28 abr, 2017
Finalmente, parece que vai avançar a tão reclamada auditoria independente à Caixa Geral de Depósitos. A EY (antiga Ernst & Young), uma empresa de serviços financeiros presente em 150 países, irá analisar, em 15 semanas, a gestão da CGD entre 2000 e 2015. O Governo tinha aprovado a auditoria há dez meses, mas as trapalhadas quanto à administração da CGD atrasaram o processo – que, aliás, ainda não se iniciou.
A CGD é, desde a sua fundação em 1876, um banco do Estado. E assim deve continuar, até porque é a única maneira séria de evitar que toda a banca actuando em Portugal seja dirigida por estrangeiros. Disse-o na altura (2002) em que o “manifesto dos 40” veio reclamar protecção para os centros nacionais de decisão empresarial.
O ministro Centeno já avançou um problema na gestão da CGD: uma deficiente gestão de risco. Mas as suspeitas quanto à CGD envolvem o eventual favorecimento de interesses particulares, incluindo interesses político-partidários. Ora, se for por aí, um banco do Estado atraiçoa a sua vocação e a sua razão de ser.
Esperemos que a auditoria conclua se houve, ou não, concessão de créditos a “amigos”, em detrimento de empresas merecedoras do financiamento. Por exemplo, confirma-se ou não que a CGD emprestou dinheiro a pessoas envolvidas na luta pelo poder no BCP para comprarem acções deste banco? Um facto é público: o então presidente da CGD, Santos Ferreira, e um seu administrador, Armando Vara, passaram directamente para, respectivamente, presidente e administrador do BCP, o principal concorrente da Caixa.
A auditoria da EY deverá, também, investigar a aquisição e a alienação de activos da CGD, bem como as decisões estratégicas dos negócios. Aguardemos, portanto. Todos nós, contribuintes, temos o direito de conhecer os motivos que levaram a CGD a perder tanto do nosso dinheiro.