo até ser reconhecida no Ocidente, sobretudo nos meios intelectuais, a natureza criminosa do regime soviético. Qualquer acusação à URSS era logo considerada mentira, uma infame manobra do capitalismo, uma traição à causa proletária.

Em França, pensadores como Sartre, que não era originariamente comunista, defenderam a União Soviética contra todas as evidências. O mesmo se passou, por exemplo, com Bertrand Russel na Grã-Bretanha.

O meio universitário europeu e até o norte-americano era em grande parte dominado pelo marxismo ortodoxo, isto é, soviético, nas décadas de 60 e 70 do séc. XX. Também havia dissidências no mundo comunista, a mais importante das quais na China, com Mao, que fascinou um bom número de intelectuais no Ocidente.

Curiosamente, não poucos maoístas tornaram-se, mais tarde, em ardentes defensores do capitalismo.

É consensual, hoje, que Mao submeteu o seu povo a terríveis sofrimentos, a começar pela morte à fome de dezenas de milhões a quem eram retirados bens alimentares que o PC chinês destinava à exportação.

Ilusões desfeitas

O regime soviético exerceu, também, forte atracção em países recentemente descolonizados. Os seus dirigentes viam na URSS um regime que, embora totalitário, conduzia a um rápido crescimento económico. Pois não era a URSS uma superpotência, a par com os EUA? Ou até mais desenvolvida tecnologicamente, pois colocara em órbita dois satélites antes dos americanos?

Era outra ilusão. A União Soviética colapsou porque não aguentou a corrida tecnológica com os EUA. Quando Ronald Reagan anunciou que Washington iria avançar militarmente para uma “guerra das estrelas” (coisa que ninguém sabia ao certo o que seria…), o último líder soviético, Gorbachov, percebeu que não tinha meios económicos e científicos para competir com os EUA. Em 1989 caiu o muro de Berlim.

Depois do colapso soviético, a influência cultural do comunismo e do próprio marxismo caiu a pique no mundo. Afinal, a ditadura comunista não deu liberdade aos russos, nem conseguiu aproximar-se economicamente da prosperidade capitalista. E se hoje Putin e o seu regime são pouco democráticos, pelo menos a Rússia não tem, nem quer ter, influência ideológica no globo.

A economia de mercado não floresceu na Rússia pós-comunista. O que se compreende se tivermos em conta de que os russos nunca viveram numa economia de mercado, tirando algumas zonas limitadas (à volta de S. Petersburgo, por exemplo) onde a industrialização dava os primeiros passos no início do séc. XX.

Comentários
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  • LRG
    22 out, 2017 10:39
    Francisco Sarsfield Cabral é uma pessoa pouco inteligente, pouco conhecedora, que apenas debita a cartilha que lhe ensinaram. Escreve artigos ao nível de um aluno de terceiro ciclo, que apenas lê a wikipédia ao escrever sobre os assuntos e depois acrescenta as diatribes que a direita gosta de repetir à exaustão. Banalidade pura... mas assim vai ganhando a vida...