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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​Mais trapalhadas no Eurogrupo

28 abr, 2016 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Os ministros das Finanças descobriram que estabelecer objectivos de redução do défice estrutural é confuso.

Ao que parece o Eurogrupo, ou seja, o conjunto de ministros das Finanças dos Estados-membros da Zona Euro, descobriu agora que estabelecer objectivos de redução do défice em termos de défice estrutural é confuso. Mas isso já toda a gente sabia e não se entende como é que o Eurogrupo deixa passar anos antes de tomar consciência de algo que era evidente logo desde o princípio da vigência do tratado orçamental.

De facto, o conceito de défice estrutural tal como, aliás, o de produto potencial com que se relaciona, são conceitos extremamente subjectivos e prestam-se, quando são considerados como indicadores de referência, às maiores manipulações, incompatíveis com a transparência das análises sobre as contas públicas dos estados europeus que toda a burocracia comunitária apregoa mas raramente pratica.

Ao que parece, está em estudo, para substituir aquele critério, a possibilidade de os objectivos de contenção orçamental serem definidos apenas em termos de despesa pública.

Se tal vier a ser o caso é mais uma ingerência inaceitável do Eurogrupo nas decisões de cada Estado. Pode fazer sentido exigir alguma contenção orçamental numa zona monetária porque o facto da moeda ser única faz repercutir desequilíbrios gerados num país nas economias dos outros. Isto sem prejuízo da contenção definida no tratado orçamental ser absurda pois é inexequível e ao mesmo tempo impede a recuperação europeia. Mas exigir alguma contenção orçamental é exigir que o défice público (o verdadeiro défice não essa aberração que é o défice estrutural) não ultrapasse um valor razoável tendo em conta as necessidades de crescimento de cada estado membro.

Não faz nenhum sentido, porque deixa de ter racionalidade económica exigir que a contenção orçamental seja aferida por objectivos de despesa. Para o mesmo défice, a opção de ter mais ou menos despesa com, respectivamente, mais ou menos impostos é uma decisão nacional. E o facto do Eurogrupo se querer meter nessa opção não é mais que uma opção ideológica ultraconservadora que deve ser rejeitada.

Comentários
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  • José Ferreira da Sil
    29 abr, 2016 Gaia 10:30
    Acho que tem toda a razão e bem explicado . O Eurogrupo anda à deriva e perdeu o norte. A essencia é que quando Portugal ( e os outros paises ) aderiramà então CEE , o objetivo galvanizador das populações era viver melhor . Os Portugueses queriam viver como os franceses alemães ou suecos e isso esta a ser esquecido e não é mais o objetivo desta UE . Devemos sinceramente questionar -nos se ainda vale a pena a UE .
  • JP
    29 abr, 2016 Lisboa 09:32
    Este sr demonstra a lucidez que falta a muita gente alguns deles possivelmente até fazem parte da folha de pagamentos do Panamá. Para quando a divulgação do nome dos artistas?. Será que vai prescrever no esquecimento?
  • João Aguiar
    29 abr, 2016 Lx 06:46
    Utopia ou irresponsabilidade? Primeiro fora do euro e depois, certamente, fora da UE seriamos presa fácil de utopias e extremismos, sem o escrutinio da Europa, orgulhosamente sós outra vez.
  • Carlos Silva
    28 abr, 2016 Lisboa 22:04
    Se o dinheiro que nos emprestam é dos contribuintes europeus é normal que os ministros das finanças imponham regras que visam proteger os seus contribuintes, não podemos aumentar as nossas despesas sem regras e depois pedir mais dinheiro emprestado. A solidariedade tem de funcionar nos dois sentidos e não apenas pedir solidariedade só para nós.
  • Manuel
    28 abr, 2016 Porto 20:45
    Este Senhor quando fala diz tudo no sítio. É de facto uma autoridade em assuntos económicos. Pena é ser tão pouco solicitado pelas televisões para falar sobre os graves problemas que nos assolam. O que se vê todos os dias são pessoas sem qualquer conhecimento cientifico que falam que falam por que “acham“ que é assim.
  • Tony
    28 abr, 2016 Lisboa 18:58
    Parabéns Eng. penso que teremos ter criar a brigada das bofetadas e dar umas saludares das ditas, a estes maganos
  • 28 abr, 2016 17:33
    quem é este joão amaral ? por amor de Deus ...............
  • skwxq
    28 abr, 2016 ghturm 15:01
    Caro Dr. João Ferreira do Amaral, parece que se instalou em Bruxelas o regime da burocracia centralizada que gosta de mandar nos países. Obrigado por erguer a sua voz em defesa de Portugal.
  • 28 abr, 2016 14:54
    É uma sorte ter um PORTUGUES assim!!!