28 abr, 2017
O Brexit, a crescente contestação em relação às instituições comunitárias e as eleições francesas levaram muitos políticos e comentadores a intitularem-se “cosmopolitas” por oposição aos “nacionalistas”, tentando dividir a preto e branco algo que é muito mais complexo porque tem a ver com afectos básicos.
Ligado com esta questão, tem surgido o tema do patriotismo, acotovelando-se os cosmopolitas na pressa de bradar, como se fosse uma grande novidade, que ser patriota não é necessariamente ser nacionalista. Estou inteiramente de acordo e, se me é permitida uma referência pessoal, tenho a consciência de no passado não ter sido dos menos empenhados em defender isso mesmo. Nada a discordar aqui, portanto.
Mas onde há desacordo, e muito, é com a tentativa inadmissível de arrumar como nacionalistas todos os que não são cosmopolitas.
Conheço muitos exemplos, a começar por mim próprio, de não cosmopolitas que também não são nacionalistas.
O cosmopolita é aquele que considera que o mundo é a sua pátria. No meu caso não considero o mundo, nem sequer a Europa, como sendo a minha pátria. A minha pátria é Portugal. Mas não sou xenófobo nem adiro a nenhuma forma de nacionalismo.
Portanto, autodenominados cosmopolitas, não queiram imitar o simplismo que muito justamente criticam nos movimentos nacionalistas. Até porque poderão cair num terreno movediço.
É que se tomarmos como definição de cosmopolita a da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira como sendo aquele que “proclama não ter pátria e se considera cidadão do mundo”, então o cosmopolita, por definição, não é um patriota.