17 mai, 2024 - 06:00 • Sandra Afonso , Arsénio Reis
António Mendonça assumiu a pasta das Obras Públicas, Transportes e Comunicações no segundo governo de José Sócrates e, tal como os seus antecessores e sucessores, também ele queimou pestanas com o dossier do novo aeroporto de Lisboa.
Agora, admite na Renascença ter sido surpreendido com a rapidez de Luís Montenegro: "ultrapassou as minhas expectativas".
"Foi uma boa decisão", falta agora saber como vai ser a execução, "é o desafio que o Governo tem pela frente e é muito difícil", sublinha.
Mendonça também lembra que "é a quarta vez que é tomada uma decisão" sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa. "Já tinha sido tomada uma decisão nos anos 70, na Ota, depois foi mudada para Alcochete e agora foi novamente confirmada Alcochete". O economista espera "que daqui a alguns anos não estejamos novamente a tomar uma decisão". Destaca, desta vez, "as manifestações (de apoio) dos diferentes partidos" e quer "ser otimista". Diz acreditar que agora "o processo vai para a frente".
Nesta entrevista ao programa Dúvidas Públicas, António Mendonça lembra que já foi perdido muito tempo neste processo. O ex-ministro já nem contabiliza os 50 anos que demorou a decisão até hoje, mas os 14 anos perdidos desde que foi decidido construir em Alcochete. "Pelo menos é visível que perdemos já 14 anos. Já podíamos ter ligações a Madrid, já podíamos ter um novo aeroporto, já podíamos ter muita coisa e não temos!"
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Uma consequência deste atraso é a forte concorrência que chega agora de Espanha, "que também tem um projeto de desenvolvimento do aeroporto que permite chegar até perto de 100 milhões de passageiros/ano e a constituição de um hub. Já é, mas vai-se transformar ainda mais num dos maiores aeroportos da Europa, com vocação para articular diferentes zonas do mundo", conclui.
Por tudo isto, é preciso acelerar os projetos, e António Mendonça admite que não entende "o número dos 10 anos", o prazo apresentado pelo primeiro-ministro Luis Montenegro para dar como concluída a construção do novo aeroporto, o "Luís de Camões".
O ex-ministro das Obras Públicas acrescenta ainda que "quando estava em funções, por aquilo que diziam os técnicos, era possível 5 anos, 6 anos". Dá ainda como exemplo o aeroporto de Istambul, construído recentemente em cerca de 5 anos.
O economista sugere ainda "uma construção por módulos", que comece pelo essencial, como a pista e equipamentos de apoio. Não é necessário esperar pela conclusão do projeto para ter o aeroporto a funcionar.
António Mendonça reconhece que hoje há novas variáveis que é preciso ter em consideração, como os franceses da Vinci, que têm a concessão dos aeroportos e com quem o Governo terá de negociar. Mas também sublinha que o interesse nacional deverá ter sempre primazia.
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"Eu tenho o maior respeito pela Vinci. Concorreram, ganharam, têm a concessão e temos de respeitar os acordos que foram feitos. Mas, atenção, há o interesse público acima, o interesse da Vinci não coincide necessariamente com o interesse público, mais geral", explica.
Em termos práticos, o Bastonário da Ordem dos Economistas diz ainda que há formas de reduzir custos e prazos, não se pode “desperdiçar tempo”. "Devíamos estar já a trabalhar no projeto", por outro lado, "não faz sentido estar mais um ano a estudar a parte ambiental que está mais que estudada", pelo que reforça a necessidade de ser "prático, objetivo, pragmático".
Defende ainda a criação de um grupo de trabalho, técnico, para gerir o projcto, que é também uma forma de retirar os políticos e a ideologia da empreitada.
Outra forma de reduzir custos e agilizar procedimentos é através da centralização dos serviços da Administração Central. Uma medida que já teria impacto em projetos como o novo aeroporto de lisboa.
O economista admite ainda que é possível construir o novo aeroporto sem recorrer ao bolso dos contribuintes, como prometeu Luís Montenegro. É uma questão de gestão, diz.
São excertos da entrevista do Bastonário dos Economistas e ex-ministro das Obras Públicas, António Mendonça, à Renascença, onde fala ainda da situação das finanças públicas, de juros e das eleições europeias, entre outros temas. O programa Dúvidas Públicas é transmitido sábado, depois das notícias do meio dia, e fica depois disponível online e em podcast.