24 mar, 2017
Os portugueses continuam à espera de uma auditoria independente à Caixa Geral de Depósitos, que indique os motivos de tanto dinheiro dos contribuintes ter sido perdido pelo banco público no passado recente. Negócios falhados, crédito malparado, influências políticas – tudo isso mais tarde ou mais cedo deve ser esclarecido.
Entretanto, sobre o crédito malparado da CGD Helena Garrido, uma destacada analista da nossa vida económica e financeira, levantou no “Observador” uma questão pertinente, que eu ainda não tinha visto referida.
O cálculo das imparidades (perdas prováveis) da CGD mudou. Ao contrário do critério de avaliação usado para a banca portuguesa até há pouco (assente na continuidade do negócio), na CGD agora avaliaram-se as imparidades como se os créditos malparados tivessem de ser vendidos de imediato. Claro que isto fez subir o montante do malparado na CGD.
O que tem as suas vantagens, ao limpar de vez o passado. E, como escreve H. Garrido, “precisando a CGD de um aumento de capital, então o melhor é elevar esse valor ao máximo possível”, para não ter de repetir o processo.
Mas há aqui um risco sério. Explica H. Garrido: “a desvalorização excessiva dos créditos gera margem para os devedores pagarem muito menos do que aquilo que devem e para as empresas que compram crédito malparado fazerem bons negócios”. E até pode acontecer que um eventual “banco mau” possa ter lucros ao vender créditos da CGD a preço superior ao preço que pagou pela sua aquisição. Isto à custa de todos nós, contribuintes.
Esperemos que a administração da CGD e o Governo não cedam a essas tentações. O alerta de Helena Garrido contribui para estarmos atentos a este perigo.