Vivemos num mundo estranho. Por vezes julgamos que os outros são todos felizes e os únicos desgraçados no mundo somos nós!
A vontade de não desiludir, nem incomodar ninguém, leva-nos a não partilhar as nossas angústias e desesperos. Esboçamos o sorriso que parece ser obrigatório e sofremos sozinhos.
A nossa cultura é uma espécie de ditadura de um otimismo ridículo. Ninguém parece estar disposto a ouvir histórias reais e tristes da boca de outra pessoa. É melhor escutá-las na televisão ou vê-las na internet, onde sempre se pode virar a cara, mudar de canal ou mudar a página e passar a dar atenção a algo mais animador.
Mesmo quando alguém nos pergunta como estamos, nunca devemos responder com honestidade, pois arriscamo-nos a que nos virem as costas de imediato. Desde cedo aprendemos que estas perguntas são feitas, mas não são para serem respondidas.
Há quem tenha muitos amigos só porque nunca os importunou.
Hoje também se dá muito valor àquilo a que chamam criatividade e desobediência. Depois, com hipocrisia, a ninguém se perdoa que vá contra o pensamento da multidão ou que ouse sequer violar uma das leis da opinião geral, que mudam mais depressa do que qualquer outra moda... embora sejam preconceitos mais entranhados do que os piores vícios.
Um resumo simples do que nos é exigido: parecer sempre bem, por pior que nos sintamos; sorriso na cara para agradar a todos e não incomodar ninguém; ser ousado e desobediente, mas apenas de acordo com as normas e inúmeros modelos que existem disso e dos limites da moda do momento.
Face a este contexto, é importante e urgente que tenhamos a coragem de ser autênticos, de sermos homens e mulheres de carne e osso, com alegrias e tristezas, cheios de graças e de desgraças. Dispondo-nos a ser metade de um abraço para os que querem ser como nós: verdadeiros.
(ilustração de Carlos Ribeiro)