27 mar, 2017
Hong Kong, onde vivem mais de 7 milhões de pessoas, elegeu ontem a nova chefe do executivo daquele território autónomo da China. “Elegeu” não é a palavra certa: Carrie Lam foi escolhida por 777 votos num restrito comité de 1200 membros, os quais foram por sua vez nomeados por um conjunto de personalidades locais e por um quarto do eleitorado total de Hong Kong. Até os candidatos ao cargo de líder político do território têm de ser previamente aprovados por aquele comité.
Este complicado sistema tem apenas um objectivo: garantir que o governo de Pequim seja quem, de facto, designa o chefe do executivo de Hong Kong, não obstante ter sido previsto o sufrágio universal quando a administração do território passou da Grã-Bretanha para a China em 1997.
A aspiração democrática é forte em Hong Kong, em grande parte por influência britânica. Em 2014, os protestos contra a interferência de Pequim em Hong Kong duraram 79 dias – sem resultados visíveis.
Pelo contrário, em Macau, que transitou da administração portuguesa para a chinesa em 1999, a população de pouco mais de meio milhão de habitantes não mostrou grande interesse pela democracia política.
Aliás, antes e depois do 25 de Abril quem mandava realmente em Macau era a China, que por várias vezes obrigou os representantes portugueses a recuos humilhantes.
Em Janeiro, o Presidente chinês, Xi Jinping, foi ao fórum de Davos defender o comércio livre contra o proteccionismo, ou seja, contra Trump já eleito. Mas em matéria de direitos e liberdades, a começar pelos direitos políticos, Xi Jinping é mais repressivo, ainda, do que os seus antecessores. Por isso, não é de esperar qualquer avanço democrático em Hong Kong.
O que põe em causa o princípio “um país, dois sistemas”, que teoricamente se aplica a Hong Kong e Macau, bem como a Taiwan (Formosa). Só que a ficção quanto a Taiwan não é a democracia, que ali funciona e é estimada pelos seus 24 milhões de habitantes, mas a pertença à República Popular da China.