24 abr, 2017
Contra o que muitos esperavam e outros (como eu) receavam, os franceses não cederam ao medo, mesmo depois do atentado em Paris na quinta-feira. Foram votar, não se registando uma abstenção significativa. E Marine Le Pen, que jogou com o medo para obter votos, ficou atrás de Macron. Uma decepção para Trump, para Putin e sobretudo para o chamado “Estado Islâmico”, que pretende extremar o conflito dos europeus com os muçulmanos.
Perderam as forças da direita conservadora e da esquerda socialista. O panorama partidário francês sai desta votação profundamente alterado. A mudança veio pela mão de Macron, de 39 anos, alguém que nunca fora eleito, apenas fora ministro dois anos. Macron apresentou-se como o candidato do optimismo, num país em declínio e em depressão psicológica.
Falta ganhar a segunda volta, mas M. Le Pen não tem simpatizantes fora do seu partido em escala comparável aos que já se declararam por Macron. Curiosamente, dos principais candidatos derrotados apenas Mélenchon, de extrema-esquerda, não apelou ao voto em Macron, contra Le Pen, na segunda volta. Os extremos tocam-se, estão mais próximos do que parecem.
Vão enfrentar-se nestes quinze dias duas concepções opostas sobre o futuro da França.
Do lado da populista Le Pen, um país fechado, receoso da globalização, hostil aos imigrantes (sobretudo islâmicos) e à Europa, e com medo da Alemanha. Do lado do centrista e europeísta Macron, uma aposta positiva na capacidade dos franceses para vencerem no mundo de hoje, muito diferente do de ontem.
Se, como é provável, Macron for Presidente de França, precisará de um apoio alargado na Assembleia Nacional. As eleições legislativas serão em Junho. O movimento lançado por Macron há um ano já chegou mais longe do que se esperava mas, para ser eficaz, terá de ultrapassar mais esta dificuldade: ganhar as legislativas.
P. S. Um comentário assinado por Mário Silva diz o seguinte: “Foi devido à passagem de Francisco Sarsfield Cabral no jornal «Público» que houve perseguições a jornalistas de esquerda. Sarsfield Cabral foi responsável na época posterior a Vicente Jorge Silva a vários despedimentos, devido à ideologia dos jornalistas. Como não eram da cor política de Sarsfield Cabral, tiveram de sair.”
É uma total falsidade. Fui director daquele jornal durante três meses, entre Dezembro de 1997 e Março de 1998, sucedendo a Nicolau Santos. Não houve qualquer despedimento durante a minha curta passagem como director.