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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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O medo não ganhou em França

24 abr, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Ontem, Marine Le Pen não teve a vitória estrondosa que muitos previam. Os franceses mostraram maturidade.

Contra o que muitos esperavam e outros (como eu) receavam, os franceses não cederam ao medo, mesmo depois do atentado em Paris na quinta-feira. Foram votar, não se registando uma abstenção significativa. E Marine Le Pen, que jogou com o medo para obter votos, ficou atrás de Macron. Uma decepção para Trump, para Putin e sobretudo para o chamado “Estado Islâmico”, que pretende extremar o conflito dos europeus com os muçulmanos.

Perderam as forças da direita conservadora e da esquerda socialista. O panorama partidário francês sai desta votação profundamente alterado. A mudança veio pela mão de Macron, de 39 anos, alguém que nunca fora eleito, apenas fora ministro dois anos. Macron apresentou-se como o candidato do optimismo, num país em declínio e em depressão psicológica.

Falta ganhar a segunda volta, mas M. Le Pen não tem simpatizantes fora do seu partido em escala comparável aos que já se declararam por Macron. Curiosamente, dos principais candidatos derrotados apenas Mélenchon, de extrema-esquerda, não apelou ao voto em Macron, contra Le Pen, na segunda volta. Os extremos tocam-se, estão mais próximos do que parecem.

Vão enfrentar-se nestes quinze dias duas concepções opostas sobre o futuro da França.

Do lado da populista Le Pen, um país fechado, receoso da globalização, hostil aos imigrantes (sobretudo islâmicos) e à Europa, e com medo da Alemanha. Do lado do centrista e europeísta Macron, uma aposta positiva na capacidade dos franceses para vencerem no mundo de hoje, muito diferente do de ontem.

Se, como é provável, Macron for Presidente de França, precisará de um apoio alargado na Assembleia Nacional. As eleições legislativas serão em Junho. O movimento lançado por Macron há um ano já chegou mais longe do que se esperava mas, para ser eficaz, terá de ultrapassar mais esta dificuldade: ganhar as legislativas.


P. S. Um comentário assinado por Mário Silva diz o seguinte: “Foi devido à passagem de Francisco Sarsfield Cabral no jornal «Público» que houve perseguições a jornalistas de esquerda. Sarsfield Cabral foi responsável na época posterior a Vicente Jorge Silva a vários despedimentos, devido à ideologia dos jornalistas. Como não eram da cor política de Sarsfield Cabral, tiveram de sair.”

É uma total falsidade. Fui director daquele jornal durante três meses, entre Dezembro de 1997 e Março de 1998, sucedendo a Nicolau Santos. Não houve qualquer despedimento durante a minha curta passagem como director.

Comentários
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  • Mike
    25 abr, 2017 Lagos 10:10
    A era do Populismo e do disparate parece estar a chegar ao fim. Espero que venha aí o bom senso. Gostei do artigo,obrigado.
  • MASQUEGRACINHA
    24 abr, 2017 TERRADOMEIO 21:20
    Como é possível não ver o gritante facto de que quase metade da França votou pela saída da UE?!!! Se em vez de eleições, fosse um referendo, já se sabia qual o muito provável resultado. Mesmo ganhando o Macron, com o voto útil no mal menor, contra factos não há argumentos: metade do país, independentemente de serem de extrema direita ou esquerda, não quer estar na UE - e não vejo que milagre de Macron vá alterar isso, a não ser para pior ainda. Parece-me tudo francamente assustador. O que é que há para festejar?
  • maria
    24 abr, 2017 lisboa 19:59
    gosto de o ouvir na RR e de ler as suas cronicas, obrigada
  • jorge m
    24 abr, 2017 coimbra 19:45
    Então eu pensava que o sr. Sarsf... era de direita mas enganei-me. Ele é do centrão - caldeirão da social democracia. Pois, agora estão todos contra a Pen o que prova que ela é a única anti-sistema.
  • antonio
    24 abr, 2017 lisboa 18:10
    Com o devido respeito, "maturidade" democrática precisa o senhor.
  • MASQUEGRACINHA
    24 abr, 2017 TERRADOMEIO 16:59
    Salvo o devido respeito, enquanto as análises forem destas, a abanar a árvore para esconder a floresta, não vamos a lado nenhum - ou, melhor, vamos deslizando para o buraco. A grande maioria das pessoas que vota nos extremos não o faz por medo - fá-lo por protesto contra a UE, ou mesmo porque querem definitivamente que os seus países saiam da UE. Aliás, não é esse carácter anti-UE (anti ESTA UE) a única coisa que têm ideologicamente em comum? É, deveras, forçar a nota supor que quem vota em Mélenchon o faça por medo. O medo, esses medos, são exclusivo da Le Pen. E pronto, suspira-se de alívio, dão-se palmadinhas nas costas aos "sem medo", soma-se e segue-se na mesma, cinco anos é tanto tempo... Se a UE não deixar de ser o ninho de burocratas míopes e incompetentes, lobistas, arrogantes e (sim!) nacionalistas à la Junker que é, nas próximas eleições a Le Pen ganha folgada, à primeira volta. Até um cego vê que a guerra está quase perdida, mas vão-se festejando as batalhas ganhas. É imbecil, mas é assim que é. O Macron é o mal-menor de serviço, o leite de soja nem-nem que todos podem beber, dados os tropeções do Fillon e a desunião reinante. O PS francês, de tanto nem-nem, lá se foi, fazer companhia aos trabalhistas e ao PSOE e ao PASOK e ao... - pois se é para serem como os outros, mais vale o artigo genuíno ou o extremar de posições. Até nisso o nosso Costa remou contra a maré... ainda vamos vender bilhetes para o museu dos últimos PC e PS europeus. Não é medo : é asco à UE.
  • Justus
    24 abr, 2017 Espinho 15:41
    Dizia eu há dias, a propósito do texto de S. Cabral "uma campanha surpreendente" que queria ver o que ele iria escrever após sabermos os resultados eleitorais em França. Pois bem, aqui está ele, igual a si próprio e com um título que diz tudo: " O medo não ganhou em França". Eu vejo precisamente o contrário, ou seja, o medo ganhou em França. Os eleitores tiveram medo dos extremos e das incertezas. Ao incerto preferiram o certo, deram a sua voz à continuidade. Bem ou mal eles lá sabem, porque são eles os principais interessados. Venceu a democracia agora e vencerá também na 2ª volta. Venceu na França, como venceu nos EUA, como venceu na Rússia, como venceu na Turquia, como venceu em todos os países que têm eleições livres e democráticas. Se bem que "liberdade e "democracia" não têm o mesmo sentido nem o mesmo interesse para todos. Para S. Cabral a liberdade e democracia são aquilo que ele pensa e sempre pensou, ponto final. Se, por mera hipótese, os candidatos da extrema direita e da extrema esquerda tivessem passado à 2ª volta nas eleições francesas teríamos, quase de certeza, S. Cabral a insurgir-se dizendo: foi pelo medo e não pela democracia que estes senhores ganharam as eleições. E, no entanto, o sistema eleitoral francês é democrático. É por isso que, para S. Cabral, Trump é o que é. Apenas e tão só porque ele expulsa das salas e ridiculariza os jornalistas e fazedores de opinião. A era destes chegou ao fim e ainda bem porque o mundo vai ser, indubitavelmente, melhor.
  • antonio rocha
    24 abr, 2017 ilhavo 15:03
    Está enganado meu caro Francisco. O medo está cada vez mais vitorioso. mesmo com o mundo contra ela, a Sr.ª Le Pen terá cerca de 40% na segunda volta. Se os partidos tradicionais mantiverem o status quo, ao Brexit e ao Sr. Trump, outros se seguirão. Há uns míseros 5 anos atrás, a Srª Le Pen nem à 2ª volta foi. Estas viragens são como os petroleiros, demoram, mas chegam, para mal de todos nós.
  • Alberto
    24 abr, 2017 cascais 14:35
    Ó Sr. Silva...! Do Sr. Cabral, espera-se tudo! O macron que sem o "r" e com uma cedilha logo atrás é o maçon é o preferido do Cabral pois ambos começam com um "c" . O Sr. Cabral é um artista portugu^rs. Sabe tudo, com aquela grave superficialidade dos nossos actuais patrões: esquerda conservadora, direita socialista, estado islâmico, populismo, Putin e claro o Trump que lhe põe o coração como uma verdadeira trampa. Mas agora com o maçon-perdão!- o macron de serviço, o cabral suspira de alívio!
  • Alexandre
    24 abr, 2017 Lisboa 14:32
    Não, António Costa. Se eu quiser saber as opiniões próximas da Igreja Católica portuguesa, venho à Renascença e se eu quiser saber a opinião de um ex-director do jornal «Público» que foi o responsável pelo saneamento político de uma parte dos jornalistas afectos à esquerda, venho a esta coluna de opinião de Francisco Sarsfield Cabral.