Emissão Renascença | Ouvir Online
José Luís Nunes Martins
Opinião de José Luís Nunes Martins
A+ / A-

​O mundo não sou eu

20 out, 2017 • Opinião de José Luís Nunes Martins


O sofrimento convida à mudança no sentido de estarmos mais atentos aos outros. Contudo, a muitos apenas os torna mais distantes, frios e indiferentes. Mas como pode alguém ter paz sabendo que há outros, iguais a si, que não a têm?

A realidade é bem maior e diferente do que teimamos em acreditar. Há muita gente a morrer de fome, tal como há pessoas que dão o melhor de si ao mundo e fazem muita diferença, mesmo que ninguém lhes reconheça isso. No entanto, ninguém é imprescindível, tão-pouco nós mesmos.
A humanidade é rica em diversidade, composta por inúmeros povos que foram adaptando a vida e a sua vida às condições dos lugares onde foram construindo as suas casas. Em todo o tempo e lugar há vida. Cada um de nós é apenas uma ínfima parte deste movimento da vida que quer viver.
Alguns, no entanto, julgam-se superiores, ou pelo poder, ou pelo dinheiro, ou por outra coisa qualquer. Claro, todos temos dons que nos destacam num determinado ponto concreto, mas também temos outros pontos em que somos mais fracos do que os nossos semelhantes.
Por mais abrangente que seja a nossa consciência, quando somos tocados por uma tragédia ou ela atinge um dos nossos, tudo muda. Achamos que a realidade altera todo o seu sentido e se concentra apenas no que nos aconteceu aqui e agora. Também nos bons momentos tendemos a isolar-nos dos outros e do mundo, como se... fossemos a única coisa importante. Ou seja, raras vezes conseguimos pensar de forma adequada a nossa posição relativa no mundo e na vida.
O sofrimento convida à mudança no sentido de estarmos mais atentos aos outros. Contudo, a muitos apenas os torna mais distantes, frios e indiferentes. Mas como pode alguém ter paz sabendo que há outros, iguais a si, que não a têm?
Vivemos apenas num pequeno pedaço do mundo, mas temos inteligência suficiente para compreender que existem outros cuja vida podemos e devemos melhorar, através de gestos simples que começam por não os ignorar.
Talvez uma das piores coisas que fazemos seja não agradecermos a vida considerando que ela é má, que somos uns desgraçados e que nada mais tem importância... A verdade é que talvez o mundo fique melhor sem gente assim, que só sabe olhar para si mesmo.
Também nós somos outros, num horizonte onde existimos todos. Iguais em dignidade, mas onde quem se esquece do seu próximo a perde, por completo, apesar das aparências.
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • MASQUEGRACINHA
    20 out, 2017 TERRADOMEIO 17:39
    O último período do penúltimo parágrafo é particularmente obscuro... Refere-se a quem, em concreto? Quem são esses que não agradecem a vida considerando que ela é má, que são uns desgraçados e que nada mais tem importância, que só sabem olhar para si mesmos - sobretudo, quem é essa gente sem a qual, na verdade, talvez o mundo fique melhor? Só me ocorre que se refira aos suicidas... achando-os ingratos, piegas e egoístas? Safa...