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Vaticano

Jubileu 2025: Papa Francisco vai à prisão abrir uma Porta Santa

09 mai, 2024 - 15:14 • Aura Miguel

“A esperança não engana” é o título da Bula de proclamação do Jubileu do Ano 2025, assinada pelo Papa e divulgada esta quinta-feira. No documento Francisco lembra a “falta de paz”, pede uma atenção especial aos presos e desafia as nações mais ricas a perdoarem as dívidas dos países mais pobres.

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“A esperança não engana” (Spes non confundit) é o título da Bula de proclamação do Jubileu 2025, o próximo Ano Santo que a Igreja vai assinalar. A Bula foi assinada pelo Papa Francisco e divulgada esta quinta-feira. Na apresentação solene, presidida pelo Santo Padre na Basílica de São Pedro, foram lidos vários excertos deste documento que, logo nas primeiras palavras, deseja “a quantos lerem esta Carta, que a esperança lhes encha o coração”.

Segundo uma antiga tradição, o Papa deve proclamar um Jubileu a cada 25 anos. Desta vez, o objetivo é “reanimar a esperança”, porque "muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo para o futuro, como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade”, escreve Francisco.

A Bula papal traça um percurso com várias etapas que aprofundam o tema da esperança à luz da realidade atual, e onde se recorda que o conceito de peregrinação é um elemento fundamental de todo o evento jubilar. “Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida”, escreve o Papa que convida “os peregrinos da esperança” a visitarem, não só as basílicas romanas, mas as igrejas jubilares nas suas dioceses. Francisco deseja que todos estes lugares possam ser “oásis de espiritualidade onde é possível restaurar o caminho da fé e saciar-se nas fontes da esperança, a começar pelo sacramento da Reconciliação, ponto de partida insubstituível de um verdadeiro caminho de conversão”.

Uma esperança concreta e não ideológica

Francisco identifica um elenco de realidades difíceis como a falta de paz “num mundo imerso na tragédia da guerra”, a falta de abertura à vida e “preocupante baixa da natalidade”. Neste contexto, apela à necessidade de “uma aliança social em prol da esperança, que seja inclusiva e não ideológica e trabalhe por um futuro marcado pelo sorriso de tantos meninos e meninas que, em muitas partes do mundo, venham encher os demasiados berços vazios”.

Entre tantos sinais concretos que este ano jubilar deve desencadear para com os doentes, os idosos, os jovens, os migrantes, os exilados, os deslocados, os refugiados e os “milhares de milhões de pobres”, o Papa pede uma especial atenção aos presos. Francisco propõe aos governos que tomem iniciativas que restituam esperança aos reclusos, através de “formas de amnistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade” e ainda “percursos de reinserção na comunidade, aos quais corresponda um compromisso concreto de cumprir as leis”.

O incentivo do Papa alarga-se também aos fiéis e aos seus pastores, que devem formar “uma só voz que peça corajosamente condições dignas para quem está recluso, respeito pelos direitos humanos e, sobretudo, a abolição da pena de morte, uma medida inadmissível para a fé cristã que aniquila qualquer esperança de perdão e renovação.”

Como sinal concreto de proximidade para com os prisioneiros, Francisco anuncia que irá a uma prisão abrir uma Porta Santa, como “um símbolo que os convida a olhar o futuro com esperança e renovado compromisso de vida”.

“Tenham um rebate de consciência”

A Bula do Jubileu 2025 inclui um conjunto de apelos a favor da esperança. O Papa pede generosidade “a quem possui riquezas, que reconheça o rosto dos irmãos em necessidade” e chama a atenção para os que sofrem de carência de água e alimentação: "a fome é uma chaga escandalosa no corpo da nossa humanidade e convida todos a um rebate de consciência”.

Francisco também confronta as nações mais ricas e propõe que, durante o Ano Jubilar, reconheçam “a gravidade de muitas decisões tomadas e estabeleçam o perdão das dívidas dos países que nunca poderão pagá-las”. Cumprindo uma tradição jubilar, o Santo Padre deixa o convite: “Se queremos verdadeiramente preparar no mundo a senda da paz, empenhemo-nos em remediar as causas remotas das injustiças, reformulemos as dívidas injustas e insolventes e saciemos os famintos”.

Unidade dos cristãos e indulgências

Este Jubileu de 2025 coincide com os 1700 anos da celebração do primeiro grande Concílio ecuménico de Niceia, cuja missão foi a “preservar a unidade, então seriamente ameaçada”. Francisco recorda que foi nesse Concílio que se tratou de definir a data da Páscoa e que ainda hoje existem posições diferentes, que impedem a celebração deste evento no mesmo dia. No entanto, “por uma circunstância providencial”, a mesma Páscoa vai coincidir no mesmo domingo, precisamente no ano de 2025. “Que isto seja um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade em torno de uma data comum para a Páscoa”, escreve o Papa.

A Bula “A esperança não engana” esclarece os objetivos das Indulgências jubilares, incentiva à reconciliação sacramental, que “não é apenas uma estupenda oportunidade espiritual, mas representa um passo decisivo, essencial e indispensável no caminho de fé de cada um”. O Santo Padre garante que “não há modo melhor de conhecer a Deus do que deixar-se reconciliar por Ele, saboreando o seu perdão”.

Por fim, o Papa renova o seu apelo para que os “Missionários da Misericórdia”, por ele instituídos no último Jubileu extraordinário, continuem a sua missão e “exerçam o seu ministério também durante o próximo Jubileu, restituindo esperança e perdoando todas as vezes que um pecador se dirija a eles de coração aberto e espírito arrependido”.

A Bula do Jubileu 2025 revela as datas principais das celebrações deste Ano Santo: o Papa abrirá a Porta Santa da basílica de São Pedro a 24 de dezembro de 2024; no domingo seguinte, a 29 de dezembro de 2024, abrirá a Porta Santa de São João de Latrão; a 1 de janeiro de 2025, será aberta a Porta Santa da basílica de Santa Maria Maior; e, no domingo 5 de janeiro de 2025, será vez da Porta Santa da basílica de São Paulo Fora dos Muros. O Santo Padre também estabelece que, no domingo 29 de dezembro de 2024, “em todas as catedrais e co-catedrais, os Bispos diocesanos celebrem a Santa Missa como abertura solene do Ano Jubilar”. Por fim, o Jubileu terminará com o encerramento da Porta Santa da basílica de São Pedro, na solenidade da Epifania do Senhor, a dia 6 de janeiro de 2026.

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