Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Mudar as palavras

26 jul, 2016 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Existem cativações no Orçamento deste ano, isto é, despesas públicas que poderão não ser concretizadas. Se tal acontecer, como tudo indica, teremos mais austeridade, embora sem esse nome.

Quando os políticos não querem fazer reformas ou tomar medidas impopulares, recorrem frequentemente a mudar as palavras, como se tal representasse qualquer alteração séria. Exemplo disso, que já aqui mencionei, foi a “extinção” da PIDE por Marcello Caetano, passando a chamar-lhe Direcção Geral de Segurança (DGS).

António Costa tem vindo a proclamar insistentemente o fim da austeridade. Virou-se a página da austeridade, repete Costa. Mas existem cativações no Orçamento deste ano, isto é, despesas públicas que poderão não ser concretizadas. Se tal acontecer, como tudo indica, teremos mais austeridade, embora sem esse nome.

Um problema adicional é que o discurso do fim da austeridade incentivou as famílias a consumirem mais, até porque muitas têm mais dinheiro nos bolsos. Pela primeira vez desde que há registos, no primeiro trimestre de 2016 a poupança das famílias portuguesas foi negativa. Mas nem por isso a economia cresceu, pelo contrário: o crescimento económico abrandou. Cresceram as importações, com reflexos negativos nas contas externas.

Mudar as palavras também tem um preço.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Francisco Almeida
    26 jul, 2016 Marinhais 17:17
    A PIDE tinha um estatuto autónomo e orçamento independente. Ao transformar a PIDE em DGS Marcello Caetano sujeitou-a, como qualquer outra Direcção-Geral à disciplina do Min.das Finanças e ao escrutínio do Tribunal de Contas com reflexo imediato no "saco azul" de onde saíam os pagamentos a informadores. Parece-me uma alteração séria e não uma mera mudança de palavras.
  • Ueshiba
    26 jul, 2016 Viseu 15:35
    De acordo com o essencial. No entanto, um reparo: as cativações sempre existiram e existirão, não são exclusivo deste orçamento.
  • António Costa
    26 jul, 2016 Cacém 11:30
    "...mudar as palavras, como se tal representasse qualquer alteração séria..." muito bem visto, só que, há também "o outro lado". Utilizar e chamar por palavras "bonitas" aquilo que não é nada "bonito". Como una colega sua já disse, ter Medo de chamar as coisas pelo nome. Isso, também não representa " qualquer alteração séria". No 1ª caso temos "reformas de fachada". No 2º caso reformas prementes e necessárias não são realizadas, porque "não é preciso".
  • Luis
    26 jul, 2016 Lisboa 11:03
    Nós, já há muito que conhecemos muito bem o teu trinar. Não passas de uma ave canora com um canto demasiado conhecido.