22 abr, 2017
Em 1911, quando a economia americana era dominada por riquíssimos empresários pouco dados à livre concorrência, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos dividiu a maior petrolífera mundial, a Standard Oil, de John Rockefeller, em 34 empresas de menor dimensão. A Standard Oil possuía no fim do século XIX 90% das refinarias existentes em solo americano. Essa posição quase monopolista permitia à empresa cobrar preços altos pelos derivados de petróleo que vendia, o que incomodava a opinião pública americana.
Daí a corajosa decisão do Supremo dos EUA, que trouxe concorrência ao sector. A competição em mercado livre é frequentemente uma bandeira dos empresários, sobretudo quando enfrentam ameaças de nacionalização. Mas, na prática, muitos gestores e empresários gostam da concorrência apenas se e quando ela não os afecta a eles.
Assim prejudicam os consumidores e não só. Embora possa parecer estranho, uma empresa protegida da concorrência enfraquece, porque perde o estímulo para melhorar, aumentar a produtividade, tratar melhor os clientes, reduzir custos, inovar, etc. Por isso a concorrência deve ser imposta pelo poder político em nome da economia de mercado.
Vantagens da não concorrência
Decerto que as muito grandes empresas também oferecem vantagens. Serem menos pressionadas pela competição de empresas rivais permite-lhes gerir a longo prazo. Certos investimentos, em inovação por exemplo, só muitos anos depois de realizados começam a dar frutos. Daí que só se concretizem quando a empresa não está aflita com a concorrência.
Por outro lado, a grande dimensão da empresa permite as chamadas “economias de escala”, isto é, a redução nos custos por unidade quando se produzem centenas ou milhares de artigos por dia. Outro argumento favorável às grandes empresas é o de que uma empresa que atingiu uma considerável dimensão não deve ser punida pelo seu êxito.
Estas ideias levaram alguns economistas, nomeadamente da chamada Escola de Chicago (de que Milton Friedman foi o mais conhecido expoente), a mostrarem uma certa tolerância quanto às grandes empresas e a práticas quase monopolistas. Em consequência, abrandou nos EUA o zelo anti monopólio da parte das autoridades. A novidade, agora, é trazida pelo semanário britânico The Economist (também ele um defensor do livre mercado): a Universidade de Chicago, a campeã da iniciativa privada e da liberdade económica, organizou um colóquio sobre… os perigos que os monopólios representam para a economia americana. O vento mudou.
Menos competição empresarial nos EUA
E mudou porque os factos recentes mostram que a competição empresarial está a diminuir nos EUA, prejudicando a eficiência económica americana. A concentração de empresas acentuou-se nos últimos tempos, multiplicando-se as fusões e sobretudo a compra de empresas pequenas e médias (PME) pelas grandes – vejam-se as inúmeras aquisições da Apple, da Microsoft e de outras empresas tecnológicas, por exemplo. Dois terços dos sectores empresariais dos EUA são hoje mais concentrados do que eram nos anos 70 do séc. XX. Entretanto, o número de novas PME a entrar no mercado está ao nível mais baixo desde essa altura.
A concentração empresarial proporciona altos lucros às empresas que se mantém no mercado, lucros a um nível excepcionalmente elevado em proporção do PIB. E que muitas vezes não são investidos produtivamente.
A regulação da concorrência “amoleceu”, em parte porque muitos reguladores foram “capturados” pelos interesses dos gestores e empresários das grandes empresas. Note-se que, em conjunto, as empresas americanas gastam em “lobbying” qualquer coisa como 3 mil milhões de dólares por ano…
Em resultado de tudo isto, os preços cobrados por empresas americanas que nos EUA não têm concorrência de importações são mais de 50 por cento superiores aos preços praticados noutros países desenvolvidos.
Será que as autoridades americanas vão voltar ao seu antigo rigor quanto à concorrência? Trump e a sua equipa de magnates não ajudarão, pelo contrário. Mas, a médio prazo, a pressão da opinião pública poderá alterar as coisas.