Fernando J. Regateiro
Opinião de Fernando J. Regateiro
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Carne e seus derivados - saber comer!

29 out, 2015 • Opinião de Fernando J. Regateiro


Não posso mais comer umas fatias de presunto? Certamente que sim, com moderação, de vez em quando! A regra para uma alimentação saudável continua a ser a diversificação, alternar carne com peixe, evitar sal em excesso, evitar tostados em excesso e incluir legumes e frutas em abundância, diariamente, nas diversas refeições.

A Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) acaba de divulgar, com data de 26 de Outubro, as conclusões de um relatório em que os produtos de carne processada (como sejam os “cachorros quentes”, as salsichas, a linguiça, o “bacon” ou o presunto) passam a fazer parte da lista restrita de substâncias carcinogénicas para humanos (Grupo I) e a carne vermelha do grupo das substâncias com probabilidade de serem carcinogénicas (Grupo 2A).

A inclusão da carne processada no Grupo I (onde já estão o fumo do tabaco, o álcool de bebidas alcoólicas, o amianto, ou o fumo de motores a “diesel”) significa que foi encontrada suficiente evidência de que, em seres humanos, o consumo de carne processada causa cancro colo-rectal. A inclusão da carne vermelha no Grupo 2A traduz evidência limitada para a possibilidade de causar cancro, tendo a associação do seu consumo sido registada sobretudo para o cancro do cólon e, com menos força, para o cancro do pâncreas e da próstata.

As decisões da IARC são tomadas tendo em conta a melhor evidência científica. Para isso, reúne toda a informação disponível e estabelece um grupo de trabalho constituído pelos melhores peritos da área em avaliação. E são estes peritos que avaliam a literatura científica existente e, em função da evidência científica e de forma independente, elaboram as conclusões. No caso da classificação da carne vermelha e da carne processada, foram identificados e recolhidos mais de 800 trabalhos científicos que associam o seu consumo a mais de uma dúzia de tipos de cancro, em populações de múltiplos países e com dietas alimentares diversas. E foram 22 os peritos, oriundos de 10 países, que os analisaram e integraram a informação recolhida.

Sejamos claros - a classificação agora atribuída à carne processada permite continuar a dizer que o risco para cancro do cólon, num indivíduo que a consuma, é pequeno. Contudo, o risco aumenta com o aumento da quantidade de carne consumida - cada porção de 50 gramas de carne processada comida diariamente, aumentará em 18% o risco para cancro do cólon. A classificação reporta um risco individual acrescido e releva um problema de saúde pública, face ao número elevado de pessoas que consome carne.

E agora, que fazer? Não posso mais comer umas fatias de presunto? Certamente que sim, com moderação, de vez em quando! A regra para uma alimentação saudável continua a ser a diversificação, alternar carne com peixe, evitar sal em excesso, evitar tostados em excesso e incluir legumes e frutas em abundância, diariamente, nas diversas refeições.

Para as entidades públicas ligadas à saúde fica a obrigação de continuarem a afazer avaliações de risco adicionais. Porque o risco maior ou menor para cancro, nestes casos, não tem a ver com um único produto, mas com dietas desequilibradas.

Para o Estado, mas também para cada cidadão, fica também o dever de investir na educação para uma alimentação saudável e para estilos de vida saudáveis!

Comentários
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  • Judite Forte
    29 out, 2015 Lisboa 13:34
    Artigo que reflete a sapiência de quem o escreve....