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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Macron e a tralha federalista

29 set, 2017 • Opinião de João Ferreira do Amaral


As propostas, na sua grande maioria, não vão além dum elenco de desvarios, fruto de um federalismo extreme e desviado.

Dois dias depois das eleições alemãs, Emmanuel Macron fez o anunciado discurso sobre a sua visão do futuro da União Europeia. Ao contrário da alocução sobre o estado da União proferida há poucos dias pelo presidente da Comissão Europeia, Juncker, as propostas do presidente francês não surpreenderam. Correspondem ao que ele próprio vinha dizendo mais ou menos abertamente desde a campanha eleitoral. Infelizmente, era melhor que tivessem surpreendido.

Efectivamente as propostas de Macron, na sua grande maioria não vão além dum elenco de desvarios, fruto de um federalismo extreme e desviado que é quase tão perigoso para a paz na Europa como um qualquer nacionalismo agressivo.

Tudo começa com pompa, anunciando o novo conceito de soberania europeia, que ele, Macron considera um dos eixos fundamentais a desenvolver pelas suas propostas. Mas será que o presidente francês sabe bem o que está a dizer? Num mesmo território não podem coexistir soberanias diferentes, por definição. Se Macron quer criar uma soberania europeia está a admitir que os estados que constituem a União deixem de ser soberanos. Se fosse tomado a sério o objectivo, teríamos aqui um caminho seguro para um ou mais guerras europeias.

Mas não ficam por aqui as pérolas do discurso. A solução de Macron para qualquer problema que exista na Europa é a centralização de poder, incondicional e total, nas instituições europeias já existentes e naquelas que ele exige que sejam criadas. E assim propõe nada menos (se contei bem) que vinte e cinco (!) novas organizações e agências europeias, incluindo vinte universidades europeias. Se fosse adoptado este programa, quantas revoltas populares contra o centralismo se sucederiam, sabendo nós o que está hoje a suceder por toda a Europa? Mas temos mais: aumento de impostos, perda de lugares nacionais no Parlamento Europeu, perda da garantia de um comissário nacional na Comissão Europeia, etc..

Felizmente há pouca probabilidade das propostas passarem, mas constituem uma perda de tempo e contribuem, tal como as de Juncker para o aumento da confusão numa união que cada vez tem menos pontas por onde se lhe pegue.

Comentários
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  • Augusto Serra
    30 set, 2017 Lisboa 08:35
    Uma coisa parece unir europeistas, anti-europeistas, federalistas, etc.: o dinheiro que mandam para cá, neste ponto estão todos de acordo, nenhum deles fala em cortar os milhões de € que chegam todos os anos.
  • MASQUEGRACINHA
    29 set, 2017 TERRADOMEIO 18:42
    É como uma cegueira virulenta que rapidamente se vai instalando : nos tempos que correm, em que a cada acto eleitoral se segue um imenso suspiro de alívio por ainda não ter sido desta que "eles" lá chegaram (e, logo na Alemanha!, eles já vão metendo o pé e a perna na porta...), os nossos queridos líderes insistem em soluções que passam por... perda de soberania e ganho de burocracia! Sem antes terem resolvido ri-go-ro-sa-men-te nada do que vai afastando sem remédio os cidadãos deste acto falhado que é a UE! Se isto não é dar armas ao inimigo, se isto não é cegueira, se isto não é estupidez, não sei o que seja. É tudo tão absurdo, o abismo é de tal forma previsível... que tem que haver mão invisível na coisa, e deve ser a do costume, a reorganizar o esquema para a invasão dos robôs e dos desempregados. Como disse sobre o discurso do Junker, é cada vez mais certo que virá o dia em que apenas nos restarão as Le Pens, visionárias heroínas para salvação da Pátria e do Homem...
  • CF
    29 set, 2017 Beja 11:23
    Os nossos amigos gauleses têm uma questão recorrente de absolutismo na grande nação de Luís XIV e de Gaulle e que apesar de sucessivas revoltas, revoluções e evoluções ainda não está sublimada neste século 21. Transportar um dilema nacional, exaltação da iniciativa de uma personagem e subalternização dos sujeitos, num equívoco global, seria mais uma vez uma solução de fragilidade em particular para o edifício europeu.