15 fev, 2018
No primeiro governo de Guterres, após dez anos de Cavaco Silva ser primeiro-ministro, uma das medidas mais badaladas foi a aposta no caminho de ferro. A ideia era que Cavaco tinha investido demais no betão (autoestradas) e desprezado o transporte de pessoas e mercadorias por via ferroviária. Depois, tudo correu ao contrário. Portugal tornou-se no país europeu com maior densidade de autoestradas e com menor utilização do caminho de ferro – este, de 3.608 quilómetros há trinta anos passou para 2546 quilómetros hoje. É o único país da Europa onde número de quilómetros de autoestrada ultrapassa o de linhas férreas.
O Público da passada terça-feira divulgou uma elucidativa reportagem de Carlos Cipriano sobre o caminho de ferro em Portugal. “Já nos anos 60 os planos de investimento ferroviários não eram cumpridos. Na história da democracia raro foi o governo que não resistiu a apresentar o seu plano para os caminhos de ferro, sem que, no entanto, o tenha executado”. Estranha alergia esta aos comboios, que também se manifestou no fecho de inúmeras linhas no interior, por falta de passageiros. E a alegada modernização da linha do Norte (Lisboa-Porto) prolongou-se ao longo de vinte anos, custou uma fortuna, mas não permite, em certos troços, altas velocidades. Um escândalo de desperdício, muito pouco investigado. Entretanto, linhas que em tempos foram modernas e lucrativas estão hoje em perigosa decadência, como a linha Lisboa-Cascais.
O presente governo segue a tradição. Segundo o Público, o plano deste governo para a ferrovia só avançou 79 quilómetros em dois anos, num total de 528 que deviam estar em obras. Só 15% das obras previstas têm obras no terreno. Apenas a linha do Minho está verdadeiramente a ser modernizada, entre Nine e Viana do Castelo (43 quilómetros). Atrasos em estudos, empreiteiros incapazes, demora do visto do Tribunal de Contas e muitos outros motivos são invocados pelo governo para esta bizarra situação. Aceitem, ao menos, um conselho: não façam mais promessas. É que o sistemático incumprimento do prometido leva, naturalmente, as pessoas a não terem qualquer confiança no que dizem os governantes.