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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Depois de Mossul

10 jul, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Um Estado terrorista com território parece agora adiado. Mas o terrorismo não irá cessar.

O governo do Iraque festejou ontem a tomada da cidade de Mossul, no seu território, por forças da coligação apoiada pelos EUA, cujos jactos bombardearam muitas posições do “Estado Islâmico” (EI). Estado que fora proclamado pelo líder dos terroristas em Mossul há três anos.

Raqqa, na Síria, é outra cidade capturada pelo EI, que poderá ter que abandoná-la em breve. O ameaçador projecto de um Estado abertamente terrorista – um “califado” – parece, agora, pelo menos adiado pelos radicais islâmicos.

É sem dúvida uma boa notícia a perda de território pelos jihadistas. Mas não se pode esquecer o agravamento da crise humanitária. O custo em vidas humanas da expulsão do EI de Mossul é assustador, até porque os radicais usaram civis como escudo. E grande parte da cidade está destruída.

Depois, embora com um território exíguo, o EI ainda domina algumas cidades, sobretudo na província iraquiana de Anbar. E a perda de território leva os terroristas a multiplicar atentados – a começar por Mossul, onde mulheres suicidas continuam a matar civis, e incluindo a Europa. Note-se que o EI tem “filiais” na Líbia, Egipto, Iémen, Nigéria e Filipinas.

Por outro lado, nada indica que o débil governo iraquiano possa chegar a acordo com os curdos, que controlam o Norte do país, têm sido decisivos no combate ao EI e aspiram à independência – por muito que isso incomode a Turquia.

Será que um EI sem território significativo terá menos capacidade para atrair combatentes? Não sabemos. Mas o EI mantém uma grande capacidade de fazer a sua propaganda na internet.

A paz naquela zona ainda está longe, apesar do cessar-fogo parcial no Sul da Síria negociado por Trump e Putin em Hamburgo.

Comentários
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  • António Costa
    13 jul, 2017 Cacém 11:58
    Alexandre, o "Socialismo Árabe" ou os ideais do partido Baath já não estão "em cima da Mesa". Há muito tempo. As "Primaveras dos Corvos" varreram tudo, e trouxeram apenas guerras fratricidas e destruição a esses países. No caso do Iraque os nossos "amigos americanos" jogam "triplas". Fornecem apoio aos radicais sunitas, via Turquia, aos Curdos e ao governo Iraquiano. Estão em "todas". Os sunitas iraquianos ou não, estão agora juntos ao lado dos EUA, da Arábia Saudita e Turquia contra a Síria e o Irão. O "fenómeno EI" é apenas uma luta pelo poder, um "ajuste de contas", entre radicais sunitas. Apenas isso.
  • Alexandre
    13 jul, 2017 Lisboa 09:18
    O movimento al-Naqshbandiyya, liderado pelo ex-deputado de Saddam Hussein, Izzat al-Douri, é aquele que defendia Mossul contra os aviações da coligação americana e contra os esquadrões da morte iraquiana. Ele promove os princípios do partido Baath dissolvido, embora vários de seus membros tenham se juntado a sucessivos governos iraquianos. Falhando para reunir apoio real em Anbar, Diyala e Salah ad-Din, encontrou sua base em Mossul e áreas árabes de Kirkuk. O grupo pede o derrube do novo regime por qualquer meio e o retorno à regra do partido Baath dissolvido. Um ex-oficial no exército iraquiano, o major-geral Azhar al-Ubaidi, era o governador de Mossul. Um trabalhador municipal descreveu o MCIR como administrando a cidade melhor do que o governo iraquiano, que estava "a fornecer electricidade por apenas 2 ou 3 horas por dia" e era "corrupto". Após o bombardeamento criminoso de Mossul pelos aviões americanos, a situação de Mossul é o caos e a desgraça, como já era nos tempos quando foi administrada pelo governo corrupto iraquiano de Al-Maliki.
  • Alexandre
    12 jul, 2017 Lisboa 18:45
    Afinal, o seu artigo mente como mentem toda a comunicação social influenciada pelo Império americano. A tomada de Mossul, através de bombardeamentos criminosos contra a população civil, foi uma tentativa americana de vencer um exército formado por ex-militantes do partido de Saddam Hussein. Este exército (MCIR) quase que esteve prestes a tomar Bagdade e a envergonhar o Império americano, com uma nova derrota. A tomada de Mossul, por brigadas assassinas iraquianas, ajudadas pela aviação americana, não passou de um massacre de civis. O exército dos militantes do ex-Baath vão, com toda a certeza, continuar a luta que têm mantido contra um dos governos mais corruptos deste Mundo e que continua em funções no Iraque. Assim como no Iémen, o Iraque continua a ser um verdadeiro escândalo para a humanidade e um ensaio de mentiras produzidas em cadeia pela imprensa e comunicação social a soldo dos Estados Unidos.
  • António Costa
    11 jul, 2017 Cacém 17:40
    Os patrocinadores do terrorismo islâmico continuam a pagar as contas. Grupos como o Boko Haram (Nigéria), Abu Sayyaf (Filipinas), Al-Shabab (Somália) bem como as centenas de grupos extremistas que formam a "coligação" do Estado Islâmico, continuam a receber armas e dinheiro. O que esta a acontecer é apenas uma mudança de nomes. A Jabhat al-Nusra (Frente al-Nusra) mudou para Jabhat Fatah al-Sham. E o apoio de Israel "pela porta do cavalo" aos extremistas sunitas é real. Ambulâncias israelitas que transportavam feridos do EI para Israel foram atacadas pelos Drusos no sul da Síria e os seus ocupantes mortos pela população. Ao tentar tornar a vida "super-dificil" ao Irão, apoiante de Assad, Israel acabou por formar uma coligação "não-declarada" com a Turquia e Arábia Saudita. Só que esta "Santa Aliança" é extremamente instável como se pode observar agora com a presente crise no Catar.
  • Miguel Botelho
    10 jul, 2017 Lisboa 09:17
    E quem arma o denominado «EI»? Através da imprensa alternativa e após ataques ilegais do exército israelita ao território da síria, soubemos que o IDF (exército israelita) abriga e apoia militantes do chamado Al-Nusra (ala do «EI» que combate a sul da Síria). Israel chega mesmo a tratar os feridos do «Al-Nusra» nos seus hospitais de campanha militar. Os Estados Unidos da América dizem combater o «EI», mas os seus aviões muitas vezes fornecem equipamento militar às zonas ocupadas pelo denominado «EI». E o que é o «EI», afinal? O secretário sírio das Nações Unidas já explicou que os terroristas que lutam na Síria fazem parte de cerca de dois mil grupos paramilitares. Todos estes combatentes ou mercenários são pagos mensalmente em dólares e são apoiados por países, como a Turquia, Qatar, Arábia Saudita, Jordânia, Israel e os próprios Estados Unidos da América. Qual o objectivo desta luta? A deposição do presidente sírio, Assad, com via a construção de um gazoduto desde o Médio Oriente até à Europa.